Eterno solteirão, o modelo Valter Carvalho, de 36 anos, largou a sua vida de “playboy feliz” em 2013, quando decidir perfilhar o pequeno Swahili. Continua sem uma companhia feminina lá em casa, trata do menino sozinho, mas não está nada arrependido. Bem pelo contrário, acha que todo este processo o transformou num homem melhor.

Em que fase está o pequeno Swahili?
Penso que está a passar aquela fase em que, se não for à maneira dele, tenta fazer birra… Está sempre a tentar medir forças e eu estou a tentar contrariar isso. Mas faz parte, não é?

Como se está a sentir no papel de pai? Está a ir de encontro às suas expetativas?
Por mais que uma pessoa possa imaginar o que isso poderá ser, só mesmo vivendo… Sabia que ia assumir um compromisso, mas não tinha noção de todo. Houve alturas, no princípio, em que me questionei sobre o que tinha feito à minha vida. Como estava sozinho, julgo que é uma atitude normalíssima. Falando com outros pais descobri que todos, a determinado momento, chegaram a julgar que não aguentavam… (risos).

Ainda por cima, para uma pessoa como o Valter, que estava habituado a viver sozinho e a ter o seu espaço, deve ter sido mais complicado…
É verdade. Não devia nada a ninguém, vivia tranquilíssimo e de repente, com a chegada do bebé, vejo-me perante uma responsabilidade tremenda e um compromisso constante. Mas é super-gratificante quando, depois, chega esta fase, em que já há um entendimento e uma comunicação. Acho que daqui para a frente é para melhorar cada vez mais. Sinceramente não acredito que vá sentir saudades da fase de bebé do Swahili, em que ele não dizia o que sentia e só chorava…

O que fazia nessas alturas? Pedia ajuda a alguém?
Não. Nunca cheguei a ligar a ninguém, a não ser o ano passado quando ele teve um problema de pele. De resto tentei sempre desenrascar-me. Nunca procurei nada na internet… basicamente safei-me. No início, tive alguns conflitos com a minha mãe, porque ela ficava com o Swahili alguns fins-de-semana, e eu queria que algumas coisas fossem feitas de determinada forma, e ela de outra. Mas depois caí em mim e pensei que, afinal, ela tinha criado três crianças e eu nunca tinha criado nenhuma.

A sua mãe ainda o ajuda com o Swahili?
Neste momento, não. A minha mãe foi para Angola e eu estou completamente sozinho com ele.

O Swahili vai consigo para todo o lado? É uma criança que se adapta facilmente?
Perfeitamente. Ainda no outro dia tive um problema no estúdio, precisei de ficar mais tempo, e ele foi calmamente para casa com a estagiária até eu sair do trabalho.

O facto de o Valter e o Swahili serem já uma dupla vai impedir, de algum modo, que uma terceira pessoa entre na vossa vida?
Para já levo uma vida normalíssima. Ele conhece algumas amigas do pai e dá-se bem com elas. No sentido amoroso, obviamente, que tenho que ter alguns cuidados porque as crianças facilmente se apegam e eu não. Mas se aparecer alguém com quem me sinta bem, tem de ser, acima de tudo, alguém que também o aceite. Mas já estou sozinho há muitos anos e enquanto estiver bem assim, vou estando. Já não levo a vida como levava antigamente…

O facto de ter sido pai fê-lo descobrir alguma faceta nova em si?
Sim. Toda a gente diz que, desde que fui pai, estou uma pessoa muito mais tolerante e paciente. Até ao nível de sentimentos mais profundos, a minha forma de ver as mulheres é diferente. Vejo muito mais o lado sentimental do que via antes de o Swahili estar comigo.

Gosta da pessoa em que se transformou?
Foi uma mudança para melhor. Eu era “eu, eu, eu”, não devia nada a ninguém, estava tranquilo, trabalhava bem, cumpria com todos os meus objetivos, tinha a vida que queria e era um playboy feliz. Agora não. Agora vejo as coisas com outros olhos, de forma mais abrangente, e sinto-me bem assim. Aliás, espero que seja cada vez melhor.

O Swahili veio parar à sua vida por puro acaso ou foi uma decisão muito ponderada?
Isso é uma história que dava um livro. Mas posso resumir dizendo que este processo foi o resultado da necessidade de três partes, num dado momento: da minha, da mãe e do bebé. E correu bem para a mãe porque o filho está feliz, o menino está feliz porque tem outras possibilidades e eu estou feliz porque estou a partilhar a minha vida e os meus conhecimentos com um filho que vejo como se fosse biologicamente meu. Ele, aliás, até fisicamente e de personalidade é parecido comigo. A minha mãe, inclusive, já comentou que se ele fosse mesmo meu não seria tão parecido… (risos).

Sente o Swahili como se fosse seu…
Não penso sequer nisso. Cada vez mais evito falar nesse pormenor, porque há pessoas que não percebem bem o que é perfilhar. Já tive problemas com a família da parte da mãe porque houve uma revista que escreveu que eu tinha ido buscar o Swahili a um orfanato, o que é completamente mentira. Só que para eles significou que eu queria desligar o Swahili da família materna, quando para mim é ponto fundamental e importante manter esse relacionamento para sempre.

É, portanto, um processo diferente da adoção?
É. Na adoção as crianças deixam de ter contacto com os progenitores. No caso do Swahili não. O que existe escrito em Tribunal é que eu tenho o poder paternal para poder estar com o Swahili à vontade em Portugal. Ele foi perfilhado por mim mas existirá sempre o contacto com a família.

Que conselhos poderá dar a pessoas que se sintam inspiradas pelo seu gesto?
As condições emocionais são ter noção do que é ser pai e só temos noção do que é quando realmente isso acontece. Também é preciso ser paciente porque há muita burocracia. O meu processo foi relativamente fácil, porque estamos a falar de pessoas quase familiares e há confiança entre as partes. Foi um acordo mútuo em que eu dei o nome de pai, porque o pai da criança desapareceu e abandonou a mãe. Isso é perfilhar, um processo em que eu assumo toda a responsabilidade como pai. É distinto da adoção. Para uma pessoa que tenha vontade, tem de ter muita paciência porque é um processo muito longo, o que é uma pena porque há muitas crianças necessitadas.