Modelo internacional, professora de filosofia, terapeuta familiar, mãe... Licenciada em psicologia-filosofia e filosofia alemã, Astrid Werdnig mudou-se para Portugal, há 12 anos, onde se formou em terapia familiar sistémica.

De origem austríaca e casada com o ator Paulo Pires, a sua experiência profissional fora da passerelle ensinou-lhe que, mesmo perante o medo ou rutura emocional, é sempre possível (voltar a) ser feliz.

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No início
da sua carreira,
como terapeuta
familiar,
começou por
trabalhar
com mulheres
vítimas
de cancro
da mama...

Acompanhava,
na fase de
diagnóstico, na
fase crónica
e/ou terminal,
essas mulheres
e a sua família.
A estratégia
principal de
um terapeuta
familiar é a
manutenção
da comunicação entre os
membros da
família e entre
a família e a
equipa médica.

Quais os maiores desafios
para as famílias?

É preciso que se ajustem às
exigências físicas, emocionais e
financeiras, de modo a que possam
responder às necessidades do familiar
doente, mas simultaneamente
também precisam de continuar a
viver as suas próprias vidas. Este é
o ponto de equilíbrio que o terapeuta
ajuda a encontrar.

O que aprendeu com essa
experiência?

O diagnóstico de cancro pode
provocar desorientação, negação da
doença, revolta, depressão e medo,
ligado à confrontação com a morte.
Durante este trabalho, conheci
verdadeiras guerreiras com quem
aprendi que o medo pode permitir-nos florescer. No início, é uma
montanha de escuridão mas quase
todas as mulheres que conheci conseguiam
usá-lo como um mecanismo
criador de energia positiva.
Esta experiência permitiu-me
também conhecer a associação
Laço, que faz um trabalho excecional
na luta contra o cancro da
mama, e da qual fiquei membro.

É possível voltar a ser feliz depois
de se perder parte da nossa
identidade corporal e sexual?

Absolutamente. Não conheci
nenhuma mulher que não tivesse
voltado a sorrir.

Veja na página seguinte: Conselhos para casais

Atualmente, dedica-se à terapia
de casal. Em que casos se
justifica procurar a ajuda de um
terapeuta?

Quando, pelo menos, um
dos cônjuges sente que há mais sofrimento
do que satisfação na relação.

O simples desejo de melhorar
a relação, a comunicação, também
é um motivo.

O sentimento de
solidão, o aborrecimento, a desconfiança, as lutas pelo poder, a
critica constante ou um episódio
que deixou marcas profundas,
como uma relação extraconjugal,
são sinais de alarme de que o casal
precisa de ajuda.

O que acontece numa primeira sessão?

O casal descreve o seu problema
e objetivo. Geralmente,
seguem-se seis sessões, em que sigo
um método sistémico. Estamos
habituados a pensar linearmente, achamos que cada problema tem
uma causa, mas as relações não
funcionam assim. Uma causa é
sempre um efeito e um efeito é
sempre uma causa. Esta circularidade
é uma das condições mais
importantes do método sistémico.

Que sistemas são analisados
pelo terapeuta de casal?

Analisamos, por exemplo,
as famílias de origem de ambos
os cônjuges (que influenciam a
perceção de cada um, os papéis, os
padrões e também os nossos limites),
assim como a comunicação
verbal e não-verbal do casal, no
qual se enquadra a questão sexual.
Antes de tudo, o terapeuta vai
identificar a fase do ciclo da relação
em que se encontra o casal,
porque em cada etapa há mudanças
e ajustamentos.

Por exemplo...

O terapeuta de casal alemão
Arnold Retzer descreve o nascimento
do primeiro filho como «um ataque terrorista à relação».
Nesta fase, é preciso incluir o papel
parental e, ao mesmo tempo, manter
o espaço para o casal. É natural
congelar, digamos assim, a relação amorosa, durante
algum tempo, mas um dia é
preciso retirá-la do gelo.

Qual a intervenção do terapeuta?

Vai conduzir a conversa, o
que significa que o diálogo será
diferente dos que o casal tem em
casa. O terapeuta pode alterar
o foco da atenção, colocando-o em áreas para as quais o casal
não costuma olhar. Uma pequena
diferença na perceção de cada um
pode introduzir uma mudança no
sistema, no comportamento.

Que erros podem destruir
um casamento?

Embora cada relação seja
formada por dois indivíduos com
famílias de origem distintas, com
segredos, histórias e memórias
individuais e conjugais únicas, há
erros estudados por especialistas,
como John Gottman. Este psicólogo
aponta como «cavaleiros do
apocalipse» da relação, por exemplo,
a crítica negativa sobre o caráter
do outro e o desprezo, marcado
pelo sarcasmo, que conduz ao conflito. Destaca ainda a reação defensiva,
que traduz a negação da responsabilidade
dos erros, e o muro
de silêncio, que se forma quando
conversa se tornou impossível.

Da sua experiência enquanto
terapeuta familiar, quais os segredos
dos casais felizes?

