As crianças preparam-se para regressar às aulas e é fundamental que o façam com saúde. Saiba como prevenir e tratar as afeções e doenças mais prevalentes no regresso à escola.

Chegam no regresso às aulas sem pedirem licença e representam grandes dores de cabeça para os pais.

Fala-se de infeções respiratórias, como constipações e gripe, e de afeções como a gastroenterite ou contágio por piolhos (pediculose). A emergência de viroses respiratórias, em particular, tem uma prevalência significativa nas estações do outono e do inverno.

Assim sendo, «é fundamental que os pais transmitam aos seus filhos noções de prevenção, para evitar as constipações e o contágio por gripe», alerta Álvaro Birne, pediatra. Mas nem só de problemas vulgares se fala este ano. A preocupação com o contágio da gripe A é, atualmente, uma constante, estando pais e profissionais de saúde em alerta máximo para evitar a expansão da doença, sublinha Fátima Moscoso, pediatra do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa.

As escolas e as creches são locais de risco caso aumente a incidência de casos de gripe A, sendo especialmente importante proteger as crianças que têm doenças crónicas pulmonares, como por exemplo, asma, doenças crónicas cardíacas, renais, hepáticas, hematológicas, neurológicas, neuromusculares, doenças metabólicas, incluindo diabetes e déficites imunitários.

Constipação

É a mais frequente e mais inocente das infeções respiratórias. A sua prevalência aumenta no inverno não só porque os vírus têm maior capacidade de se multiplicar no clima frio e húmido, mas também porque o contacto entre as crianças nas escolas favorece a passagem dos vírus de uma criança para outra, através da respiração.

Esta infeção provoca sintomas de pouca gravidade, nomeadamente nariz entupido, com mais ou menos secreções e, nalguns casos, febre baixa. Contudo, os bebés podem ficar muito incomodados, pois nessa idade respiram principalmente pelo nariz. O quadro sintomático dura habitualmente menos de uma semana. Os pais devem, portanto, esperar que passe, com tranquilidade, ao mesmo tempo que colocam em prática algumas medidas simples, como facilitar a libertação de secreções com soluções de água do mar ou aparelho de aerossóis (só com soro).

Há duas medidas de prevenção fundamentais na escola. Uma delas passa por evitar que as crianças se submetam a elevadas e a baixas temperaturas alternadamente e, por outro lado, que fiquem suadas após os intervalos. Sensibilize o seu filho para esta situação.

Gastroenterite

É um distúrbio que provoca diarreira e/ou vómitos e, por vezes, febre, que podem conduzir a um quadro de grave de desidratação.

Esteja atento aos sinais de alarme de desidratação, nomeadamente olhos encovados, prega cutânea difícil de desfazer, língua seca e fontanela deprimida (moleirinha deprimida ou inclinada para baixo).

Geralmente, este distúrbio deve-se à ingestão de comida inapropriada para consumo que se deteriorou por estar exposta a temperaturas elevadas.

Os cuidados de prevenção que os pais podem tomar são vários e passam por levar para a escola comida fresca e conservá-la, preferencialmente, no frigorífico, e ensinar as crianças a lavar as mãos depois de irem à casa de banho, sobretudo se tiverem diarreia, para não contagiarem os colegas.

Sendo a desidratação uma das consequências mais graves desta patologia, o tratamento deve consistir na hidratação através da ingestão de água (administração de soros endovenosos, nos casos mais graves).

Piolhos

Segundo Álvaro Birne, a presença de crianças em locais fechados propicia o contágio por piolhos, sendo a prevenção crucial. Até porque a sua prevalência tem vindo a registar uma incidência crescente, como refere Fátima Moscoso. «O número de novos casos tem aumentado todos os anos devido ao seguimento desadequado da terapêutica. Isto porque as crianças interrompem o tratamento».

A consequência desse tipo de comportamento é óbvia! Não eliminam os piolhos e contagiam as restantes, gerando uma cadeia de contágio. Fátima Moscoso e Álvaro Birne aconselham, por isso, os pais a levar o tratamento dos filhos até ao fim, com recurso a antiparasitários. Para além disso, Álvaro Birne recomenda a desparasitação em simultâneo de todas as crianças de uma turma com casos de piolhos e respetivos familiares.

