Suspensa no ar e nua por baixo de um vestido negro da marca PP couture. É assim que a atriz São José Correia se vai apresentar em palco, de 11 a 15 de dezembro, na peça de teatro «Worms», em cena no Teatro da Comuna em Lisboa, no âmbito do Festival Temps d’Images.

Escrita, criada e encenada pelo também ator Rui Neto, a peça aborda o universo imagético do filósofo Jean-Paul Sartre.

«Após a encenação de Huis Clos, do mesmo autor, em fevereiro de 2013, integrada no meu projeto de mestrado de Ciências de Comunicação – Comunicação e Artes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, fez-me sentido produzir um texto que abordasse as questões com que me deparei da filosofia de Sartre, bem como utilizar cenicamente algumas imagens presentes na sua escrita que me inspiraram durante o processo», justifica Rui Neto.

«Esta é a minha terceira criação. Adoro poder ter desenvolvido este espectáculo com a São José Correia. É um privilégio ter a dedicação dela e a entrega a este meu projeto. É por ela que as minhas palavras e o meu teatro se concretizam», afirma o ainda o ator, que atualmente interpreta o papel de Nuno na telenovela «Sol de inverno», transmitida pela SIC. Rui Neto também produziu a peça, que conta com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

«O maior desafio é o trabalho constante que tem de ser feito, a responsabilidade de criar um espetáculo que seja fiel e integro e comunicante e a capacidade de a cada momento saber fazer as escolhas certas», acrescenta ainda. Em palco, São José Correia surgirá num espaço cénico composto por uma estrutura de ferro que irá sustentar a actriz durante todo o espetáculo, conferindo a sensação de suspensão no ar. Um papel exigente que agradou à atriz.

«O desafio maior foi entrar no universo do Rui e da proposta do espetáculo. Toda a criação vai beber muito ao universo imagético de Sartre e de Beckett, onde a exigência técnica é muito grande. Requer um grande esforço e um enorme domínio do corpo. Aqui, qualquer respiração, qualquer pestanejar, se torna gigante», sublinha São José Correia, que realça ainda «o desafio e a responsabilidade de interpretar um monólogo».

A estrutura será posteriormente incorporada no figurino, de modo a tornar-se invisível. O único pé da estrutura irá sair pela manga do figurino e a parte que irá assentar na base será forrada por uma peça em fibra de vidro e gesso com o formato de um braço humano. Um tubo de ferro irá ficar suspenso desde a teia até 60 centímetros do rosto da actriz, com uma inclinação angular de 25 graus. Na extremidade do tubo ficará uma micro-câmara apontada ao rosto da actriz que irá transmitir em direto a imagem captada.

Ao fundo de cena existirão dois painéis de rede metálica. Num deles serão projectadas as imagens captadas diretamente em cena pela micro-câmara. No outro será projetado um vídeo, previamente editado, que irá funcionar em sintonia com a ação em cena e com a força das palavras proferidas. «É importante este texto do Rui Neto, que acaba por ser uma reflexão sobre o nosso mundo de hoje. E, sobretudo, o esforço de estar em palco, com este dispositivo cénico, é um grande desafio», desabafa a atriz.

Worms