O stresse é uma emoção, algo que sentimos. «Uma situação não tem de ser por si só stressante. A forma como a criança a interpreta é que pode realmente torná-la stressante», explica Alcina Rosa, psicóloga, que indica quadros que podem ser geradores de ansiedade na infância, como ambientes familiares difíceis (divórcios e lutos, por exemplo), pais com personalidades instáveis ou a necessidade de corresponder às expetativas na escola, tanto no que toca à aprendizagem como no relacionamento com os colegas.

«Outro fator que gera muita ansiedade», acrescenta, «é conseguir corresponder às expetativas dos pais, principalmente quando estes são muito exigentes com o sucesso dos filhos». E, à semelhança do que acontece noutras áreas, neste campo os progenitores têm grandes responsabilidades.

«Cada vez mais as crianças assistem a comportamentos stressados dos pais, em que perdem a cabeça, mandam coisas ao chão ou gritam muito. A nossa própria maneira de lidar com o stresse passa a ser um modelo que eles aprendem muito rapidamente», assegura a especialista.

O impacto no presente e no futuro

Fatores como um teste, a entrada para uma nova equipa de futebol ou a ida a uma festa onde estão pessoas que desconhece podem ser fonte de stresse. No entanto, trata-se de um stresse normal e pontual que, com a ajuda e orientação dos pais, é facilmente ultrapassado, indica o U.S. Department of Health and Human Services. Contudo, como explica o mesmo organismo, a exposição continuada a situações adversas, como um mau ambiente familiar, torna-se tóxica.

A criança não sabe como lidar com este tipo de situação e os níveis de hormonas do stresse mantêm-se elevados durante um longo período de tempo (semanas, meses ou até anos) e podem resultar em marcas permanentes no seu desenvolvimento. Viver em stresse na infância pode, assim, deixar marcas profundas na criança e comprometer o adulto saudável que desejamos que os nossos filhos se tornem, diz-nos Alcina Rosa.

«A criança deve aprender a lidar com as situações que fazem parte da vida de uma forma saudável. Se tal não acontecer, poderá vir a tornar-se uma pessoa insegura, com fraca autoestima, assustada e ansiosa, vulnerável, tímida e com níveis de autocontrolo muito baixo. Os medos podem tornar-se obsessões e evoluir até para fobias», conclui.

Como atuar

Uma criança sob stresse apresenta uma série de alterações no seu comportamento. Se os pais desconfiarem que o filho está a passar por isso devem «tentar perceber quais poderão ser as causas, conversando com ele e tentando que ele lhe diga o que se passa, fazendo perguntas simples e abertas», aconselha a especialista. «Como os mais pequenos têm dificuldade em verbalizar o que lhes acontece, os pais podem recorrer a histórias com que se possam relacionar, sem ter de procurar imediatamente ajuda especializada».

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O plano B

Se os sintomas persistirem, aconselha Alcina Rosa, podem tentar perceber se as alterações de comportamento ou queixas acontecem apenas no contexto familiar ou também na escola. Se tiverem uma boa relação com o professor, é importante apurar se nota que o seu filho está diferente e, em função disso, agir.

O passo seguinte implica confiar nas suas capacidades para, em conjunto com a criança, desenvolver uma estratégia para ultrapassar o problema. «Se o quadro se mantiver, ou a criança ainda for muito nova e não conseguir verbalizar situações e emoções, pode procurar ajuda junto de um médico ou de um psicólogo», sugere.

Sabia que o stresse é uma reação do nosso organismo face a uma situação difícil ou desconhecida que requer uma resposta da nossa parte e afeta o nosso habitual bem-estar? Leva a alterações psicológicas e fisiológicas, entre elas um estado de alerta redobrado, batimento cardíaco acelerado, subida da pressão arterial e alterações dos níveis hormonais

O seu filho está stressado?

Estes são os comportamentos que deve avaliar para o tentar perceber:

A nível comportamental

- Chora mais ou mantem-se isolado (numa criança habitualmente mais passiva).

- Revela maior agressividade, insolência, medo ou irritabilidade.

- Apresenta comportamentos manipuladores.

- Inclui no discurso frases recorrentes que apontam para desvalorização pessoal ou inveja de outras crianças.

- Não quer ir para a escola.

A nível físico

- Revela alterações no sono (dormir mais ou menos).

- Revela alterações do apetite (comer demasiado ou muito pouco).

- Tem dores de barriga e/ou de cabeça.

- Tem taquicardia.

- Sente vómitos.

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Como ajudar o seu filho em cinco passos

Para auxiliar o seu filho, siga os conselhos de Alcina Rosa, psicóloga:

1. Nunca lhe negue a legitimidade daquilo que ele sente. Em vez de dizer «Não deves ter medo», optar por dizer «Está bem, tens medo, mas tens de enfrentá-lo» e ajudá-lo a contextualizar o que sente e a desenvolver uma estratégia para ultrapassar a situação.

2. Ensine-o a lidar com o sucesso e o insucesso. Felicite-o sempre que conseguiu algo e deseje que assim continue. No caso do insucesso, como reprovar o ano, por exemplo, deve conversar com ele e tentar que consiga identificar as razões pelas quais o ano não correu bem, mostrar-lhe que, no futuro, pode melhorar os resultados, corrigindo os erros que cometeu.

3. Incentive-o a praticar exercício físico de forma espontânea. Ter aulas de karaté, de futebol ou de ballet depois da escola pode ser stressante, porque envolve muitas instruções e implica o cumprimento de regras. Nada como também andar simplesmente de bicicleta, saltar à corda ou dar pontapés numa bola para libertar tensões.

4. Explique como pode relaxar. Respirar fundo várias vezes quando se sente nervoso ou assustado e contar até 10 (ou 20 ou 30…) é uma excelente técnica de relaxamento. Ensiná-lo a cerrar os punhos com força, abrindo de seguida as mãos e repetir o gesto algumas vezes é também uma boa forma de aliviar tensão.

5. Proporcione rotinas saudáveis. Dormir horas suficientes e cultivar hábitos de higiene do sono e/ou preferir atividades relaxantes como a leitura de um livro aos videojogos, por exemplo, é essencial para o bem-estar dos mais pequenos. As refeições e a realização dos trabalhos de casa também devem ser devidamente incluídas na rotina diária, sem pressas.

Texto: Paula Barroso com Alcina Rosa (psicóloga)