“Apenas os extraordinários pertencem ao reino de Ilya . . . Os excecionais. Os Elites. Os Elites possuem poderes há décadas, que lhes foram dados pela Peste, enquanto os que nascem Vulgares são apenas isso, banidos do reino e afastados da sociedade”. É desta forma que nos é dado o mote para o livro Powerless (edição Singular), obra que chega aos escaparates nacionais a 21 de março. Lauren Roberts, autora desta narrativa de fantasia, entrega-nos o primeiro volume de uma trilogia que incluirá Reckless e Fearless. Neste primeiro capítulo de uma obra que não enjeita a feição romântica, a autora apresenta-nos Paedyn Gray, uma Vulgar que se faz passar por Elite. Quando, sem suspeitar de quem se trata, salva um dos príncipes de Ilya, Kai Azer, vê-se atirada para as Provas da Purga, uma competição impiedosa para mostrar os seus poderes de «Elite». Conta-nos a apresentação feita ao livro que “se as provas e os adversários não a matarem [a Paedyn Gray], o príncipe que salvou acabará por fazê-lo quando perceber que esta rapariga não é quem diz ser. Embora para isso tenha de resistir à enorme vontade que também tem de a beijar”.

Quando Lauren Roberts não está a escrever sobre mundos de fantasia e relações amorosas, pode ser encontrada na cama a ler sobre ambos. Tem os passatempos de uma avó e de uma criança: gosta de tricotar, jogar laser tag, dormir na rede, fazer sopas de letras e colorir. Espera ter o privilégio de escrever palavras bonitas até ao fim dos seus dias.

Capítulo 1

Paedyn

Um líquido espesso e quente escorre-me pelo braço.

Sangue.

Estranho, não me lembro do guarda me ter atingido com a espada antes do meu punho lhe alcançar a cara. Apesar de ser um Flash, aparentemente não conseguiu mover-se tão rápido como o meu gancho de direita, em direção ao seu maxilar.

O odor a fuligem inunda-me o nariz, forçando-me a usar a mão encardida, para impedir que saia um espirro.

Seria uma forma patética de ser apanhada.

Quando tenho a certeza de que o meu nariz não vai alertar os Imperiais que estão à espreita por baixo do meu esconderijo, volto a colocar a mão na parede imunda contra a qual tenho as costas encostadas e os pés plantados à minha frente. Depois de respirar fundo, quase me engasgando com a fuligem, recomeço vagarosamente a subir. Com as coxas a arderem quase tanto quanto o meu nariz, forço o meu corpo a continuar a mover-se enquanto evito espirrar.

Escalar uma chaminé não é exatamente a forma como pensava passar a noite. O pequeno espaço faz-me suar, engolindo o medo antes de alcançar o topo do corredor apertado, ansiosa por substituir as paredes repletas de sujidade por uma noite estrelada. Quando a minha cabeça chega ao topo, espreito e engulo sofregamente o ar pegajoso, elevando-me de seguida, para ser logo bombardeada com uma nova mistura de odores ainda mais desagradáveis do que o cheiro nauseabundo a fuligem que se agarra ao meu corpo, à minha roupa, ao meu cabelo. Suor, peixe, especiarias e, tenho a certeza, algum tipo de fluído corporal, misturam-se para criar o aroma que rodeia Loot Alley.

Equilibrando-me no topo da chaminé, observo o meu braço peganhento no telhado sombreado. Quase que me tinha esquecido de o examinar, porque não senti a habitual dor aguda que, como lembrança, acompanha um golpe de espada.

Arranco uma tira de tecido da camisola suada que está colada ao meu corpo, e limpo a ferida.

Adena vai matar-me por lhe estragar a costura. Outra vez.

Fico surpreendida por não sentir a habitual pontada de dor enquanto esfrego o meu braço com o tecido áspero, impaciente por absorver a viscosidade.

E é neste momento que sinto o cheiro.

Mel.

O mesmo mel que pertence aos pequenos pães doces pegajosos que escorre dos muitos bolsos do meu colete esfarrapado e pelo braço – confundido com sangue. Suspiro, revirando os olhos a mim própria.

