Há quem se sinta sozinho toda a vida. E há quem nunca suspeite que essa solidão tem raízes profundas no passado. Muitas crianças são ignoradas durante a primeira infância sem que disso se apercebam. E mesmo que tomem consciência disso mais tarde, o mal já está feito. Partindo deste pressuposto, a psicóloga clínica Lindsay Gibson apresenta-nos no livro, agora publicado em Portugal, Filhos adultos de pais emocionalmente imaturos (edição Lua de Papel), o resultado de décadas de estudo sobre esta questão. A especialista percebeu que muitos dos seus pacientes se sentiam permanentemente sós, abandonas e traídos. Aqueles adultos que lhe entravam no consultório nunca tinha sentido uma verdadeira conexão emocional com a mãe ou com o pai.

Na obra que dá aos escaparates, a autora propõe ao leitor um autodiagnóstico, por forma a perceberem melhor a sua infância e as marcas que deixou. Mostra também como identificar os quatro tipos clássicos de pais imaturos, excerto que aqui publicamos:

Vejamos aquilo que categorizei como os quatro tipos principais de pais emocionalmente imaturos, todos eles particularmente propensos a criarem sentimentos de insegurança nos filhos. Embora cada tipo mine a segurança emocional do filho de formas diferentes, todos eles se relacionam com os filhos com empatia limitada e um apoio emocional inconstante, e a falta fundamental de sensibilidade é a mesma. Além disso, tenha noção de que cada tipo existe num espetro, do mais ligeiro ao mais severo, com graus variados de narcisismo. Em casos severos, o progenitor poderá ter problemas mentais ou maltratar física ou sexualmente os filhos.

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Os pais emotivos

Regem‑se pelos sentimentos, oscilando entre um envolvimento excessivo e um distanciamento abrupto. São dados a uma instabilidade e a uma imprevisibilidade assustadoras. Assoberbados pela ansiedade, dependem de outros que os estabilizem. Tratam pequenos percalços como o fim do mundo e veem os outros como salvadores ou desertores.

Os pais ambiciosos

São compulsivamente orientados por objetivos e estão sempre muitíssimo atarefados. Não conseguem parar de tentar aperfeiçoar tudo, incluindo os outros. Embora raramente façam uma pausa suficientemente demorada para sentirem uma verdadeira empatia pelos filhos, são controladores e interferem intensamente na gestão da vida dos filhos.

Os pais passivos

Têm uma mentalidade de laissez‑faire e evitam lidar com o que quer que seja perturbador. Os danos que causam são menos óbvios, mas não deixam de ter efeitos negativos. Depressa assumem um lugar secundário em relação a um companheiro dominante, chegando mesmo a permitir maus‑tratos e negligência, fingindo não ver. A sua estratégia de sobrevivência consiste em minimizar os problemas e em aquiescer.

Os pais que rejeitam

Têm uma série de comportamentos que nos levam a perguntar‑nos por que motivo terão sequer constituído família. Quer o seu comportamento seja ligeiro ou severo, não desfrutam de intimidade emocional e claramente não querem ser incomodados por crianças. Quase não têm tolerância em relação às necessidades dos outros e as suas interações consistem em dar ordens, explodir ou isolar‑se da vida familiar. Alguns dos tipos mais moderados poderão participar em atividades familiares estereotipadas, mas continuam a demonstrar pouca proximidade ou verdadeira interação. O que mais desejam é que os deixem em paz a tratar das suas coisas.