Assim, a rosácea, não sendo verdadeiramente uma doença grave do ponto de vista médico, é uma doença com forte impacto na qualidade de vida, tanto pelo desconforto pessoal, como pelo preconceito social.

1. Reconhecer a patologia

A Rosácea é uma condição muito comum da pele e, mais raramente, dos olhos, com pico de incidência entre os 30 e os 50 anos e que atinge preferencialmente doentes do sexo feminino e de fototipo baixo (pele clara). Caracteriza-se por sensação de flushing das áreas convexas do rosto, queimor, ardor, associados a um enorme espectro de sinais clínicos, nomeadamente, eritema, telangiectasias, espessamento cutâneo, erupção inflamatória papular e pustulosa.

Divide-se em 4 subtipos clínicos de acordo com os sinais e sintomas predominantes (eritematotelangiectásico, papulopústuloso, fimatoso, ocular). A sua etiopatologia é multifatorial e não se encontra totalmente esclarecida, no entanto a hiper-reactividade vascular é característica e decisiva quando pensamos nos fatores de agravamento.

2.Reconhecer e evitar todos os fatores de agravamento

Considerando a Rosácea uma dermatose crónica progressiva, é fundamental reconhecer e evitar sempre que possível todos os fatores despolentantes, de forma a impedir o agravamento.

Ainda que exista uma enorme variação individual no reconhecimento desses fatores, as temperaturas altas (ambientes aquecidos, água quente), as grandes variações de temperatura, os alimentos quentes ou condimentados, as bebidas alcoólicas, a cafeína, as emoções, o exercício físico, os medicamentos causadores de vasodilatação e os produtos de aplicação tópica causadores de irritação, são os mais frequentemente identificados.

3. Fotoproteção e cuidados de conforto

A aplicação diária de protetor solar de índice elevado (SPF 50+) é recomendada a todos os doentes com rosácea. O fotoprotetor escolhido deve proteger simultaneamente contra radiação UVA e UVB. Hoje em dia é possível encontrar no mercado fotoprotetores específicos para pacientes com rosácea, que podem ser protetores físicos (mais bem tolerados, numa pele que frequentemente é híper-reativa) e que podem incluir cor (pigmentos verdes ou castanhos) de forma a corrigir/disfarçar o eritema.

Um doente com rosácea é ainda encorajado a evitar adstringentes, tónicos, produtos com mentol, cânfora, cosméticos à prova de água que necessitam de solventes para remoção ou produtos que contenham lauril sulfato de sódio.

4. Tratamento médico

O tratamento médico não tem objetivo curativo, centra-se antes na redução da morbilidade e das complicações. Varia consoante o tipo de rosácea e a sua gravidade.

O metronidazol constitui o tratamento tópico de primeira linha e é particularmente eficaz na rosácea inflamatória. A aplicação tópica de outros antibióticos, do ácido azelaico, peroxido de benzoílo e dos retinoides pode ser considerada se existir alguma contraindicação ou ausência de resposta ao metronidazol.

O tratamento tópico desta patologia sofreu avanços importantes nos últimos anos. Desde agosto de 2013 encontra-se aprovada a brimonidina, que funciona como vasoconstritor, reduzindo significativamente o eritema. A ivermectina (ainda não disponível em Portugal) encontra-se aprovada para o tratamento de lesões inflamatórias desde 2014.

A aplicação tópica de corticoides é desaconselhada pela falsa sensação de melhoria e elevada probabilidade de agravamento com a aplicação repetida.

5. Tratamento cirúrgico/laser

Os lasers não ablativos e a luz intensa pulsada (IPL) são extremamente eficazes no tratamento da rosácea. Recomendam-se habitualmente 1-3 sessões separadas por intervalos de 4 a 8 semanas. A principal desvantagem é o custo destes tratamentos. O tratamento da rinofima é, sem dúvida, o mais desafiante, podendo ser utilizada a dermoabrasão mecânica, o laser de CO2 e a cirurgia com resultados variáveis.

Por Maria João Cruz, Médica Especialista em Dermatologia, Assistente Hospitalar do Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar de São João e Assistente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto