O ano de 2023 foi marcado por uma forte subida da inflação e das taxas de juro que afetou o orçamento familiar da maioria dos portugueses. Neste cenário, é normal que tenha feito alguns ajustes e até tenha cortado em certas despesas.

Mas se, mesmo assim, sente que ainda precisa de ganhar uma folga financeira, conheça de seguida, sete dicas para organizar as finanças pessoais antes de entrar em 2024.

1 – Reduza os encargos com o seu crédito habitação

Se tem um crédito habitação com uma taxa variável ou mista (em período variável), este ano viu a sua prestação mensal disparar. Ainda que não seja possível contornar totalmente a subida dos juros, saiba que existem várias soluções para baixar os encargos com o seu empréstimo.

Tente renegociar o seu crédito habitação

Dado o risco de incumprimento, os bancos foram obrigados a facilitar a renegociação de créditos aos clientes com uma taxa de esforço superior a 35%. Mas mesmo que a sua taxa de esforço não tenha atingido esse patamar, pode tentar chegar a acordo com o banco para baixar o seu spread, reduzir a sua taxa de juro durante um determinado período, alargar o prazo de amortização do seu contrato, pedir o diferimento de parte do capital para uma prestação futura e/ou negociar a fixação de um período de carência de reembolso do capital ou de reembolso do capital e de pagamento de juros.

Transfira o seu crédito para outra entidade

Se o banco onde contratou o seu crédito habitação não facilitar uma renegociação atrativa, deve pedir simulações junto de outros entidades financeiras e transferir o seu crédito se encontrar uma solução melhor. Através da transferência de um crédito habitação é mais fácil mudar a modalidade de juros, seja para uma taxa fixa, taxa mista ou variável, reduzir o seu spread, alterar o prazo do contrato, remover produtos associados ao seu crédito, mas também baixar os encargos com o seguro de vida do crédito habitação e seguro multirriscos. Isto porque pode transferir estas duas apólices para outras seguradoras. Antes de transferir o seu crédito habitação, informe-se se a entidade cobre as despesas da transferência.

Analise as medidas em vigor aprovadas pelo Governo

Para aumentar a capacidade financeira das famílias que têm um crédito habitação indexado à Euribor, o Governo aprovou algumas medidas que podem garantir-lhe uma maior folga no seu orçamento. Por exemplo, pode recorrer à moratória do crédito habitação, onde fixa a sua prestação de crédito, adiando o pagamento de parte do capital, e/ou beneficiar da bonificação dos juros. Esta última medida dá a possibilidade de obter um apoio máximo de 800 euros, mas deve ter em conta que é aplicada à diferença entre o valor do indexante que está a ser usado no cálculo da sua prestação e o limiar de 3%.

Além disso, se tem um PPR, também é permitido o resgate antecipado para pagar prestações de crédito, amortizar o capital em dívida do seu crédito habitação (até 12.222,24 euros em 2024) ou resgatar o valor de 1 IAS por mês (em 2023 o valor do IAS é de 480,43 euros, mas em 2024 sobe para 509,26 euros).

2 – Tem vários créditos? Opte por consolidá-los ou veja se pode obter um crédito multiopções

Para quem tem no mínimo dois créditos, além do crédito habitação, é possível baixar significativamente os encargos com os seus empréstimos através do crédito consolidado ou do crédito multiopções.

Se, por exemplo, tem vários créditos ao consumo (crédito pessoal, automóvel, cartões de crédito, etc.), ao recorrer a um crédito consolidado consegue ficar com uma única prestação com uma taxa de juro que, por norma, é mais baixa em comparação à média das taxas de juro dos créditos que tem. Caso não esteja em incumprimento e com uma situação profissional estável, esta solução permite-lhe poupar até 60% nas suas mensalidades (consoante o número de créditos, valores em dívida e taxas de juro).

Se for proprietário de um imóvel, sem ónus ou com um crédito habitação associado, pode conseguir obter um financiamento extra para liquidar os seus empréstimos através de um crédito multiopções. Este empréstimo é semelhante ao crédito hipotecário, tendo taxas de juros e prazos de financiamento mais vantajosos do que outros créditos. Logo, ao fazer uma hipoteca ou uma segunda hipoteca, consegue um valor extra que permite liquidar parcialmente ou na totalidade os seus outros créditos, reduzindo assim os seus encargos. Contudo, o banco vai avaliar o seu LTV (não pode ser superior a 80%) e a sua taxa de esforço (tem de ser inferior a 50%).

3 – Analise as suas apólices e não tenha medo de mudá-las para outras seguradoras

Atualmente, é comum ter vários tipos de seguros, como seguro automóvel, seguro de vida, seguro de saúde, os seguros “obrigatórios” do crédito habitação, seguro de crédito, entre outros.

