Em 1884 o britânico Edwin A. Abbott surpreendia o mundo editorial com uma novela intitulada “Flatland”. Nela, o escritor descrevia um universo a duas dimensões, habitado por figuras geométricas que desconhecem a nossa realidade tridimensional.

Um Mundo Plano sob rígidas crenças científicas e religiosas, vivendo sob um regime profundamente misógino, sectário e clerical. Até que, um dos seus habitantes presencia um acontecimento "sobrenatural". E, com isso todo o sistema de crenças vê-se ameaçado.

No século XXI, a obra científica escrita no austero período vitoriano, inspirou um Turco, residente em Ancara. Na série de fotografia de nome homónimo à obra de Abbott, Aydin Büyüktaş, traz-nos um universo perturbante. Próximo porque o reconhecemos, mas ao mesmo tempo estranho. As imagens não têm horizonte. Uma estrada, um terminal de comboios, um estádio, uma cidade, tornam-se numa impossibilidade face à objetiva do fotógrafo turco.

Aydin, depois de uma carreira ligada ao turismo, decidiu enveredar caminho ao encontro da sua antiga paixão, a fotografia, associando-a a efeitos visuais, 3D, animação e vídeo. A partir de 2008, o freelancer acabou por ganhar notoriedade internacional com as suas diversas séries de fotografias, inspiradas no universo ficcional.

Nos seus trabalhos, o criador apresenta-nos a junção de fotografias aéreas, captadas com a ajuda de um drone, com outras imagens a partir do nível das ruas. Com o tratamento digital posterior, Aydin Büyüktas consegue ludibriar o observador, fazendo-o acreditar que o mundo é uma esfera. Dentro dela, habitam as nossas vidas.