Vive a vida como se os dias tivessem mais do que 24 horas, e olhando para o seu currículo quase acreditamos que têm! É presença assídua na televisão, sobretudo na SIC Mulher onde assina “Amor sem Limites”, título do seu primeiro livro, que foi um sucesso de vendas, é médica do Hospital Santa Maria e dá consultas na Clínica do Homem e da Mulher, e no Hospital da Luz, para além de inúmeras palestras e formações.

Maria do Céu Santo é especialista em Ginecologista e Obstetrícia, o obteve formação específica em Barcelona, Paris e Bruxelas, uma pós graduação em medicina sexual e outra em anti-envelhecimento. Apaixonada pela profissão, a sua missão é a promoção do bem estar e melhoria da vida sexual e afetiva das mulheres.

A sua principal característica é deixar-nos apaixonados pelas suas palavras, abordando os temas considerados tabu de uma forma tão natural como respirar!

O que é que a apaixona na medicina e em particular na sua especialidade?
Escolhi esta especialidade porque é médico-cirúrgica, ou seja, consigo tratar medicamente muitos dos problemas e os que não têm solução médica têm solução cirúrgica. Por outro lado, tem uma parte mágica da vida que é o nascimento, acompanhando a evolução de uma gravidez que culmina com o momento mágico da vida do casal que é o nascimento de um novo ser.

Em que é que as mulheres portuguesas mudaram nos últimos 30 anos?
Com o aparecimento das telenovelas brasileiras, as mulheres começaram a questionar-se se haveria uma sexualidade melhor do que a que tinham. Nos últimos três ou quatro anos está a haver uma nova mudança na vida de algumas mulheres no grupo etário dos 30 anos, enquanto as gerações anteriores queriam a todo o custo uma carreira profissional, hoje em dia querem um maior número de filhos, e quando o marido tem disponibilidade financeira, prescindem da sua carreira e ficam em casa ou arranjam um trabalho em part time.

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A dinâmica dos casais também mudou?
Está a mudar, porque a estrutura económica e familiar é mantida pelos dois, e os papéis estão mais equiparados. Quanto à sexualidade, está pior, porque na altura em que as mulheres estavam em casa tinham mais disponibilidade física para a relação.

Qual pensa ser o verdadeiro inimigo dos casais hoje em dia?
A rotina. A sexualidade diminui ao fim de coabitarmos cerca de três anos com o parceiro. Mas há boas rotinas, como por exemplo o beijinho de bom dia e o de boa noite, ir os dois ao mesmo tempo para a cama e não adormecer zangados, há sempre uma maneira de fazer as pazes antes de adormecer!

Como é que se combate a rotina do dia-a-dia?
Criatividade e inovação são as palavras-chave. Para sair da rotina temos de ligar o GPS da vida sexual e mesmo estando casados, continuar a ser namorados e manter o jogo da sedução. Ninguém adivinha o que desejamos se não o dissermos, por isso a comunicação construtiva é fundamental para um bom relacionamento.

A crise pode afetar a vida a dos casais?
Mesmo em época de crise podemos fazer muita coisa a custo zero, como passear de mão dada como turistas pela cidade ou pela praia. Ver o pôr do sol e namorar não custa dinheiro e dá prazer, e se tem filhos, pode pô-los em casa dos avós ou de amigos e passar uma noite sozinhos, mesmo em casa. Manter a relação satisfatória dá trabalho, mas o resultado compensa, pois não há divórcios felizes nem casamentos perfeitos!

Como é que um homem e uma mulher devem lidar com as suas habituais diferenças no que toca ao desejo sexual?
Sabemos que fisicamente homens e mulheres são diferentes, assim como as suas necessidades. Deve haver tolerância e cedência. Sabemos que maioritariamente os homens têm mais libido, mas às mulheres só custa passar a inércia de começar a relação sexual, porque depois é igualmente fantástica.

O que representa a maternidade na vida e no corpo de uma mulher?

A partir do momento em que se é mãe, o coração fica sempre fora do peito. Com o cansaço as mulheres esquecem-se de cuidar da aparência, mas o conselho que dou sempre é, se é mãe não se esqueça de si como mulher, senão o seu marido vai-se esquecer da mulher por quem se apaixonou.

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E o que representa na vida do casal?
A prioridade passa a ser o filho, e o casal esquece-se de voltar a namorar e de ter os seus próprios momentos a dois. Um dos principais problemas de muitos casais é que com a chegada do novo elemento da família, que não traz manual de instruções, deixam de ter disponibilidade para fazer amor, o que é compreensível nas primeiras semanas de vida do bebé, mas pode ser ultrapassado com força de vontade.

