José Condessa foi o convidado de Manuel Luís Goucha no programa 'Conta-me', deste sábado. O ator, de 25 anos, uma das maiores promessas na representação nacional, falou da sua carreira e das aprendizagens que foi guardando.

O artista começou por realçar os "exemplos de humildade" com que se tem deparado ao longo da sua caminhada. Um deles partiu de Ruy de Carvalho.

Numa peça em que contracenou com o reconhecido ator, Condessa disse que foi desafiado a entrar com Ruy às cavalitas. "Como é que vou entrar com o Teatro às costas?", refletiu à época.

"Ele já tinha um banquinho e saltou, com a maior simplicidade. Se ele não tem dificuldade em servir o Teatro, como é alguém da minha idade irá ter?", questionou.

Neste sentido, José garantiu que nunca se deslumbrou, mas que apenas experienciou "momentos de deslumbramento", que acontecem no "final de uma estreia" ou quando ouve os "aplausos". "Não devemos ter medo de os aproveitar, com a noção que demos tudo ao palco. Para mim o aplauso é o fechar de um ciclo que amanhã vai-se repetir", sublinha.

Sendo filho de pais que trabalhavam em Teatro amador, para o entrevistado, este mundo nunca foi estranho. Na primeira vez que subiu ao palco tinha três anos, tendo feito o primeiro monólogo aos cinco. "Lembro-me de já não querer ser outra coisa", notou, referindo que a sua caminhada foi marcada profundamente por Carlos Avilez, após ter ingressado no Teatro Experimental de Cascais.

Para José, o Teatro é um terapia, uma vez que reconhece nas personagens coisas que precisava de aprender. "As personagens são um espelho dos nossos medos, mesmo as mais felizes. (...) Muitas vezes vou abrindo feridas que não sabia que tinha", diz, visivelmente emocionado.

Trabalhar com Pedro Almodóvar

A oportunidade de entrar na curta-metragem 'Estranha forma de vida', de Pedro Almodóvar, surgiu através de audições, contudo, quando começou no Teatro, José estava longe de imaginar que este seria o seu destino.

Antes, sonhava em criar uma companhia itinerante e levar a arte a todo o país, sobretudo aos lugares onde é mais inacessível.

Assim, quando conheceu pessoalmente o cineasta espanhol, não conseguiu disfarçar os nervos. "A minha dúvida era como é que o cumprimento. Deixei-me ir, estendi a mão e demos um abraço", disse, entre risos.

A polémica no Brasil

Visivelmente magoado, José comentou igualmente a polémica em que se viu envolvido, depois de ter sido acusado de abandonar as gravações da novela brasileira 'Salve-se Quem Puder'. O ator refere que na altura se sentiu injustiçado, uma vez que como já tinha compromissos profissionais em Portugal, tendo por isso não regressado para terminar os episódios. Vale notar que à época as gravações da novela foram interrompidas por causa da pandemia.

"O que me magoou mais foi sentir-me tão pequeno que não tinha voz. Para mim foi horrível, demorei muitos anos a curar", confessa, notando que ainda não superou totalmente.

"Eu não tive culpa", diz ainda, lamentando que a imprensa tenha assumido que este apenas não quis voltar, quando na verdade já tinha dado a sua "palavra" a outros projetos antes de tudo acontecer.

"Foi uma queda muito grande, estive mesmo muito em baixo", desabafa.

Na altura, o entrevistado conta que perdeu a confiança em si enquanto ator. Apenas a recuperou quando durante um dos ensaios para a peça 'Hamlet' viu Carlos Avilez na sala, a dar-lhe o apoio que precisava.

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