Hoje vou fazer uma crónica diferente porque vou falar de um livro. De um magnífico livro que todos os amantes de jardinagem devem ter nas suas estantes. Trata-se de uma obra sobre rosas, afinal a flor mais popular em todo o mundo. E tem a particularidade surpreendente de ter sido escrito por um português.

É verdade. Eu, que aqui e nas páginas da Jardins, tenho zurzido a falta de mãos verdes dos meus compatriotas, encontrei uma brilhante excepção que confirma a regra.

O Miguel Albuquerque, autor do livro, é presidente da Câmara do Funchal e possui um dos três maiores roseirais do mundo na sua Quinta do Arco, no Norte da Ilha da Madeira.

Entusiasta de flores, este político construiu ao longo dos anos uma admirável colecção, que está de há quatro anos para cá patente ao grande público e que é constituída por 1.550 diferentes variedades num total de 17.000 roseiras.

Não conheço o autor, mas uma colecção destas só pode nascer de uma paixão e de muito trabalho, que Miguel de Albuquerque resolveu em boa hora passar para o papel, fotografando ele próprio as suas rosas e escrevendo um texto sobre cada uma.

Textos que, por uma vez, não são hermeticamente científicos e chatos, mas sim, claros, simples e concisos, contendo a informação interessante e importante a dar sobre cada exemplar.

O livro chama-se Roseiras Antigas de Jardim – Colecção da Quinta do Arco – Roseiral Duquesa de Bragança e é publicado pela Aletheia.

O nome intrigou-me, mas Miguel Albuquerque dá uma explicação para ele logo nas primeiras páginas do livro. É que, dada a popularidade da rosa, produzem-se anualmente em todo o mundo cerca de 150 milhões de plantas. Milhares de especialistas dedicam-se a fazer híbridos, cada vez mais surpreendentes, mais exóticos e mais resistentes.

Actualmente, existem verdadeiras fábricas de roseiras, fruto do fenómeno da globalização, cujo principal objectivo é obviamente de carácter económico.

Trata-se de uma nova indústria, muito distante dos anteriores métodos de hibridação, sobretudo durante os sécs. XVIII e XIX, em que os especialistas criavam as novas rosas de uma forma ainda meio artesanal, como se de uma obra de arte se tratasse.

Foi assim que os puristas decidiram dividir as flores existentes em roseiras históricas ou antigas e roseiras modernas. É evidente que não há um acordo sobre quando começa a era das roseiras modernas.

Há quem defina como fronteira a data de 1867, ano da introdução de La France, a primeira híbrido de chá. Outros optam por uma linha de demarcação nas roseiras criadas a partir de 1900. O autor do livro defende como data mais realista a de 1945, para indicar a aparição das roseiras modernas.

Este livro, como diz o título, só respeita às roseiras antigas. Trata-se de uma viagem maravilhosa pelos roseirais de Miguel Albuquerque, em que cada exemplar é exemplificado através de uma fotografia acompanhada de um texto. As fotografias são do autor, que propositadamente optou por uma produção realista e não artística, em que as rosas são apresentadas tal qual são, sem artifícios nem iluminações especiais.

Além de nos oferecer uma extensa informação sobre as roseiras antigas, o livro está graficamente muito bem organizado e apresentado, sendo o paradigma daquilo que os franceses vulgarmente designam por "un beau livre". Corra a comprá-lo.