No entanto, é uma surpresa bem-vinda. Sem dúvida que estar encharcada de mel é bem melhor do que tentar lavar nódoas de sangue.

“Quem comete um homicídio durante o sonambulismo é culpado ou inocente?” Da pergunta nasceu o livro “Anna O”
“Quem comete um homicídio durante o sonambulismo é culpado ou inocente?” Da pergunta nasceu o livro “Anna O”
Ver artigo

Respiro fundo e olho para os prédios em ruínas e degradados, sombreados pelos postes de iluminação que pontilham a rua. Não há muita eletricidade aqui nos bairros de lata, mas o Rei generosamente presenteou-nos com alguns postes. Graças aos Volts e aos Académicos que usaram as suas habilidades para criar uma rede elétrica sustentável, tenho de me esforçar bastante para me manter nas sombras.

Quanto mais distante dos bairros de lata, mais as filas de lojas e casas melhoram lentamente de condição e tamanho. As barracas transformam-se em casas, as casas em mansões, até chegar ao edifício mais assustador de todos. À espreita através da escuridão, mal consigo distinguir as torres imponentes do castelo real e a cúpula inclinada da Arena Bowl que fica ao lado.

Os meus olhos voltam a fixar-se na rua larga que se estende diante de mim, examinando os prédios imprecisos à sua volta. Loot Alley é o coração dos bairros de lata, que alimenta o crime e o comércio por toda a cidade. Percorro as dezenas de outros becos e ruas que se estendem a partir dessa zona, perdendo-me no labirinto que é a cidade, antes de soltar um suspiro e um pequeno sorriso para a familiaridade da rua que se encontra por baixo de mim.

A minha casa. Mais ou menos. Tecnicamente, uma casa implica a existência de um teto.

Mas olhar para as estrelas é muito mais divertido do que olhar para um teto.

Sei bem do que falo, visto que costumava ter um teto para onde olhar todas as noites, na altura em que não precisava das estrelas para me fazerem companhia.

O meu olhar traiçoeiro percorre a cidade até ao local onde sei que a minha antiga casa se situa, entre as ruas Merchant e Elm. Onde uma pequena família feliz está provavelmente sentada à mesa de jantar, a rir e a discutir o seu dia…

Ouço um estrondo, seguido de um murmúrio de vozes que me arranca dos meus pensamentos tristes. Esforçando-me por ouvir, apenas consigo distinguir a voz abafada e profunda que pertence ao guarda que eu tão gentilmente libertei das suas funções há pouco tempo.

– … veio por trás de mim, silencioso como um rato, e depois… quando me apercebi, levei uma pancada no ombro e um murro na cara. Uma voz feminina muito irritada e estridente ecoa pela chaminé:

– Tu és um Flash, por amor da Peste, não é suposto seres rápido ou algo do género? – Ela inspira fundo. – Conseguiste ao menos ver a cara, antes de o deixares roubar-me? Outra vez?

“Quando olham para o espelho, o que veem? Um vencedor ou um vencido?”.  Schwarzenegger diz-nos “Faz-te Útil” e explica como
“Quando olham para o espelho, o que veem? Um vencedor ou um vencido?”. Schwarzenegger diz-nos “Faz-te Útil” e explica como
Ver artigo

– Tudo o que vi foram os olhos – murmura o guarda. – Azuis. Muito azuis.

A mulher protesta com irritação:

– Que útil. Vou parar todas as pessoas que vivem aqui no Loot para ver se os seus olhos correspondem à tua descrição vívida de «muito azuis».

Eu reprimo reações quando algo range do outro lado da sala, seguido por um coro de passos abafados. Pelo som da madeira a apodrecer sob vários pares de botas novas, deduzo de imediato que mais três guardas se juntaram à caçada.

E essa é a minha deixa.

