O dengue é uma doença provocada por um vírus (o vírus do dengue), que é transmitido ao homem pela picada de um mosquito do género Aedes (sendo o mais importante vector o Aedes aegypti).

Só existe dengue nos locais onde podemos encontrar pessoas infectadas com este vírus e mosquitos vectores da doença. No entanto, os mosquitos transmitem o vírus à sua descendência, através dos seus ovos, pelo que, em locais onde existem Aedes infectados, haverá sempre transmissão do dengue.

Diferentes manifestações

Na primeira vez que somos infectados, podemos ter um quadro clínico que pode ir de assintomático até uma crise aguda, com febre elevada, intensas dores ósseas (nalguns locais chamam ao dengue a «febre quebra-ossos»), dores musculares e articulares e cansaço intenso. A recuperação é normalmente lenta, podendo passar semanas ou meses até um completo restabelecimento da doença.

O problema maior surge quando somos infectados novamente. Se formos infectados pelo mesmo tipo (ou serotipo) de vírus do dengue (existem quatro serotipos) temos imunidade, promovida pela infecção anterior, e não desenvolvemos doença.

Mas, se formos infectados por um serotipo de vírus do dengue diferente do anterior, podemos desenvolver uma doença muito mais grave, com manifestações hemorrágicas e possibilidade de evolução fatal: o dengue hemorrágico.

Prevenção e tratamento

Não existe tratamento para o vírus do dengue. Todos os tratamentos que se fazem são apenas para alívio dos sintomas: repouso, hidratação, antipiréticos e analgésicos (sempre paracetamol, porque a aspirina e derivados estão contra-indicados, pelo risco de agravarem possíveis hemorragias).

É o nosso sistema imunitário que vai resolver a infecção. Também não existe prevenção com medicamentos nem vacina. Espera-se uma vacina tetravalente (com os quatro serotipos) em 2012.

Surtos de dengue

O dengue será, no futuro, a principal doença tropical emergente nos países temperados. Existem algumas espécies de mosquitos Aedes no sul da Europa e Aedes aegypti na Madeira.

Em 2009 houve um surto epidémico importante em Cabo Verde.

Este mosquito consegue adaptar-se bem aos climas de transição tropical/temperada, e serão os responsáveis pela extensão da doença no hemisfério norte.

No entanto, a existência de mosquito não implica a presença da doença: não existe dengue no Sul da Europa nem na Madeira; existe apenas um risco aumentado do dengue ser introduzido nessas zonas, a partir de uma pessoa infectada que seja picada pelo vector.

Assiste-se actualmente a surtos de dengue na Ásia, sobretudo em regiões da Índia, Tailândia, Cambodja, Myanmar, Laos, Vietname, Indonésia, e na América Central e Sul, com especial incidência em áreas do Brasil, Caraíbas, México, Venezuela, Costa Rica, Guatemala.

Cuidados a ter

  • O viajante que se desloca a estas áreas deve ter em conta que o mosquito que transmite o dengue pica durante o dia, existindo nas áreas urbanas, dentro e fora das habitações.
  • O ar condicionado é uma boa forma de protecção e, durante o dia, o viajante deve utilizar roupas leves, frescas, mas que cubram o corpo, evitando expor áreas da pele ao mosquito.
  • Nas áreas expostas deve aplicar um repelente de insectos (o seu efeito dura entre três a quatro horas) que, se for em spray, pode ser aplicado também na roupa.
  • Sempre que existe suspeita de dengue a doença deve ser confirmada através de análises. Essa informação é fundamental para sabermos qual o risco em contactos subsequentes com o vírus: se não teve dengue, a doença deverá ser maçadora, mas benigna; mas se já teve dengue, pode ter uma forma hemorrágica, muito grave e potencialmente fatal.
  • Se reside ou visita com frequência zonas onde o dengue é endémico, contacte o médico e faça o teste do dengue.

Texto: Jorge Atouguia (médico infecciologista)