Se tivesse um único conselho a dar a todos os casais, qual seria?
Tolerância e compreensão, prestando atenção às necessidades do parceiro e não apenas ao que faz falta a si próprio, porque se o outro estiver bem, também estará mais disponível para dar. O casamento é uma sociedade a dois, se um dos elementos abrir falência, a sociedade desfaz-se.

Para além da medicina tem outros interesses?
Gosto de cinema e de ler, sou mesmo uma viciada em leitura. De tal forma que quando vamos para algum lado, o meu marido prefere que eu leve revistas, porque se eu levar livros, queixa-se que vai sozinho de férias... Também adoro SPA, estou convencida que aumenta o meu QI.

Nos programas de televisão usa uma linguagem muito acessível e sem preconceitos. É uma forma de romper com os tabus?
Comunicar é uma forma de passar uma mensagem que tem de ser acessível a todos. Há muitos preconceitos que dificultam a qualidade de vida das pessoas.

Os problemas sexuais mudam em função da idade das mulheres?
Sim. As adolescentes têm um determinado tipo de problemas, as mulheres adultas têm os problemas da idade fértil, e as que estão em menopausa têm outros. Todos estes grupos têm terapêuticas adequadas e muitas vezes fáceis de resolver.

Os mais difíceis de resolver são os problemas da menopausa?
De maneira nenhuma. Este grupo queixa-se da diminuição do desejo e do orgasmo. No entanto, este problema, na maior parte dos casos, consegue-se resolver, por exemplo: o clítoris tem um prepúcio como o pénis, que por vezes, cola. Se usarmos um cotonete para o descolar, a sensibilidade muda totalmente e a qualidade da relação é muito melhor! Costumo dizer a brincar que já recebi muitos ramos de flores à custa disso...

Também aconselha frequentemente a cosmética vulvar?
As mulheres põem creme na cara mas esquecem-se de aplicar na vulva e vagina. Na menopausa, a vulva e a vagina ficam mais secas e perdem a elasticidade. Sabe, já temos mais de um milhão e meio de mulheres na menopausa e ainda sabemos pouco de anti-envelhecimento. Por isso, há três anos fiz uma pós-graduação em anti-envelhecimento na Universidade de Sevilha, o qual tem sido muito útil.

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Já escreveu três livros, Amor sem Limites, Amor sem Dúvida e Sorria com o Corpo Inteiro. Ainda lhe sobra tempo para escrever?
Aproveito as horas em que estou à espera que as grávidas façam a dilatação para escrever. Escrevo à mão e depois em casa é que organizo tudo. Atualmente estou a escrever um livro para grávidas.

Alguma vez imaginou que a sua vida ia levar este rumo?
Nunca pensei em escrever nem em fazer nada na comunicação social. Fui ultrapassada pelos acontecimentos.

Qual é o seu objetivo com os programas de televisão?
Tentar que as pessoas sejam mais positivas. Sexualidade com afeto é essencial. E, como costumo dizer, temos de saber fazer o casting da pessoa com quem vamos viver. Tem de ser alguém com quem não tenhamos medo de envelhecer!

O trabalho é uma vertente muito importante da sua vida. E a maternidade?
Tenho dois filhos, o David e o Gonçalo, com 30 e 32 anos, e fizeram os dois uma trajetória internacional. Assim que terminaram os cursos de gestão na Universidade Católica foram para o estrangeiro estudar e depois ficaram a trabalhar.

Esse percurso tem a ver com as viagens que faziam com os pais?

Talvez. Quando entraram na adolescência eles organizavam os programas de férias e nós íamos com eles. Levámo-los a Nova Iorque, Washington, Londres, Paris, às grandes cidades e a muitos espetáculos e parques temáticos que entendemos serem importantes para a sua formação. Hoje, qualquer deles é um cidadão do mundo.

Eles vêm cá com regularidade?
Vêm geralmente nas férias e raramente faltam nas datas importantes. Todos os dias falamos e partilhamos os projetos. Quando estou na televisão ou a escrever, sugerem livros e sítios na internet. Ajudam-me, mas também são muito críticos.

E o seu marido, também a ajuda?
Apoia em tudo o que pode. Começamos a namorar quando eu tinha 20 anos. Apesar de o meu marido ser engenheiro e também ter uma vida profissional muito ativa, temos partilhado as carreiras e crescido juntos.

Sente-se realizada?
Completamente. Tenho uma teoria: tudo aquilo que dá prazer hoje e não estrague o amanhã, faça!

Texto: Palmira Correia