Salto da chaminé e agarro-me à saliência do telhado, balançando as pernas para ficar pendurada acima da rua. Inspirando, solto-me e mordo a língua para não gritar quando a gravidade me puxa para o chão. Com um estrondo suave, caio sem graça numa carroça cheia de feno de um comerciante. A palha dura atravessa-me a roupa como uma das almofadas de alfinetes de Adena, e uma nuvem de fuligem e feno levanta-se com a brisa noturna quando salto para a estrada.

Retiro a palha do meu cabelo emaranhado e começo a minha viagem de regresso à Fortaleza, passando por carrinhos de comerciantes velhos, abandonados durante a noite, com as rodas desequilibradas sobre o lixo e bugigangas partidas. Os ladrões encostados nos becos ou escondidos entre edifícios sussurram entre si quando passo.

Sinto o peso da adaga enfiada na minha bota e relaxo com o conforto do aço frio enquanto passo por grupos de sem-abrigo que se amontoam para passar a noite. Consigo ver o brilho ténue dos campos de forças púrpura que protegem alguns, enquanto outros nem sequer têm uma habilidade suficientemente forte que lhes permita dormir em paz, que é a verdadeira razão pela qual chamam aos bairros de lata a sua casa.

Mantenho o meu passo rápido e firme e enquanto os meus olhos percorrem as vielas, sem baixar a guarda. Os pobres não discriminam. Um xelim é um xelim, e para o conseguir, eles não querem saber se atacam alguém que está numa situação pior do que a sua.

Vários guardas cruzam-se no meu caminho enquanto vagueio pelas ruas, obrigando-me a abrandar para me desviar. Todas as lojas, esquinas e ruas receberam a dádiva dos agentes da lei com fardas brancas e olhares de soslaio. Estes Imperiais brutos foram colocados em Loot Alley por decreto do Rei, devido ao aumento da criminalidade.

É evidente que não querem nada comigo.

Faço um desvio por um beco mais pequeno, dirigindo-me para um canto sem saída. Ali, há uma barricada de carrinhos de comerciantes em más condições, cartão, lençóis velhos e sabe-se lá mais o quê. Antes mesmo de chegar a meio caminho do monte de lixo a que chamamos casa, um rosto obscurecido por caracóis selvagens à altura dos ombros, surge por cima da Fortaleza.

– Conseguiste?!

Libertando as suas longas pernas do lugar onde está sentada, levanta-se sem esforço e atravessa a parede de um metro da nossa barricada de lixo sem pensar duas vezes, a correr na minha direção com tanta esperança nos olhos que até parece que lhe ofereci um verdadeiro teto e uma refeição quente. E embora não lhe possa dar nenhuma destas coisas, tenho algo muito melhor na sua opinião.

Resmungo.

– Sinto-me ofendida por teres duvidado de mim, Adena. Depois destes anos todos, pensei que tivesses um pouco mais de fé nas minhas capacidades.

Removo a minha mochila das costas e retiro uma seda vermelha amarrotada, incapaz de conter o meu sorriso enquanto um olhar de admiração se instala no seu rosto.

Com avidez, tira a seda das minhas mãos, passando os dedos pelas dobras suaves do tecido. Espreitando por entre a franja encaracolada que lhe cai nos olhos cor de avelã, olha para mim como se eu tivesse acabado de erradicar a Peste em vez de roubar tecido a uma mulher que não está muito melhor do que nós.

Powerless
créditos: Singular

Como se eu fosse a heroína e não a vilã.

O sorriso de Adena podia rivalizar com o sol que cai no deserto de Scorches.

– Pae, tu e os teus dedos malandros fazem magia, sabias?

Atira os braços à volta do meu pescoço, puxando-me para um abraço esmagador que faz com que mais mel escorra pelo meu colete e se acumule nos meus bolsos.

– Por falar em dedos malandros… – Solto-me do seu abraço e levo as mãos aos bolsos. Retiro seis pequenos pães doces esmagados, perdendo um pouco do seu aspeto apetitoso, apenas pelo feno que agora os decora.

