Durante alguns anos, Joyce Fernandes trabalhou como empregada doméstica. Durante o período que exerceu funções em casa dos patrões foi alvo de abusos que durante muitos anos permaneceram em segredo.

No final de julho, Joyce decidiu criar a hastag #euempregadadoméstica de forma a partilhar alguns dos comentários depreciativos e ofensivos que ouviu durante essa fase da sua vida.

“Joyce, foste contratada para cozinhar para a minha família, e não para ti. Por favor, traz uma marmita e um par de talheres e se for possível come antes de nós. Não é nada pessoal, é só para mantermos ordem na casa”, escreveu a jovem, de 31 anos, que atualmente é rapper e professora de História, na rede social Twitter.

De um dia para o outro, o post tornou-se viral, conseguindo milhares de partilhas. A pensar nas centenas de casos comoventes que teve conhecimento através das redes sociais, Joyce criou a página de Facebook 'Eu, empregada doméstica' de forma a que outras mulheres pudessem partilhar as suas histórias.

Um dos casos mais chocantes é o da empregada de 76 anos que estava proibida de utilizar o elevador principal do prédio onde trabalhava, sendo obrigada diariamente a subir vários andares a pé. Outras histórias focam-se em casos de assédio sexual no local de trabalho ou em situações de empregadas que eram obrigadas a trabalhar o dia inteiro de estômago vazio.

"O meu objetivo é provocar e dar voz a quem não tem voz. Esse tipo de tratamento desumano acontece entre quatro paredes e essas mulheres, a maioria negras, não têm com quem desabafar", afirmou em entrevista à cadeia de televisão BBC Brasil sobre este projeto. "Quero expor o que está a ser varrido para debaixo do tapete. É preciso humanizar a relação entre patrões e empregados. Muitas vezes, naturalizamos agressões e opressões. Isso está errado", explicou.

O sucesso deste projeto foi tão grande que Joyce Martins já está a preparar novidades para breve. "E os relatos estão a caminha para outras plataformas", escreveu na página de Facebook.