A leitura é um processo complexo. Envolve focar uma secção escrita, controlar o movimento ocular, interpretar a forma dos símbolos gráficos convencionais em letras, transformar as letras em sons, traduzir os grupos de letras em sílabas e as mesmas em palavras, processar as palavras em significado, fundir o significado individual das palavras em frases e seguir o significado sequencial de frases para conferir uma interpretação. É extraordinário como parece fácil uma vez adquirido!

Apesar da maioria das crianças realizar a aprendizagem da leitura sem grande esforço, existe uma significativa percentagem que manifesta dificuldades inesperadas e persistentes.

Antes da aprendizagem formal da leitura na escola a maioria das crianças beneficiam de experiências que promovem a literacia. Durante cinco anos,  aprenderam naturalmente a usar as formas orais da linguagem (ouvir e falar). Fizeram várias descobertas linguísticas enquanto jogaram, exploraram e comunicaram com os outros por vocalizações, gestos, palavras e frases. Rapidamente adicionaram novas palavras ao seu repertório oral.

Entretanto, as formas escritas da linguagem (ler e escrever) estão a desenvolver-se em paralelo. Sem serem capazes de ler, muitas crianças dominam os princípios (sabem que a palavra impressa tem um significado) e convenções do material impresso (reconhecem que a leitura se faz da esquerda para a direita, de cima para baixo e da capa do livro até ao seu término). Fazem-no quando simulam a leitura, quando escrevem os seus nomes nos desenhos ou quando utilizam a escrita de “faz de conta” nas suas brincadeiras.

Ao cantar, ao compreender as rimas e ao inventar outras, a criança adquire a noção de que a linguagem é formada por pequenas unidades fonológicas - fonemas e sílabas – que podem ser isoladas e manipuladas. Esta consciência conduzirá ao sucesso na leitura e na escrita.

Com efeito, a investigação tem demonstrado que o melhor preditor para determinar uma criança em risco de desenvolver Dislexia é a consciência fonológica. Neste sentido, para interpretar o código escrito, é necessário tornar consciente e explícito o que na linguagem oral era um processo natural e implícito.

Será a automatização da leitura que permitirá à criança compreender o que lê e, posteriormente, ler para aprender. Contrariamente, a criança com Dislexia não é capaz de realizar esta automatização. Se esta não existe, a criança recorre a demasiado esforço na descodificação e no entendimento das palavras individualmente, restando poucos recursos para a compreensão.

De facto, ler é compreender as mensagens escritas e, neste sentido, o ensino deve ter em atenção todas as competências específicas desta capacidade.

Carla de Menezes Cohen
Psicóloga Educacional & Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação

Tânia Capaz
Professora de Educação Especial

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