Os olhos de Adena arregalam-se ao ver aquilo, antes de arrancar um da minha mão com a mesma sofreguidão com que arrancou o tecido. Vira-se a meio da mordidela e atravessa a nossa Fortaleza sem pensar duas vezes, sentando-se sobre os tapetes incolores e ásperos que se encontram no interior da barricada. Dá palmadinhas expectantes no lugar vazio ao seu lado e, ao contrário dela, salto,

sem elegância, por cima do muro antes de me poder sentar.

– Aposto que a Maria não ficou muito contente com o roubo. Outra vez. A pobre coitada devia aumentar a segurança – diz Adena entre dentadas, com um sorriso torto a juntar-se às migalhas no rosto.

Apesar de eu ter roubado a mulher pelo menos uma vez por mês durante os últimos anos, ela ainda só conseguiu concluir que eu sou um ele. Pelo menos está a tentar.

– Na verdade – digo com um encolher de ombros –, ela tem mais dois Imperiais na loja. Deve estar a ficar cansada de todos os pães doces roubados ao longo dos anos.

Adena estreita o seu olhar cor de avelã ao ver o meu sorriso.

– Graças à Peste que não foste apanhada, Pae.

Assim que a frase lhe escapa dos lábios, o meu maxilar contrai-se instintivamente enquanto o dela se abre a meio da mordida. Ela encolhe-se visivelmente, com as sobrancelhas franzidas, limpando a voz:

– Desculpa. É um mau hábito.

Os meus dedos vão até ao anel grosso que uso no polegar, rodando- o sem pensar, enquanto lhe devolvo um sorriso débil. Este tópico é um dos que normalmente tentamos evitar, mesmo que o assunto se tenha tornado subitamente constrangedor por minha culpa.

Tudo por causa de um momento de fraqueza do qual não gostaria de me sentir tão aliviada.

– Sabes que não são as palavras que me incomodam, mas sim…

– Mas sim o significado por detrás delas – diz Adena com um sorriso e uma imitação demasiado precisa da minha voz.

Quase me engasgo com o meu riso, num pedaço de massa doce.

– Estás a citar-me, A?

Em resposta, dá uma dentada no pão doce antes de declarar, de boca cheia.

– E não é a Peste que nos deixa doentes, é o que veio depois.

Eu aceno lentamente com a cabeça enquanto traço o padrão gasto do tapete, a sensação conhecida sob o meu dedo. A ideia de agradecer à Peste que matou milhares de Ilyans faz-me perder o apetite até para os pães doces. Agradecer à coisa que causou tanta dor, morte e discriminação.

Mas agora só querem saber quem é que a Peste não matou. O reino foi isolado durante anos para evitar que a doença se espalhasse pelas cidades vizinhas, e só os mais fortes de Ilya sobreviveram à doença que alterou a própria estrutura dos humanos. Os rápidos tornaram-se excecionalmente mais rápidos, os fortes tornaram-se imbatíveis, e aqueles que espreitavam nas sombras podiam revelar-se como sombras.

Dezenas de habilidades sobrenaturais foram concedidas apenas aos Ilyans, todas variantes da força, propósito e poder.

Dons que serviram como recompensa pela sobrevivência.

Esses são os Elites. São extraordinários. São excecionais.

– Apenas… – Adena pondera o que dizer, mexendo no seu pão doce enquanto se esforça para formar palavras. – Tem cuidado, Pae.

Se fores apanhada e não fores capaz de fugir…

– Eu vou ficar bem – digo com demasiada naturalidade, ignorando a preocupação que se apodera de mim. – Isto é que eu faço. O que sempre fiz.

Ela suspira através do seu sorriso, acenando com altivez.

– Eu sei, eu sei. Tu sabes lidar com os Elites.

Sinto novamente aquela onda de alívio, que me faz sentir simultaneamente culpada e grata por ela me conhecer verdadeiramente. Porque nem todos os que sobreviveram à Peste tiveram a sorte de ser dotados de habilidades. Não, os Vulgares eram apenas isso – vulgares. E durante as décadas seguintes à Peste, os Vulgares e os Elites conviveram em paz.

