«Andamos à procura de cidades
onde os homens continuem curiosos sobre
o passado, ricas em teatros, praças, cafés,
workshops, restaurantes e locais espirituais,
cidades com paisagens preservadas e
artesãos fascinantes, onde as pessoas continuem
atentas ao ritmo lento das estações
do ano, marcados por produtos genuínos
e respectivos sabores, costumes saudáveis e
espontâneos». Estas palavras foram o ponto
de partida para a criação do Movimento
Cittàslow.
Um movimento que faz apologia da qualidade de
vida e do fim do ritmo desenfreado que
caracteriza a sociedade actual. Tudo começou
em 1999 com apenas quatro cidades italianas e, hoje, já são 137 em 20 países
diferentes, entre os quais Portugal, com as
cidades algarvias de Lagos, São Brás de Alportel,
Silves e Tavira a fazerem as honras
da casa. Outras cidades que fazem parte deste movimento são Sferihisar (Turquia), Sonoma (Estados Unidos da América), Orvieto (Itália) e Katoomba (Austrália).
A necessidade de abrandar o ritmo
Saber viver é uma arte e é isso mesmo que
as Cittàslow apregoam, transportando os
princípios do movimento Slow Food para
o quotidiano de várias pequenas cidades,
onde abrandar é o ponto de partida para
uma vida melhor e mais saudável.
Para fazer parte deste grupo as cidades têm de
obedecer a algumas regras, tal como nos
diz Pier Giorgio Oliveti, Director do Movimento
Internacional CittàSlow, que tem uma visão muito própria do que (não) devem ser estas cidades. «Não
devem ultrapassar os 50 mil habitantes,
têm de valorizar os valores do território
e promover as novas tecnologias para um
desenvolvimento sustentado, sem esquecer
as grandes experiências do passado, os
saberes e os sabores que nos ofereceram os
antepassados», refere.
Viver devagar é viver melhor. Para Pier
Giorgio Oliveti, viver numa cittàslow, «é
ser feliz». Mas a isso temos de somar as
diferenças locais, a biodiversidade dos lugares,
da natureza e da cultura local, como
afirma o entrevistado. «Uma coisa é viver
em Wando na Coreia do Sul, outra é estar
em Orvieto, em Itália, ou em Sonoma
na Califórnia, ou mesmo em Silves, em
Portugal. Cada cidade interpreta o mesmo
conceito de lentidão através de um fio condutor
comum muito robusto e coerente», sublinha.
O futuro
Uma cidade considerada slow é uma cidade
que dá ao cidadão a oportunidade de ter «um futuro de qualidade. Em contrapartida, esse cidadão
tem apenas de aprender a viver sem ter tudo de forma
rápida e efémera.
Viver numa cittàslow significa basear a
vida económica e social na paz, em vez de se centrar no
egoísmo do consumismo. Significa investir no presente e
no futuro, poupando os solos, a água e o ar e protegendo
o saber tradicional», esclarece o director do movimento
internacional. As pessoas estão no centro de tudo isto, daí
que estas cidades preconizem igualmente a inclusão e a
responsabilidade sociais e estimulem o convívio e a solidariedade.
Até os próprios turistas são convidados a entrar
na comunidade. «Queremos que vivam a nossa terra e os
nossos costumes, nada que se pareça com as viagens dos pacotes tudo
incluído em que as pessoas são elas próprias transportadas
como se fossem bagagens de um lado para o outro.
As cittàslow têm alma e, por isso, aconselho todos os leitores
a iniciarem uma tour pelas nossas cidades, mas como
viajantes, não como passageiros». Essa visita começa agora,
conheça quatro dessas cidades, todas elas em continentes
distintos.
Texto: Rita Caetano com Pier Giorgio Oliveti (director do movimento internacional CittàSlow)
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