Pai de um jovem com 17 anos e de uma menina com um ano e meio, Marco Horácio achou que este era o momento indicado para escrever 'Pai Horácio', um livro repleto de "dicas de um pai aos 50, com uma mulher de 30 e uma cadela para viver a paternidade com humor".

O Fama ao Minuto chegou à fala com o humorista e à partida ficou claro que esta é uma fase de total dedicação à pequena Maria Leonor, ainda que com um olho sobre o futuro profissional. Com poucas horas de sono, Marco aceitou falar connosco e a grande conclusão da conversa que se segue é que estamos perante um 'pai babado' que só quer poder desfrutar desta nova fase da sua vida.

Estamos perante um livro que parece ter como principal missão a de encarar a paternidade com leveza, tranquilidade e humor. Foi essa a principal motivação que encontrou?

Não sou escritor e para deixar uma obra destas foram precisos vários motivos. Em primeiro lugar, quis partilhar com as pessoas o que têm sido os últimos anos da minha vida, desde que conheci a Sara, e de que como tudo se desenrolou até termos a nossa filha. Todo o livro tem um tom de humor e de ironia, é a forma como eu vejo a vida e como sempre vivi. A primeira parte do livro traz-nos uma certeza: não adianta estarmos a projetar a nossa vida porque raramente os planos acontecem como estamos à espera.

Era perito em sabotar-me. Não queria sofrer mais e estava magoado

Esta tem sido, também para si, uma grande fase de descoberta, concorda?

Eu estava completamente fechado para relacionamentos aos 46 anos, para mim já não fazia sentido apaixonar-me porque a paixão já só se traduzia em sofrimento. A Sara veio provar-me o contrário e o livro é um bocadinho a ideia de que a felicidade está sempre ao nosso alcance.

Como é que pode apresentar o livro a quem ainda não o leu?

Neste livro falo um bocadinho sobre como é possível transformarmos a nossa vida. Claro que não o conseguimos fazer sozinhos, há que encontrar a pessoa certa que esteja em sintonia connosco e que veja o que de melhor temos. É um livro que traz esperança às pessoas que acham que já não vão constituir família. Eu sou a prova viva disso mesmo, de que é possível dar uma volta à vida. Se me dissessem que a minha vida estaria assim há quatro anos, diria à pessoa: 'mete mais tabaco no que estás a fumar, porque não vai acontecer'.

Mas por que motivo?

Porque eu era perito em sabotar-me. Não queria sofrer mais e estava magoado, então qualquer coisa que surgia, eu entrava num sistema de auto sabotagem para não haver qualquer hipótese de relacionamento e de felicidade.

Nós, homens, somos muito mais desligados do que as mulheres em relação à gravidez.

Viveu esta segunda gravidez de forma diferente da primeira?

Sim, vivi esta gravidez da Sara de uma forma mais intensa e foi por isso que decidi escrever um livro. Notei que nós, homens, somos muito mais desligados do que as mulheres em relação à gravidez. Uma mulher, quando descobre que está grávida, a segunda coisa que faz é colocar três aplicações no telemóvel que dizem qual é a evolução do bebé, o que é preciso fazer e tomar... Nós homens não, somos mais desligados e vamos atrás daquilo que a nossa grávida precisa.

E que outras diferenças regista entre o homem e a mulher durante a gravidez?

À maior parte dos homens só cai a ficha quando tem a criança nos braços. Até lá, são nove meses em desvantagem, porque vemos uma barriga a crescer mas não criamos qualquer ligação com a criança, ao contrário da mãe. Nós estamos de fora e só temos de dar apoio. Com este livro, também procuro explicar como é que, em cada momento da gravidez, nos podemos tornar essenciais para proporcionar uma gravidez bonita e divertida. Se fizermos a nossa mulher uma grávida feliz, então a criança também será feliz. Se há coisa que não podemos fazer é irritar a nossa grávida durante todo este processo [risos].

Num dos capítulos, o Marco deixa clara a sua opinião sobre o facto de algumas pessoas estarem sempre à espera do "momento certo" para terem um filho, que é uma perspetiva com a qual não concorda...

