O discurso do Rei seguiu-se ao pedido de desculpas por parte do primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, no final do ano passado, pela história do país no tráfico de escravos (escravatura) e na escravidão (condição de escravo e sistema económico e social baseado nessa condição).

Estas tomadas de posição fazem parte de um reconhecimento mais amplo das histórias coloniais no Ocidente e que foram estimuladas nos últimos anos pelo movimento Black Lives Matter.

Num discurso emocionado perante uma multidão de convidados e de curiosos, Willem-Alexander declarou: "Hoje estou diante de vocês. Hoje, como vosso Rei e como membro do Governo peço desculpas e sinto o peso das palavras no meu coração e na minha alma".

O monarca disse que encomendou um estudo sobre o papel exato da Casa Real de Orange-Nassau na escravidão efetuada pela Holanda.

"Mas hoje, neste dia de memória, peço perdão pela clara falta de ação perante esse crime contra a humanidade", sublinhou.

Segundo a agência Associated Press, a voz de Willem-Alexander mostrou muita emoção ao completar o seu discurso, antes de colocar uma coroa de flores no monumento nacional dedicado à escravidão do país, num parque de Amesterdão.

Questionado sobre o discurso do monarca, o ex-parlamentar John Leerdam disse à rádio holandesa NOS que sentiu lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto quando o Rei pediu desculpa.

"É um momento histórico e temos de perceber e reconhecer isso", afirmou.

A escravidão foi abolida no Suriname e nas colónias holandesas no Caribe a 01 de julho de 1863, mas a maioria dos trabalhadores escravizados foi forçada a continuar a trabalhar nas plantações por mais 10 anos.

A cerimónia de hoje e o discurso do Rei marcam o início de um ano de eventos para assinalar o 150.º aniversário de 01 de julho de 1873.

Uma pesquisa publicada no mês passado demonstrou que os antepassados do rei ganharam o equivalente atual de 545 milhões de euros com a escravidão, incluindo lucros de ações que lhes foram dadas como presentes.

Quando o primeiro-ministro Mark Rute pediu desculpa pela escravidão, em dezembro passado, anunciou que iria oferecer compensações monetárias aos descendentes das pessoas escravizadas.

Em vez disso, o Governo estabeleceu um fundo de 200 milhões de euros para iniciativas de combate ao legado da escravatura na Holanda e nas suas ex-colónias e para melhorar a educação e a informação sobre o assunto.

Contudo, dois grupos holandeses, o Manifesto Negro e os Arquivos Negros, consideraram já que a iniciativa do Governo não é suficiente e organizaram uma marcha de protesto antes do discurso do Rei, usando como 'slogan' que "Não há cura sem reparações".

Leia Também: "Fiquei sem luz em casa e tive de pedir dinheiro para pagar a conta"