Quando pensamos no nosso dia a dia, facilmente constatamos que nos criticamos frequentemente. E, de facto, a auto-crítica corresponde a uma necessidade psicológica importante ao permitir a melhoria do desempenho dos nossos diversos papéis e da pessoa que somos. Procuramos identificar, aceitar e aprender com as nossas insatisfações pessoais. É a auto-crítica que nos impele para muitas mudanças e para a saída de zonas de conforto que se tornaram desconfortáveis. Queremos ser mais e melhor e isso é bom. Tanto para nós como para os que nos rodeiam.

Porém, vejo em muitos clientes de psicoterapia o quanto a auto-crítica pode ser, também, uma fonte de sofrimento psicológico. Surgem desníveis em que a pessoa sente não estar à altura nos mais variados contextos: pode sentir que não está a ser um bom pai/mãe; marido/esposa; namorado/namorada; profissional; cidadão; amigo/amiga e por aí adiante, sempre numa espiral crescente. Acontece até que muitos de nós nos auto-criticamos por não estarmos a conseguir “o que é suposto” no lazer como na prática desportiva, num hobbie e até numa viagem! Como se vivêssemos numa sociedade permanentemente insatisfeita onde a aceitação de nós próprios fosse um aspeto secundário e tudo devesse ser em progressão. Uma sociedade de máquinas diria. E se a nossa autoestima se começasse a ressentir diretamente disso.

Em concreto, posso deixar de gostar de mim fisicamente, psicologicamente, na relação com os outros, na relação com o trabalho, na procura do alcance das metas que definir para o rumo da minha vida. E isso condiciona até os momentos que tenho de prazer, gerando grandes quantidades de ansiedade e insatisfação global. Acabo por não me sentir bem em lado nenhum nem com ninguém. É uma batalha contínua que promove desgaste psicológico e físico e que aumenta, ainda mais, a minha auto-crítica por achar que não estou a fazer “o que devia” ou a ser suficientemente “bom ou forte”.

Defendo que a aceitação é o caminho para um melhor bem-estar. Em que a crítica se apresenta como central na gestão natural das nossas insatisfações e apontando para a melhoria na nossa qualidade de vida. No entanto, esta deverá ser acompanhada pela nossa necessidade não menos importante de autoestima e de satisfação pela pessoa que somos. Precisamos das duas e devemos aceitá-lo, sem que seja resignação. A título de exemplo, haverá momentos em que o meu contexto laboral promove a crítica e que se torna auto-crítica pela repetição de mensagens nesse sentido. Em tantas organizações, critica-se em público e elogia-se em privado: precisamente o oposto do que é ideal fazer-se para a motivação e produtividade das pessoas! É mesmo preciso que tenhamos momentos, pessoas e atividades que alimentem a nossa autoestima, o nosso amor próprio e a libertação da tensão diária.

A auto-crítica faz parte da solução quando não é demasiada. Quando isso acontece, torna-se o problema e conduz a ansiedade, depressão, baixo controlo de impulsos e reduzido prazer com a vida. Tendemos a dar o nosso melhor, mesmo quando as coisas não correm bem e não nos podemos esquecer disso. Ficamos mais fortes quando admitimos, perante nós mesmos, que errámos, que não aguentámos, que não nos foi possível. Aceite-se assim, na sua crítica e na sua estima.

Luis Gonçalves
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

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