A presidente da Delegação da Cruz Vermelha da Costa do Estoril é uma mulher de gostos simples que dedicou a sua vida à gerontologia e a promover a condição do idoso.

Manuela Filipe recebe-nos de sorriso aberto na sede da delegação, paredes meias com a Academia Sénior, a Residência Sénior e o centro de fisioterapia  e especialidades médicas, obra que ajudou a criar nos últimos 15 anos.

Qual é a sua formação académica?

Tenho várias formações. O primeiro curso que fiz foi enfermagem, e vou-lhe dizer porquê: na altura, era o único curso que havia na Cruz Vermelha. Esta sempre foi a minha instituição de coração.  Exerci enfermagem durante quatro anos e foi uma área que me deu muita sabedoria e bons conhecimentos.

Como é que aparece a gerontologia na sua vida?

Fui a Espanha fazer o curso de gerontologia, porque era a área que realmente me apaixonava, e também me licenciei em aptidão física e saúde e fiz Reabilitação porque sempre fui muito vocacionada para os estilos de vida saudáveis, embora atualmente me dedique à gerontologia/gestão.

E porquê o seu interesse pela população mais velha?

Primeiro, porque fui educada com os meus avós, que me deram uma boa imagem dos mais velhos. Depois, porque esta população, está no fim da vida, enquanto a criança está no início. Ambos são os dois extremos da vida. E essa é a luta que eu tenho pelos mais velhos, felizmente é a área a que a Cruz Vermelha da Costa do Estoril, mais se dedicou. Neste momento, 80 por cento dos nossos utentes são idosos. Mas também temos um ATL, para crianças, no Bairro da Adroana/Alcabideche.

Há quantos anos trabalha na delegação da Cruz Vermelha da Costa do Estoril?

Vim para aqui há cerca de 15 anos. Tínhamos uma casa velha e fomos avançando. Mas, como a área que eu gosto é a gerontologia, começámos a pensar nos mais velhos e fundámos uma Academia Sénior, onde hoje temos mais de mil alunos, e mais de 90 professores voluntários...

É uma Universidade Sénior aberta a toda a gente?

Sim. Toda a gente pode vir aqui e desenvolver novas competências. Pode-se aprender inglês, alemão, aprender a pintar, tocar guitarra, cavaquinho, fazer ioga, tai-chi, aprender costura... temos uma panóplia de serviços muito interessante, e, além disso, temos a vertente da residência sénior.

Quantas pessoas moram aqui?

Cerca de  40. A grande vantagem de aderir à nossa residência sénior é ter aulas, cabeleireiro, fisioterapia convencionada, um bar e um refeitório que funciona como restaurante aberto ao público, portanto, o residente não está isolado numa casa, aqui partilha o espaço com pessoas de todas as idades.

É o projeto de que mais se orgulha?

Sem dúvida. Quer a residência quer os outros serviços são abertos à comunidade. Temos desenvolvido excelentes parcerias na Linha, sendo a mais recente com a Clínica Europa, que é, do nosso ponto de vista, uma excelente parceria.

Apoiam-se mutuamente?

Sim. Começamos a trabalhar no início de Outubro e a principal vantagem é potenciar respostas. Vamos fazer a fisioterapia das pessoas que são operados na Clínica Europa. Aqui as pessoas podem usufruir de todos os acordos para recuperar das intervenções cirúrgicas. E, se precisarem, podem ter quarto também.

Qual é a vossa capacidade de resposta?

Já atendemos 220 pessoas por dia só na fisioterapia e temos acordos com seguradoras, ADSE, ARS, etc. Também temos clínica dentária, oftalmologia, embora o nosso forte seja a fisioterapia, e vamos ter uma coisa absolutamente inédita: centro avançado de tratamento de feridas!

Um centro  só para tratar feridas?

Sim. Vamos ter um conjunto de médicos diferenciados que se uniu e ficaram a trabalhar connosco, neste espaço. Estas é que são as áreas que queremos continuar a desenvolver: tratamento de feridas, fisioterapia, residência sénior, Clube Sénior e Academia Sénior (fixa e itenerante).

Como é que as pessoas podem beneficiar destes serviços.

Basta vir cá inscrever-se ou telefonar. Somos muito abertos. Claro que temos um limite mas tentamos sempre encontrar uma solução, aliás, somos conhecidos por isso. Quando excedemos a lotação, temos acordos com hotéis e levamos lá os serviços.

As vossas iniciativas vão ao encontro dos gostos dos mais velhos?

Posso garantir-lhe que não organizamos uma única coisa para velhos, só desenvolvemos projetos para pessoas menos jovens, respeitando o limite das suas capacidades. Temos noites boémias, recriamos um bar todos os meses, e este ano letivo vamos ter  tertúlias com uma figura pública todos os meses.  Nesta iniciativa cabem pessoas de todas as cores e de todas as idades, ricos ou pobres. É uma casa aberta às pessoas.

O maior problema dos velhos é a solidão?

A solidão e a doença, mas o maior de todos é a solidão. Antes de tudo a pessoa sente-se só e muitas vezes é a solidão que o leva à doença. E isso toca-me profundamente. Felizmente, o nosso País tem desenvolvido vários projetos para apoiar os mais velhos. Quero sublinhar que localmente a Câmara de Cascais tem feito um trabalho notável na área da terceira idade.

Trabalha muitas horas?

Trabalho todo o dia.

E quando não está a trabalhar, o que lhe dá prazer?

Sou uma pessoa simples, de gostos simples: gosto de andar a pé, de conversar e de rir. Nasci em Sintra mas moro em Cascais há mais de 30 anos, e tenho uma casa de fim de semana, nas proximidades das Azenhas do Mar.

Recebe amigos em casa?

Recebo e adoro cozinhar. Sou a continuidade da minha avó que sempre teve a casa cheia de pessoas. E eu tenho essa sorte: a minha casa tem sempre muitos amigos e orgulho-me de reunir, sobretudo na casa de fim de semana, que é quando tenho mais tempo, pessoas dos mais variados setores.

Está bronzeadíssima. Gosta de apanhar sol?

Não sou muito de estar deitada ao sol, mas como tenho uma casa perto do Mar e da Serra de Sintra e como tenho muita melanina, estou bronzeada o ano todo. De facto tenho este ar de férias, mas estou sempre a trabalhar.

Tem uma fotografia do Papa João Paulo II na parede. É crente?

Sou profundamente crente. Para mim, quem não nasceu com fé, é muito complicado. Quem nasceu com fé, é uma sorte!...

Está bem com a vida e com o que conseguiu?

Estou muito bem.

Qual é o seu sonho?

Ter podido chamar mãe. Não tive essa possibilidade porque a minha mãe morreu quando eu era muito pequenina e senti muito a falta dela.

E para o país. O que mais deseja?

Gostava que todos os portugueses, voltassem a acreditar e a sorrir muito, porque acho que somos um país de gente de grande valor e de bem.

Acredito que vamos vencer!