Alguns têm um ritual que
pode terminar uma discussão, uma espécie de tábua de salvação
num estádio crítico, normalmente
associado ao riso, por exemplo,
fazer uma careta ou usar pistolas
de água... Rir frequentemente a
dois é, de resto, um dos grandes
segredos dos casais felizes. É também
muito útil quando encaramos
o nosso parceiro como um private
couch para o desenvolvimento da
personalidade. Desta forma, as críticas
tornam-se úteis, ajudam-nos
no processo de desenvolvimento
pessoal.

Veja na página seguinte: A incerteza necessária ao erotismo e à paixão

Há outras estratégias?

Saber encontrar o equilíbrio
entre a intimidade e a distância é uma delas.
Muitas vezes, uma elevada necessidade
para a proximidade faz com
que um dos dois se sinta preso, que
não há nada de novo.

O erotismo
e a paixão precisam de distância
e de uma pequena quantidade de
incerteza, especialmente em relações
de longa duração.
É também preciso sentir e mostrar
reconhecimento ao outro e termos
sonhos, objetivos em comum.

É importante o casal projetar-se no futuro?

Mais profundo do que isso, é
importante o casal ter uma filosofia de vida, encontrar um sentido
de vida comum. Também é importante
ter uma memória seletiva,
lembrar os momentos positivos.

Dá aulas de filosofia. Qual o
lugar desta disciplina numa sociedade
quase sem lugar para a
reflexão? O que nos ensina sobre
a felicidade?

A relação com a felicidade
foi sempre um dos temas centrais da filosofia. Aristóteles definia-a
como o objetivo final da nossa
existência, associando-a a virtude,
prosperidade, à vivência de
uma vida justa, à prática de atividade
cívica e da própria filosofia.
Muitos dos conceitos de Epicuro
também estão presentes, hoje em
dia, na psicologia positiva.

Por exemplo?

Vivermos de forma socialmente
ativa, o facto da amizade,
das relações familiares e da
relação conjugal serem fonte de
felicidade. Outra regra é viver
o aqui e agora, sem nos preocuparmos
com o futuro e, ainda
menos, com a morte, porque
está fora da nossa capacidade de
perceção. É importante focarmo-nos nos aspetos positivos e
esta capacidade pode ser treinada. Podemos regular ativamente
os nossos pensamentos, dando-lhes um significado positivo
ou negativo.

Há outras estratégias para
sermos felizes?

Não nos compararmos com
os outros. Fazer comparações é
um mecanismo fantástico para ficarmos infelizes. A psicologia positiva
dá-nos muitas outras regras,
por exemplo quanto ao significado do trabalho na nossa vida, à
importância de termos expectativas
realistas. Eu sublinhava ainda a
necessidade de encontrarmos um
sentido para a vida...

Corpo de modelo

9 cuidados de beleza que Astrid Werding não dispensa:

Regularmente

Faz limpezas de pele
profundas, na Clínica
Maló, e já experimentou
microdermoabrasão
(esfoliação com
cristais finos).
Faz drenagem linfática,
para estimular a circulação,
eliminar toxinas e
combater a celulite.


Todos os dias

Usa hidratante, protetor
solar FPS 50 e creme
de contorno de olhos,
de manhã. Todas as noites, aplica um sérum anti-idade
e um creme de noite.


Semanalmente

Esfolia a pele do rosto
e aplica uma máscara
de hidratação.

Veja na página seguinte: Os segredos de uma modelo para um corpo saudável

Exercício + alimentação

Os segredos da modelo para exibir um corpo são e saudável:

«Privilegio produtos
biológicos e compro-os em
espaços de produtos de
mercado justo», confidencia Astrid Werdnig, evidenciando preocupações sociais.

«Não uso alimentos que
a minha bisavó não fosse
capaz de identificar», acrescenta. «Adoro cozinhar e leio
imenso sobre alimentação
saudável», revela a modelo, que usa apenas óleo de
cozinha, azeite e óleo de
sementes de abóbora.

«Preparo pratos
coloridos, com legumes e
fruta que ingiro pelo menos
três vezes por dia», assegura. «Como cada vez menos
carne por razões éticas. Não
concordo com a produção
em massa e o tratamento
dos animais», confessa. «Faço pão em casa.
misturo farinha de centeio
com farinha de espelta
biológica», revela ainda.

«Quase não uso produtos
brancos, prefiro a versão
integral (farinha, açúcar)», realça a terapeuta familiar. «Bebo todos os dias pelo
menos três chávenas de chá
verde do Japão», acrescenta Astrid Werdnig.
«Faço exercício, três
vezes por semana, na clínica
Maló onde sigo um plano no
ginásio definido pelo meu
personal trainer», afirma. «Pratico yoga em casa
e adoro fazer passeios de
bicicleta, em família, pelo
Alentejo e Algarve», refere ainda.

Texto: Nazaré Tocha
Fotos: Pedro de Castro Agoas