E com tantos seguros contratados, é normal que não faça uma análise regular à sua carteira de seguros. Assim, se pretende organizar as suas finanças até ao fim do ano reveja as condições de cada apólice e veja se existem melhores condições no mercado. Se, após pedir várias simulações, encontrar uma solução mais benéfica para si, não tenha medo de mudar. Além disso, olhe para as coberturas que cada apólice contém para garantir que não está a pagar um valor muito alto para as suas necessidades atuais. Por fim, garanta que não tem coberturas repetidas.

4 - Não fique a ver os preços dos seus contratos subir de braços cruzados

Há despesas essenciais que obrigam à celebração de contratos que podem ter valores variáveis ou fixos, como é caso da eletricidade, gás natural e telecomunicações.

Para poupar neste tipo de serviços, precisa de investir algum tempo a comparar preços junto dos vários fornecedores e operadores. No caso do gás natural e da eletricidade, pode recorrer aos simuladores disponíveis no site da ERSE e fazer várias simulações.

Quanto às telecomunicações, deve aplicar a mesma lógica. Embora existam menos operadoras, é essencial que compare os preços praticados, consoante os serviços que pretende usufruir e se quer incluir no contrato os seus telemóveis.

5 - Refaça o orçamento familiar e aumente o seu rendimento disponível

Um passo fundamental para organizar as finanças pessoais é fazer um orçamento familiar e atualizá-lo regularmente. Para isso, deve fazer um levantamento de todos os seus rendimentos e despesas para ter uma noção real do dinheiro que vai sobrar mensalmente.

Mas antes de colocar as mãos nas suas faturas e recibos, olhe bem para todos os encargos e despesas que tem, pois é possível poupar nos seus encargos essenciais do dia a dia, aumentando o seu rendimento disponível. Por exemplo, ao cortar em certas subscrições, redefinir estratégias nas idas ao supermercado e diminuir certas despesas não essenciais, pode entrar em 2024 com as suas finanças pessoais mais estáveis. E esta análise permite-lhe criar estratégias de poupança e investimento, que podem garantir-lhe uma maior estabilidade financeira no próximo ano.

6 – Entre no e-fatura e veja se tem a possibilidade de aumentar o seu reembolso de IRS

Uma boa estratégia antes de o ano chegar ao fim é entrar no portal do e-fatura e ver se é ou não possível aumentar as suas deduções à coleta. Afinal, estas têm um papel essencial no valor do reembolso de IRS. Assim, até ao último dia do ano, peça o número de contribuinte em todas as despesas que podem ser deduzidas à coleta. Depois, siga os seguintes passos:

  • Entre no portal e-fatura e verifique se as suas despesas estão registadas;
  • Caso detete que algumas despesas não constam no portal, faço o registo manualmente;
  • Associe as suas despesas na categoria correta, quando estas se encontram no separador “validar faturas pendentes”;
  • Analise se perante o valor das suas deduções à coleta e as poupanças que tem de parte, vale a pena investir num PPR para obter os benefícios fiscais associados a este produto.

Nota: Para conseguir fazer esta análise deve informar-se sobre os limites máximos de cada categoria, o limite da soma das deduções à coleta e ter em conta o seu rendimento coletável.

7 – Acabe o ano a pensar em estratégias de poupança e investimento

Se, ao seguir estas dicas, conseguiu não só organizar as suas finanças, como aumentar as suas poupanças, é hora de criar metas e estratégias para este dinheiro. Afinal, se tiver um fundo de emergência que cubra os seus imprevistos e investimentos que maximizem o seu dinheiro, está num bom caminho para alcançar a sua liberdade financeira.

Assim que consiga ter um fundo de emergência criado, deve começar a olhar para o mundo dos investimentos de forma saudável. E para começar, primeiro precisa de descobrir qual é o seu perfil enquanto investidor.

Se tem um perfil conservador e tem medo de perder as suas poupanças, olhe para produtos de capital garantido ou de baixo risco, como seguros PPR, certificados de aforro, certificados do tesouro, entre outros. Já se tiver um perfil que tolera melhor o risco, estude produtos onde possa obter uma rendibilidade mais elevada, como ações, ETF ou fundos PPR com risco mais elevado. Mas tenha em conta que a maioria destes produtos não têm capital garantido. E quanto maior for o retorno potencial, maior é o risco de perder o dinheiro que investiu.

Assim, opte por ter uma carteira de investimento diversificada, com diferentes produtos, com composições diferentes e níveis de risco distintos. Por fim, não se esqueça de traçar metas para aplicar o seu dinheiro, de forma a manter o foco em alcançar os seus objetivos.