Esqueça os hotéis de luxo, os monumentos mais conhecidos, os restaurantes mais caros, mas encontre a população local, lugares onde quase ninguém vai e paisagens deslumbrantes. É isto o turismo de aventura. «São viagens mais ricas e genuínas feitas lentamente». É desta forma que Helena Andrade, designer gráfica, 34 anos, justifica a sua preferência pelo turismo de aventura, que já a levou à Índia, Nepal, Islândia, Escócia, Pirenéus espanhóis, Bolívia e Islândia.

As vantagens para esta viajante são muitas. «Conhecemos melhor o país e os seus habitantes, sobretudo, quando vamos a pé. Além disso, há um maior contacto com a natureza e consegue-se ouvir o silêncio», conta. De todas essas viagens, os países que mais a fascinaram foram Índia, Nepal e Bolívia e todos por razões diferentes.

«A viagem à Índia foi mais cultural, deu para conhecer as tradições e perceber a importância que os indianos dão à parte espiritual e à passagem das lendas de geração em geração. O Nepal foi mais desafiante a nível físico, porque fiz um trekking com uma ascensão de cinco mil metros, durante o qual tive que vencer o cansaço e o frio, embora também tenha tido uma componente espiritual forte, pois passei por uma série de templos isolados na montanha e há rodas de oração e mensagens positivas do budismo por todo o lado», recorda.

Por último, destaca a Bolívia «pela pureza da população das aldeias e pela parte natural, absolutamente avassaladora. Cheguei a estar mais de meia hora a olhar para a paisagem em silêncio por me sentir esmagada, no bom sentido, por ela. Nesses momentos, senti-me uma particulazinha no universo», sublinha.

Choque cultural

A curiosidade por visitar sítios diferentes e a vontade de conhecer outras culturas e povos levou Rita Lynce, designer gráfica, 39 anos, a enveredar pelo turismo de aventura sempre que pensa fazer uma viagem. «Tem-se um contacto mais próximo com a cultura e com a população local do que teria se viajasse inserida em grupos grandes», justifica.

Jordânia, Índia, Nepal e Mongólia foram os destinos que escolheu e de todas essas viagens tem recordações para a vida. Da Jordânia destaca Petra e a grandiosidade do deserto de Wadi Rum. No Nepal, fez um trekking de dez dias pelas montanhas de paisagem muito variada e que incluiu uma subida a quatro mil metros de altitude. «Foi uma ascensão muito gradual que se fez bem e fiquei a achar que é mais uma questão mental do que física», refere.

Na Mongólia, percorreu o país numa carrinha e descobriu paisagens intocáveis que se estendiam por quilómetros sem que se cruzasse com outros carros. Da Índia, recorda o mar de gente, as viagens nos comboios locais, as cores e os cheiros. «Foi um choque e só duas semanas depois do regresso é que apreciei realmente a viagem. Há muita informação visual e como sou designer gráfica absorvia tudo e chegava ao fim do dia estafada», conta.

Até agora o balanço dessas viagens é muito positivo e Rita Lynce acredita que volta com outra perspetiva da vida. «Regresso sempre a pensar que não preciso de tanto e até mudo os meus hábitos, gasto menos água e luz e até na alimentação sou mais económica», realça.

Agências aventureiras

Fazer com que os viajantes «não se limitem a ser meros turistas que apenas espreitam do outro lado do vidro» é o lema Nomad, uma das agências de viagens portuguesas que se dedica a este tipo de turismo. «Mais do que colecionar carimbos no passaporte, queremos conhecer a cultura e o quotidiano. Para isso, recorremos a transportes locais e deambulamos pelas ruas, tudo em busca de uma experiência de viagem mais autêntica», explica Tiago Costa, cofundador da empresa.

Opinião em tudo semelhante é a de Artur Pegas, cofundador da Papa-Léguas, outra agência de viagens especializada neste segmento, que propõe «viagens em que existe um entrosamento entre o viajante e a cultura local, retirando daí tudo o que há de bom e de menos bom». Já Gonçalo Velez, da Rota dos Ventos, a agência pioneira das viagens de aventura em Portugal, realça o facto de haver contacto com a natureza e dos grupos serem sempre pequenos, algo que acontece também nas outras duas agências.

Unânime é também o facto dos grupos serem sempre acompanhados por guias locais, embora no caso da Nomad vá também um líder português que conhece bem a região. «As nossas viagens são baseadas na curiosidade e damos a oportunidade aos nossos viajantes de se divertirem, enquanto conhecem novas pessoas e culturas, vivendo a aventura da descoberta e do contacto próximo», sublinha Tiago Costa.

Paisagens deslumbrantes

Há cada vez mais portugueses a optar por este tipo de turismo, mas Artur Pegas diz que podem ser muito mais se descobrirem o fascínio dessas férias. «Ir a locais onde só se chega a pé, como acontece nas viagens de trekking e montanha, é uma descoberta única. Se gostamos do que vemos quando passamos de carro numa estrada, então imaginem o que não se vê… Basta sair da estrada para se encontrar paisagens espetaculares», exemplifica.