Até que o Rei Edric decretou que os Vulgares já não podiam viver no seu reino.

Foi há mais de três décadas que a doença passou por cá. Devido ao surto do que era provavelmente uma doença comum, os Curandeiros do Rei aproveitaram a oportunidade para afirmar que os Vulgares eram portadores de uma doença indetetável, afirmando que essa era provavelmente a razão pela qual não tinham desenvolvido habilidades. A exposição prolongada aos Vulgares tornou-se prejudicial tanto para os Elites quanto para os seus poderes e, com o tempo, os Vulgares estavam a diminuir as habilidades que os Elites tanto protegiam.

Luto contra a vontade de revirar os olhos ao pensar nisso. O meu pai acreditava que tal não passava de um disparate e eu não penso de forma diferente. E mesmo que tivesse provas de que o Rei mentia com todos os dentes, não é como se uma rapariga dos bairros de lata estivesse em posição de ser credível.

Mas o Rei não podia permitir que a sua sociedade de Elite fosse debilitada ou inferior por meros Vulgares. A extinção não era uma opção para os extraordinários.

E assim começou a Purga.

Mesmo agora, décadas depois, as histórias dos corpos que se espalharam pela areia sob o sol escaldante são contadas casualmente à volta de fogueiras, histórias assustadoras sussurradas entre as crianças.

Uns dedos pegajosos fecham-se sobre os meus, o mel que cobre as mãos de Adena é tão doce como o sorriso que partilha comigo. O meu segredo está guardado no brilho dos seus olhos, na lealdade que reveste a sua expressão. Passei tanto tempo da minha vida resignada ao facto de que nada seria real. Cada amizade falsa, cada bondade calculada.

«Esconde os teus sentimentos, esconde o teu medo, e mais importante, esconde-te atrás da tua fachada. Ninguém pode saber, Paedy. Não confies em ninguém e em nada a não ser nos teus instintos.»

A voz terna do meu pai é estranhamente assustadora quando ecoa na minha cabeça, lembrando-me que cada parte da minha vida deve ser uma mentira e que a rapariga sentada à minha frente deve ser tão falsa como o resto do reino.

O egoísmo só me roubou a sanidade por uma noite, mas foi o bastante para nos pôr em perigo.

– Muito bem, já chega de falar da Peste – diz Adena alegremente, examinando o beco antes de acrescentar – e da tua… situação.

Nem me dou ao trabalho de abafar o meu suspiro.

– Parece que dois anos não te deram tempo suficiente para praticares a subtileza, A.

Duvido que me tenha ouvido. Duvido que consiga concentrar-se em algo que não seja o tecido que agora desliza entre os seus dedos. Com os olhos cor de avelã a examinar os materiais de costura, Adena abandona a nossa conversa para divagar sobre as peças que vai fazer com a nova seda. As suas mãos castanhas e quentes deambulam pelos restos de tecido à luz do candeeiro, começando a dobrar as bordas, a prender os cantos, a picar os dedos, reclamando sem parar.

Entramos no tipo de conversa fácil que só surge depois de passarmos anos a sobreviver juntas nas ruas, o que torna fácil interpretar as palavras distorcidas de Adena em torno dos alfinetes pressionados entre os seus lábios. Viro-me para o lado, ficando finalmente em silêncio enquanto observo os seus dedos firmes e a testa franzida, demasiado absorvida pelo trabalho para conseguir dormir.

Uma dor lancinante de lado faz com que os meus olhos fechados se abram, esquecendo a sonolência. A pedra irregular do chão do beco deixa-me a resmungar.

– Atenta ao que te digo, um dia vou roubar uma cama.

Adena revira-me os olhos, tal como faz todas as noites em que faço a mesma promessa vazia.

– Só acredito quando sentir, Pae – Adena começa a cantarolar.

Virei-me cerca de uma dúzia de vezes antes de um cobertor áspero e enrolado colidir com a minha cabeça.

– Se não parares de te contorcer, juro que te coso ao chão – promete

Adena com toda a doçura de um pão doce.

– Acreditarei quando sentir, A.