Está em antena há 34 anos.

Começou no Canal 2 pela mão de Joaquim Letria, ao que se seguiram todos os serviços de informação do canal público.

Esteve 12 anos no Telejornal e agora já soma uma dezena de anos, primeiro no Regiões, e agora no Portugal em Direto. Com um talento inato para a pintura, fez exposições que encheram páginas de jornais e revistas mas ultimamente pinta só para si. Fomos recordar a carreira de Dina Aguiar.

O seu percurso na RTP começou há quantos anos?

Em 1978. Entrei por indicação do Joaquim Letria. Tinha feito o percurso todo como estudante universitária e estava na Rádio Estudantil que entretanto foi fechada na sequência daquele período conturbado a seguir ao 25 de Abril. Nessa altura trabalhava no turismo estudantil que também fechou, e, de um momento para o outro, vi-me desempregada.

Aí recorreu ao Joaquim Letria?

Lembrei-me dele porque tinha-o entrevistado para a Rádio Estudantil e liguei-lhe para ver se ele sabia de algum lugar numa rádio, nunca me passou pela cabeça a televisão. Por coincidência, nessa altura estava a arrancar o Canal 2, e ele mandou-me falar com o jornalista Hernâni Santos responsável pelo lançamento da informação naquele canal.

Correu bem a sua primeira reunião para trabalhar na televisão?

Claro que sim. Foi uma conversa rápida, pois apesar de ir por indicação do Joaquim Letria, tinha que superar a seleção e submeter-me a testes e provas. Quando lá cheguei estavam cerca de 10 pessoas e, entre elas, a Margarida Marante. Fomos selecionadas as duas.

Soube logo que tinha sido selecionada?

Não… Soube mais tarde quando fui chamada. E parece que a experiência da rádio foi uma mais-valia porque, segundo me disseram, a minha voz e presença foram determinantes.

Começou logo a apresentar?

Em princípio, quem ia apresentar era a Margarida Marante, mas, naquela altura, ela ainda era muito novinha, só tinha 18 anos enquanto eu já tinha 23 ou 24… e por isso à última da hora, ou seja, no dia antes de arrancar o canal, disseram-me que esse trabalho seria para mim, porque eu tinha um ar de mais credibilidade.

Ficou assustada?

No início fiquei mas fui sempre muito apoiada por toda a equipa de luxo com quem tive o privilégio de trabalhar, jornalistas como Mega Ferreira, Joaquim Letria, José Rocha Vieira, Diana Andringa, Solano de Almeida, Joaquim Furtado, Miguel Sousa Tavares, Carlos Pinto Coelho. Para mim foi de facto um momento único do jornalismo… uma escola fantástica para quem estava a começar ainda por cima porque na altura não havia curso superior de jornalismo.

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Foi um percurso rico?

Foi aí que tudo começou e não podia ter começado melhor. A Informação 2 foi, de facto, a grande Escola! Depois, e mais uma vez por razões políticas, a Informação 2 acaba. Logo a seguir fui para o Canal 1, e aí mantive-me na apresentação, onde passei por todos serviços de informação, desde o 24 Horas, o Jornal da Tarde que tinha uma intervenção em direto de Lisboa, Jornais intercalares, e, finalmente, o Telejornal onde estive 12 anos. Tudo isto intercalado com o trabalho de reportagem. Fiz parte também da equipa do Chá das Cinco.

Há quanto tempo faz o Portugal em Directo?

Há quase sete anos. Mas comecei com o País Real, depois Regiões, há cerca de 15 anos. Quem me convidou foi o Joaquim Furtado e o Solano de Almeida. Embora tenha recusado no início hoje em dia costumo dizer que o programa me estava destinado e hoje o Portugal em Directo (PD) é como se fosse o programa da Dina. (risos)

É seguramente a jornalista há mais tempo na antena na RTP?

Com continuidade, penso que sim, devo ser a pessoa com mais horas de antena. Orgulho-me de ver tanta geração a crescer comigo e vou acabar por ficar na história da televisão, embora a RTP não valorize isso, não o referencie quando se faz a história da casa… Raramente faço parte dela! Mas não acho que seja por mal!

A que se deve a sua longevidade na RTP?

Deve-se à minha humildade e sobretudo devido à minha ligação à fonte, ou seja a Deus (sou crente embora não tenha religião nenhuma). Ao longo da minha vida tenho feito um trabalho de harmonização interior e é essa paz, a alegria e amor que procuro levar todos os dias às pessoas que me veem. E então no momento que vivemos, as pessoas precisam cada vez mais de boas energias à sua volta …

Isso reconforta-a?

Sou um ser humano como outro qualquer e vejo todas as pessoas como uma extensão de mim própria, uma extensão dessa fonte, de Deus e do universo, e estamos aqui todos numa viagem fantástica, a tentar fazer cada um o seu melhor. E, como eu digo no final do programa, temos todos de nos agarrar ao lado mais positivo da vida. É o que eu faço sempre. Por isso, encontrei a minha paz e a minha felicidade… a minha grande felicidade seria conseguir contagiar as pessoas que me vêm com esta minha boa energia.

Se nós fizermos individualmente o nosso melhor, o coletivo também melhora?

A mensagem é essa. Eu não posso melhorar a minha vida se estiver permanentemente concentrada no meu lado negativo e o que ainda é pior no lado negativo dos que nos cercam… A maioria das pessoas vive mais a vida dos outros do que a sua própria. Ou seja, fala-se mais dos outros para nos distrairmos de nós, ou para evitarmos enfrentar-nos.

Há um momento alto na sua carreira?

É o presente. O momento alto é sempre aquele que estou a viver. Mas claro, que houve momentos muito bons. Mas são passado e o passado para mim não tem importância.

E as pinturas? Fazia retratos fantásticos…

Estão congeladas. Continuo a pintar mas só para mim, ao meu ritmo, sem estar preocupada com as exposições, a última foi em 2005 e depois disso fiz mais duas com a minha filha. De resto, participo apenas em coletivas, em especial as da AIA, Associação Internacional de Artistas de que faço parte.

Qual é a profissão da sua filha?

É licenciada em Belas Artes, mas faz produção de espetáculos e não só. Mas agora está no desemprego, embora trabalho não lhe falte já que tem duas filhas, e eu duas netas, pois!

Está derretida com as suas netas?

Estou, embora não seja uma avó-galinha porque não tenho tempo para isso. Mas procuro sempre que acabo o programa estar com elas para irmos fazendo história juntas. E está a ser uma experiência muito gratificante.

Qual é o seu maior sonho?

Não gosto de sonhar. A vida já é por si uma ilusão, um sonho. Pura ficção! Embora seja um filme fantástico. Adorava fazer um programa ao estilo da Oprah, em que pudesse, dentro desta onda, levar as pessoas a refletir sobre a essência da vida, e aprendermos juntos a tirar melhor partido de nós próprios e da vida.

Sentir-se-ia confortável num programa com estas características?

Não tenho a veleidade de achar que sei alguma coisa, também estou a aprender, mas tenho dentro de mim um conhecimento e alguma “sabedoria” que eu sinto que pode ajudar os outros. E, depois será sempre uma aprendizagem e uma reflexão conjunta, com exemplos de vida e especialistas competentes.

Texto: Palmira Correia