São muitos os fatores que podem condicionar a intimidade de um casal. "Se existem realmente muitas diferenças entre nós e os homens, ora aqui está uma das maiores. As mulheres têm ciclo hormonal. Já não nos bastava a dificuldade em ter disponibilidade para o desejo e ainda estamos sujeitas, ao longo do mês, a sofrer uma série de alterações hormonais que nos deixam na Terra do Nunca", afirma Vânia Beliz.
A sexóloga portuguesa identifica e explica no seu livro "Ponto quê? - O prazer no feminino", publicado pela Editora Objectiva, o peso de um dos principais fatores que interferem nos níveis de desejo sexual feminino. Saber como funciona o nosso organismo pode ajudar (e muito) a gerir emocionalmente uma situação que afeta a dinâmica do casal mas, segundo a expecialista, há outros fatores. E outras tantas estratégias!
A influência das hormonas
O desejo sexual feminino é afetado por várias flutuações hormonais, diminuindo na segunda metade do ciclo menstrual. Ao contrário do que sucede com os homens, explica Vânia Beliz, "que desde a puberdade produzem testosterona ininterruptamente [a hormona responsável pela libido masculina], nós só produzimos estrogénio [a hormona estimulante da libido feminina] durante metade do ciclo".
Tal sucede apenas durante os 14 dias seguintes ao primeiro dia da menstruação. Terminado este processo, inicia-se o período fértil e, com ele, a produção de progesterona, hormona que, entre outras coisas, está associada à diminuição da libido, flutuações de humor e irritabilidade. "É importante que o homem perceba a existência do processo hormonal e as suas consequências", recomenda Vânia Beliz.
Nos casos em que a irritação e ausência de desejo são muito acentuadas, a solução pode também passar "por uma conversa aberta com o seu ginecologista para uma mudança de método contracetivo ou para a prescrição de um medicamento ou de produto natural que ajude a estabilizar as flutuações hormonais", sugere a também autora de "Chamar as coisas pelos nomes - Como e quando falar sobre sexualidade".
O problema da rotina
Nos agitados dias que correm, é uma das maiores ameaças. "A rotina pode matar o desejo", confirma Vânia Beliz. Com o passar do tempo, a frequência sexual diminui e a culpa é "das alterações que ocorrem nos relacionamentos quando surgem novos objetivos e exigências", diz. Muitas mulheres sentem que os parceiros estão sobretudo preocupados em ter prazer e que "dedicam pouco tempo a novas experiências".
O tempo a dois ganha uma nova dinâmica, sobretudo com a chegada dos filhos, e a intimidade perde-se no processo. É essencial perceber a importância do sexo, "não se resignar com o esmorecimento do desejo e lutar com todas as armas", recomenda mesmo a especialista em sexologia. "Não finja que tem prazer ou que é feliz, estará sempre a enganar-se mais a si do que o seu parceiro. Tome a iniciativa, mostre-se disponível e diga-lhe que espera uma vida sexual mais estimulante", aconselha Vânia Beliz. E planeie mais momentos de qualidade a dois, sem computadores, telemóveis ou tablets.
O diálogo é essencial para perceberem os desejos do outro mas, por muito útil que a comunicação se possa revelar nesta fase, há mais a fazer. Cuide da aparência, recomenda também a especialista. "É importante para a melhoria da autoestima, uma porta do desejo", refere. Reflita. Escreva tudo o que considera estar bem e mal na relação e o que pode fazer para melhorar a situação e trace novos objetivos.
"Em vez de atribuir culpas, faça sugestões e lembre-se que nada se constrói sozinho", sublinha ainda Vânia Beliz. "Não ceda no sexo só para agradar. Fale com o seu parceiro sobre o que, naquele momento, lhe daria mais prazer", aconselha também a especialista. Sugerir-lhe posições sexuais que se possam revelar mais excitantes para ambos os elementos do casal, como as que pode ver de seguida, é outra estratégia a adotar.
A interferência dos filhos
Com a chegada dos filhos, a maioria dos casais queixa-se de falta de tempo e de vontade para o sexo. "O desejo, após o parto, tem tendência a diminuir, fruto das alterações hormonais que ocorrem no corpo da mulher", esclarece a especialista. A espontaneidade fica condicionada e o sexo passa a ser planeado e previsível. "A relação torna-se diferente e um filho não une o casal", alerta mesmo a sexóloga portuguesa.
"Se a relação não for já suficientemente sólida, um filho pode atrapalhá-la ou até pôr-lhe fim", alerta Vânia Beliz. "Não se esqueça que antes de serem pais eram um casal, pelo que o espaço para o namoro tem de continuar a existir", sublinha a sexóloga. "Talvez não se sinta com a mesma disposição e deverá fazer ver isso ao seu companheiro, mas é importante continuar a estimular o desejo e procurar fazer o que também lhe dá prazer", refere ainda. Aproveitem os momentos calmos do bebé para estarem a dois. "Aprenda, desde cedo, a confiar na família para deixar o seu filho e se dedicar à relação, sem culpas", diz.
"Antes de ser mãe, você já existia", faz questão de recordar a sexóloga. "Não dê o outro como garantido ou conquistado. Mesmo que se tenha transformado numa pessoa menos desejável para si, isso não significa que o seja para os outros", acrescenta ainda. No que se refere à intimidade, é fundamental manter o equilíbrio. "Os anos trazem um grau de intimidade que pode conduzir ao desleixo, potencialmente letal para a relação", adverte.
Quando a dor é um fator de desmotivação
Controlar a dor é um passo importante para chegar a prazer. A sexóloga Vânia Beliz identifica as causas e aponta possíveis soluções:
- Dor durante a penetração
Na maior parte das vezes, tem a ver com uma deficiente preparação para o ato sexual e com a pressa em chegar a fase da penetração. Experimente um lubrificante especifico, nunca vaselina ou creme hidratante. E, se o desconforto se mantiver, consulte o seu medico.
- Dor crónica
Compromete o desejo e o prazer. Se tem uma doença que provoca dor cronica, levar o parceiro a sua consulta pode ser importante para que ele perceba o problema. Banhos quentes e massagens antes da relação podem ajudar, assim como identificar as posições mais confortáveis. A lateral e uma hipótese.
Sexo para combater o stresse
A ciência diz que é uma das armas a que deve recorrer para aliviar tensões. "Problemas financeiros ou profissionais favorecem o stresse que pode condicionar o desejo, sobretudo nas mulheres que têm maior dificuldade em desligar-se da ansiedade e viver o momento", conta Vânia Beliz. Curiosamente, o sexo pode ser parte da solução, uma vez que ajuda o organismo a produzir serotonina, contribuindo, assim, para o bom humor.
Técnicas de relaxamento, como é o caso da ioga, da meditação e das massagens, assim como as caminhadas, são também bons antídotos contra o stresse. Independentemente do comportamento que possa vir a adotar, seja honesta sem magoar. Se, por exemplo, o aumento de peso do seu parceiro inibe o seu desejo, diga-lhe algo como "Tenho saudades de tocar no teu corpo como era antes", sugere a especialista.
"Era importante eu sentir que lhe dás importância", aconselha ainda a sexóloga. Elimine também alguns fatores dissuasores, como é o caso da depilação por fazer, um (mau) hábito de muitas mulheres. Passar o dia de pijama ou partilhar a casa de banho não abonam a favor do seu sex appeal nem do desejo do seu parceiro, mesmo que esse comportamento seja considerado normal pelos dois. Tenha sempre isso em conta!
Texto: Nelma Viana com Nazaré Tocha e Vânia Beliz (sexóloga)
Comentários