Para prevenir este problema, os pediatras recomendam:

- Não encostar a cabeça à dos outros.

- Nos intervalos, brincar em espaços abertos.

- Se a criança não tiver piolhos não usar desparasitantes para não ficar exposta à toxicidade destes produtos.

- Desinfetar e desparasitar vestuário, sofás e camas.

Feridas e hematomas

Fazem parte da infância de qualquer criança e não sofrer nenhuma delas regularmente é que acaba por ser estranho. A ocorrência de quedas no meio escolar é frequente nas crianças, provocando feridas, hematomas e nódoas negras.

Segundo Álvaro Birne, «as feridas devem ser desinfetadas e os casos mais problemáticos tratados no hospital ou no centro de saúde».

« Já os hematomas e as nódoas negras resultantes de quedas ou traumatismos devem ser tratados com gelo que vai provocar a vasoconstrição dos vasos da região afetada e contribuir para a absorção do sangue dos tecidos moles, facilitando a cura», acrescenta.

Os pais devem também estar atentos às suas causas. «Um hematoma pode resultar de uma queda simples de uma criança saudável ou ser uma manifestação clínica de uma doença grave como uma leucemia ou diabetes. Nas situações mais graves, os pais deverão levar a criança ao hospital, para que esta seja tratada de forma adequada e seja despistada qualquer doença», alerta Fátima Moscoso.

Para além disso, ambos os pediatras frisam a necessidade de as crianças iniciarem o ano letivo com as vacinas em dia, sendo uma das principais a do tétano.

Gripe A

Segundo Álvaro Birne, «a gripe A é em tudo semelhante à gripe convencional. A sua única diferença é caracterizar-se por um início mais súbito de sintomas (tosse, febre elevada inicial que pode ser acompanhada por diarreia)». Segundo Fátima Moscoso «os cuidados de lavagem e desinfeção das mãos são úteis neste momento em que não houve a disseminação do vírus, mas se houver uma propagação, perdem terreno e só uma vacina poderá prevenir a doença».

 

Não obstante, de acordo com Álvaro Birne, «apesar da aparente inevitabilidade de um crescimento dos casos, se a gripe A chegar às escolas, é indispensável criar e manter determinados hábitos de higiene, como a lavagem com água corrente e sabão ou desinfeção das mãos».

Como evitar o contágio? Fátima Moscoso aconselha como medida de prevenção fundamental que, caso se verifiquem sinais da doença em algumas crianças, toda a turma entre em quarentena, para evitar a emergência de gripe A. «As crianças brincam umas com as outras e é muito provável desenvolver-se toda uma cadeia de contágio, sendo de equacionar que os pais impeçam as crianças de irem para a escola e para a creche, caso estejam a aumentar os novos casos da doença», adverte.

Os pediatras salientam, no entanto, que é crucial trocar as voltas a um eventual contágio no caso de haver um foco de gripe.

 

Como tal, importa seguir um regime alimentar rico em vitaminas e antioxidantes para fortalecer o sistema imunitário e para prevenir esta doença. Deve por isso, incluir na sua alimentação, frutos como a laranja, o kiwi e a romã e vegetais como os bróculos.

A criação e manutenção de hábitos de sono regulares e sãos revestem-se, igualmente, de máxima importância.

O tratamento da doença passa, à semelhança do que sucedeu em 2009 e no início de 2010, pelo internamento das crianças com um quadro clínico mais grave e pela medicação para o alívio dos sintomas nos casos menos graves.

Os cuidados de higiene essenciais para prevenir a Gripe A na escola

- Lavar as mãos antes das refeições e nos intervalos das aulas.

- Não pôr as mãos no corrimão ou no chão.

- Arejamento, ou ventilação das salas para eliminar vestígios de contágio por espirros e tosse.

- Quando as crianças e os adolescentes tossem, devem usar um só lenço de papel e, em seguida, deitar fora.

- Cuspir apenas para o lenço de papel e não para o chão, tendo o cuidado de o colocar no caixote do lixo.

- Usar a máscara se tiver tosse ou em caso de epidemia.

Texto: Daniela Gonçalves com Álvaro Birne (pediatra) e Fátima Moscoso (pediatra)