Digo sempre que a condição perfeita é existir amor entre os dois e entender se a relação já precisa da próxima fase, da fase de ter um filho. Há pessoas que não precisam disso porque estão muito bem assim, mas há pessoas que já sentem o instinto paternal. Aí, não precisam de esperar por reunir as condições ou de esperar pelo momento certo, as condições criam-se. Quando estamos prestes a ter um filho, automaticamente a cabeça fica formatada em criar as condições necessárias para tê-lo connosco. Eu e a Sara vivíamos num apartamento mais pequeno e não temos família perto, portanto tivemos de ser nós a tratar da bebé. Nós conseguimos fazê-lo, por isso, toda a gente consegue.

Ter um bebé é cansativo, independentemente da idade com que se tenha. Se não for cansativo e desgastante, então não estarei a fazer bem o meu trabalhoQue dicas mais imediatas daria a quem vai ser pai em breve?

Diria 'meu menino, tens de te pôr em forma'. Se queres ser um pai presente e ativo, se queres participar em tudo e pegar o teu filho ao colo e brincar, então tens de estar em forma e tens de treinar. Não é apenas necessária uma preparação emocional, mas também física.

Quais as reações que tem obtido desde o lançamento do livro?

Já tive reações de pessoas que não gostam de ler livros e que leram este em dois ou três dias porque não conseguiram parar. Escrevo como se estivesse a fazer um espetáculo, escrevo como falo. Como tenho noção de comédia e de timing, o leitor vai soltando o sorriso e as gargalhadas. É um livro acompanhado da ideia de boa disposição permanente. A paternidade tem de ser algo feliz na nossa vida.

Como tem sido o primeiro ano e meio de vida da sua bebé?

A Maria Leonor traz-me alegria todos os dias. Uma criança na vida de qualquer casal é um 'boost' de felicidade e energia. Ter um bebé é cansativo, independentemente da idade com que se tenha. Se não for cansativo e desgastante, então não estarei a fazer bem o meu trabalho. Uma criança tem de dar trabalho, ela não para, é curiosa, estraga coisas, anda e corre, chora e berra, ri e grita... isto, como é óbvio, exige de nós muita coisa, mas também nos traz foco, o que é fundamental. Faz de nós melhores pessoas, faz-nos mais humildes e começamos a perceber o que realmente tem importância na nossa vida, deixamos de nos preocupar com coisas que não importam nada.

Marco Horácio com a esposa, Sara Biscaia, e a filha de ambos, Maria Leonor© Instagram/Marco Horácio

E isto de ser-se pai com 15 anos de diferença?

Se o meu filho, há 17 anos, já me trazia foco, a Maria Leonor traz-me ainda mais agora. Tenho de cuidar dos meus filhos. Quando não temos filhos, não temos de trabalhar tanto, só precisamos de comer e pagar contas. Um filho traz-nos a noção de que há uma pessoa que depende de mim, a vários níveis.

De que forma recorda os primeiros tempos de vida do Guilherme, o seu filho mais velho?

Na altura, abdiquei de muitos trabalhos porque queria acompanhar o crescimento do meu filho. Hoje tenho uma relação muito forte com ele, que não há dinheiro nem projeto nenhum em televisão que pague isso. Somos companheiros, amigos, ele vem comigo jogar padel e eu vou levá-lo aos amigos dele. É um miúdo enturmado na minha vida e eu faço parte da vida dele. Se tivesse desligado para me dedicar só ao trabalho, não conseguiria ter essa relação com ele.

O que sabe hoje sobre a paternidade que gostaria de ter sabido na altura em que foi pai pela primeira vez?

As várias técnicas que podemos adotar para adormecer os nossos bebés. A privação de sono é, talvez, das principais torturas pelas quais os pais passam. Há algumas técnicas, desde o exaustor, que é milagroso para adormecer bebés, como um aspirador dos mais antigos. Também há o 'white noise' que imita o som que dizem que os bebés ouvem na barriga das mães. Também há a chamada calçada portuguesa, que em caso extremos pode ajudar quando o bebé não adormece nem por nada. Se a malta for para uma autoestrada ou para um parque de estacionamento não adianta, tem de ser calçada portuguesa e quanto mais buracos melhor [risos].

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