Desta forma, como diz Tiago Costa, é possível chegar «a lugares longe do caos urbano e percorrer grandes cenários naturais. As nossas viagens de aventura exploram de uma forma ativa e divertida algumas das mais belas paisagens do Planeta. Seja a caminhar ou a navegar, de bicicleta ou num safari». Indochina, Índia, Picos de Europa, China, Tibete, Peru, Namíbia, Expresso Oriente, Nova Zelândia e Marrocos são os destinos preferidos dos portugueses que fazem este tipo de turismo.

A maioria das pessoas que procuraram estas viagens chegam às agências sozinhas, mas como viajam inseridas num grupo, esperam, como diz Tiago Costa, «levar a recordação de momentos inesquecíveis entre um grupo de novos amigos» sublinha. Helena Andrade não poderia estar mais de acordo e diz que se fazem «amigos para a vida, porque o tempo passa devagar e todos estão disponíveis para conhecer novas pessoas».

Organizado ou não

Qualquer uma das agências referenciadas trata de toda a logística que este tipo de viagem pressupõe (alojamento, alimentação para a totalidade ou maioria dos dias, transportes no local e atividades a realizar). Os viajantes não precisam de se preocupar com nada. «Qualquer problema é solucionado pela agência e isso é muito confortável», diz Rita Lynce, que, tal como Helena Andrade, tem recorrido a agências para viajar.

No entanto, «há também quem opte por fazer viagens autoguiadas num sistema de semi-organização, ou seja, os percursos estão organizados, o hotel e os transportes também, mas não há um guia, embora tenham sempre a quem recorrer no local se alguma coisa correr mal», refere Artur Pegas. Mas há ainda quem compre apenas a viagem, como explica Andreia Augusto, sales manager da I Go Travel.

«Temos clientes que querem viagens de aventura mas que apenas nos compram a viagem de ida e volta e são eles que tratam de tudo no destino, ou seja, escolhem os percursos que querem fazer, os sítios onde ficam instalados e onde comem. A Costa Rica e o Peru são alguns dos destinos mais procurados nessas condições», refere a gestora de vendas.

Dos 20 aos 80 anos há pessoas de todas as idades a fazer este tipo de viagem e, em comum, como diz Tiago Costa, têm o facto de serem curiosas, ativas, com gosto por conhecer, explorar e, sobretudo, encontrar uma visão diferente e uma atitude sustentável nos lugares que visitam. Isso é transversal a qualquer faixa etária dos 20 aos 80 anos e a qualquer estatuto profissional.

Destinos a não perder

- «Isto é a Birmânia», escreveu Rudyard Kipling há mais de um século. «É como nenhum outro sítio que já conheci». E esta afirmação ainda é válida. A nossa viagem convida a apaixonar-se por uma cultura que pouco mudou, desde os tempos coloniais. esta aventura é uma surpresa constante, feita de sorrisos e tradições, curiosidade e superstições», sublinha Tiago Costa da Nomad.

- «Sugiro o Canadá, que é um destino excelente e, se for planeado com tempo, não é tão caro como se pensa. Sugiro também a Irlanda, que é relativamente económica. Gostava ainda que a Eslovénia se tornasse num hábito e sugiro o Trans European Express, que liga Berlim a Moscovo», desabafa Artur Pega da Papa-Léguas.

- «Recomendo o Butão e uma viagem de 24 dias, a grande Travessia do Kalahari, com passagem por África do Sul, Namibia, Botswana e Zimbabué», propõe Gonçalo Velez da Rotas do Vento.

Viagens seguras

O que tem de fazer antes de partir:

- Avalie a sua condição física e escolha uma viagem que se adeque à mesma. para isso tenha em conta a média de horas de marcha ou de outra atividade física, o número de dias da atividade e o fator altitude. Há viagens para todas condições físicas.

- Avalie o nível de conforto de que precisa durante a viagem, tipo de alojamento (hotéis de luxo ou económicos, refúgios, acampamento, quarto individual ou dormitório e casa de banho pública ou partilhada), bem como ao nível de veículos públicos ou privados.

Sites a consultar se for por sua conta:

Independenttraveler.com
Plataforma interativa com conselhos úteis para viajantes que gostam de planear as suas viagens.

Travelfish.org
A Ásia descrita por quem a conhece bem e o que se pode fazer por lá.

So-many-places.com
Um blogue no qual uma americana, que decidiu deixar tudo para trás para viajar pelo mundo, dá dicas sobre viagens, partindo da sua própria experiência.

Lonelyplanet.com
Tal como os guias em papel, o site da lonely planet está repleto de sugestões, muitas delas económicas.

Contactos úteis

I Go Travel
Telefones: 218 936 232/31
E-mail: geral@igotravel.pt

Nomad
Telefone: 222 018 012
Internet: www.nomad.pt

Papa-Léguas
Telefone: 218 452 689
Internet: www.papa-leguas.com

Rotas do Vento
Telefone: 213 950 035
Internet: www.rotasdovento.com

Texto: Rita Caetano com Andreia Augusto (sales manager da I Go Travel), Artur Pega (cofundador da Papa-Léguas), Tiago Costa (confundador da Nomad) e Gonçalo Velez (fundador da Rotas do Vento)