Há um ano e meio trocou o banco pelo negócio dos trapos, é dona da Trapizonga e coleccionadora de cães.

Vende roupa reciclada para oito lojas espalhadas pelo país, mas a sua paixão são os cães. Tanto que agora vai criar Westies, uns cachorros amorosos todos brancos com os pelos no ar.

Para além dos 12 cães que lhe invadem a casa, tem quatro filhos entre os sete e os 17 anos. Uma casa e uma vida cheia.

Trapizonga quer dizer o quê?

Confusão de trapos.

Qual é o seu negócio?

Tenho uma empresa de roupa reciclada. Reutilizamos roupa, compramos restos de colecção de stock, roupa pouco usada e vendemos. Podem ser colecções de passagens de modelos, produções de filmes, companhias de teatro, tudo.

Compra onde?

Não compro nada em Portugal, porque aqui não há empresas que se dediquem a este tipo de revenda. Compro sobretudo na Holanda, Bélgica e Estados Unidos.

Vai a esses países com regularidade?

Vou com alguma frequência.

Qual é o seu critério para escolher estas colecções?

Compro tudo o que é de marca. As compras são feitas ao quilo, em grandes quantidades, e a sorte depende dos carregamentos.

Quantos quilos de roupa compra por ano?

Mais de cinco mil quilos. Vendo nas minhas lojas da Rua de Arroios e da General Roçadas, em Lisboa, e, fora de Lisboa, em Massamá, Almada, Aveiro, Viseu, entre outras. No total são oito lojas.

As lojas são todas suas?

Não. As lojas fora de Lisboa são franchisadas. A próxima abertura vai ser na Cotovia, perto de Sesimbra.

Que tipo de clientes vêm às suas lojas?

Tenho clientes de todas as idades e das mais variadas profissões. Temos clientes que conhecem a marca e por isso sabem o que estão a poupar, como a cliente que não liga e quer o produto muito barato sem marca. É um negócio transversal.

Saiba mais na próxima página

Quando diz que recicla roupa, isso quer dizer o quê, que lhe muda o feitio?

Temos produtoras de teatro e de cinema que fazem isso. A roupa já nos chega toda desinfectada, mas, se estiver manchada, nós lavamos, senão, passamos a ferro, tratamos e vendemos como nos chega.

Quanto custa a sua roupa?

Temos peças a partir de um euro até 750 euros, que pode ser um casaco de vison.

Este negócio é bom para uma altura de crise?

Depende. Se alguém do governo vai para a televisão, as vendas param. Mas, num balanço geral, o negócio está a correr bem.

Tem quantos filhos?

Tenho quatro: a mais nova tem sete anos, outra 12, um rapaz com 16, e a mais velha vai fazer 18. Eu e o meu marido ainda os levamos todos os dias à escola e vamos buscá-los.

Consegue fazer esta gestão familiar com tranquilidade?

Tem de ser. Trato dos filhos, da casa, faço compras, tenho 12 cães de várias raças e agora vou fazer criação de Westies. Gosto muito de cães, são completamente irresistíveis e desfruto muito.

Há quantos anos tem cães?

A cadela mais velha tem 15 anos, é uma rafeira que encontrámos quanto era bebé num contentor do lixo. A partir daí comecei a comprar cães. Tenho dois oferecidos, e vou buscar os outros onde calha. Fui buscar a última à Holanda.

A decisão de criar cães é mais um desafio?

Completamente. Comprei a primeira cadela para exposição e venderam-me um charuto e, para resolver o problema da primeira, a criadora vendeu-me um cão sem testículos que é logo à partida desclassificado. Então achei que não era sério e que devia haver ética neste tipo de coisas. Apesar de ser um negócio de cães não tem de ser um mundo cão!

Quando vai finalmente levar o primeiro cão a uma exposição?

No dia 29 de Maio. É o Nuno Passos, um importante criador de Schnauzers, que está a treinar o minha cadela e vai apresentá-la.

Apaixonou-se por esta raça?

Apaixonei. São muito independentes, muito fofinhos, são pequeninos e não largam pelo. A seguir vou fazer criação de Schnauzers, também são uns cães maravilhosos e muito simpáticos.

Saiba mais na próxima página

Sabe ensinar os seus cães?

Não, sou uma indisciplinada. Por isso é que o criador de Schnauzers tem lá a minha Westie para a ensinar. Os meus cães são criados com festinhas, colinho e beijinhos.

Os seus filhos também gostam dos cães como a mãe?

Gostam, mas não são tão entusiasmados. Acham que são demasiados.

O que faz aos cães quando vai de férias ou de fim-de-semana?

Vão connosco para todo o lado. Tenho cintos de segurança no carro e levamo-los para a nossa moradia de Sintra onde temos uma piscina de água aquecida e eles também tomam banho.

Fala com muito mais entusiasmo dos cães do que da roupa!

Os cães brincam connosco, dão-nos beijinhos… Nada se compara.

É mais gratificante este lado dos cães e dos filhos ou o lado empresarial?
O familiar. Criar filhos e cães é o melhor que há. Ter empresas hoje em dia é muito stressante. Há todos os dias impostos para pagar, é um desgaste enorme diário e o dinheiro não compensa tudo. Prefiro ter um bocadinho menos e apostar mais na minha família e no tempo que lhes dedico.

Onde estudam os seus filhos?

No Instituto Espanhol porque eu sou espanhola, de Barcelona. A última vez que me instalei definitivamente em Lisboa foi há dez anos. Até aí andava sempre de um lado para o outro. Ainda agora vou duas ou três vezes por ano a Barcelona, sempre sozinha matar saudades.

Os seus filhos são bons alunos?

São. Uns melhores, outros piores, mas não me têm dado desgostos. A minha filha mais velha já vai este ano para a faculdade e vai tirar a carta.

Texto: Palmira Correia