A Organização Mundial de Saúde (OMS) define e-saúde como o uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) para a saúde, permitindo assim melhorar o fluxo de informação, através de meios eletrónicos, de forma a suportar a prestação de serviços de saúde e a gestão dos sistemas de saúde. 
As TIC proporcionam benefícios significativos para ajudar a alcançar as metas da saúde, de uma forma clara e transparente. Os cenários de crise no setor da saúde trouxeram recentemente a temática de e-saúde da periferia para o centro da discussão. 
Como principais exemplos de serviços de e-saúde destacam-se: Processo clínico eletrónico (PCE), registo de saúde eletrónico (RSE), registo pessoal de saúde (RPS), telemedicina (ou tele-saúde), saúde móvel (m-health), sistemas de suporte à decisão clínica, sistemas de gestão da doença crónica, sistemas de gestão clínica, serviços eletrónicos de medicação, plataformas de e-learning e sistemas de informação para a saúde.
A telemedicina corresponde a uma forma de prestação de cuidados clínicos remotos no espaço e/ou no tempo, através de redes de telecomunicações. Dentro do conceito da telemedicina, enquadra-se a telemonitorização (ou monitorização remota) que consiste numa forma de seguimento de doentes à distância, assegurando a transmissão de dados clínicos e fisiológicos e disponibilizando precocemente apoio clínico. A telemonitorização apresenta um enorme potencial de melhorar a gestão clínica e a prestação de serviços de saúde ao fomentar o acesso, a qualidade, a eficiência e a relação custo-efetividade. 
Recentemente têm sido avaliados e testados diferentes modelos de telemonitorização da doença crónica, nomeadamente nas doenças respiratórias, como é o caso da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, mais conhecida pelo acrónimo “DPOC”. 
Segundo o Relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (2013), o internamento por doenças respiratórias registou um aumento de 9,9% em 2012 e a DPOC constituiu 12,7% do total de internamentos. Um internamento por DPOC têm um custo de cerca de 1.600,00€ e a média de dias de internamento é de cerca de 8,7 dias, segundo a Portaria Nº 20 / 2014 de 29 de Janeiro.
São sinais claros de que é imperativo atuar na prevenção, no diagnóstico e no tratamento da doença, mas também na própria gestão da mesma, que poderá ser maximizada através de serviços integrados de telemonitorização.
O impacto dos programas de telemonitorização pode ser bastante positivo, quando bem articulado com os cuidados primários e hospitalares. É fulcral que o programa esteja ajustado à doença, ao doente e aos cuidadores, pois desta forma consegue-se abrandar a progressão da doença e reconhecer precocemente as agudizações, que estão intimamente relacionadas com os internamentos nos doentes com DPOC. 

Estes programas são mais avançados do que apenas uma gestão da doença e denominam-se por gestão de caso, onde se inclui doentes mais complexos, com intervenções mais intensivas. Atualmente as tecnologias existentes são bastante promissoras, estando já disponíveis dispositivos que permitem ao doente, de forma autónoma, recolher sinais vitais e outros parâmetros que também são importantes na doença respiratória, muitos deles apoiados em dispositivos bem conhecidos, como os smartphones ou tablets.
O grande desenvolvimento futuro espera-se que seja na correta análise destes sinais (de forma isolada ou em conjunto com outros indicadores) e na posterior atuação atempada, permitindo reconhecer os sinais precoces de agudização e, de forma articulada com o médico do doente, poder ser efetuada uma intervenção para que se evite o internamento. 
Ainda que, em alguns casos, não se consiga evitar o internamento, estudos sugerem que, com a telemonitorização, a demora média do internamento seja inferior, porque os problemas foram reconhecidos mais cedo. Simultaneamente, o doente é capacitado para a sua própria doença, aprendendo a reconhecer potenciais problemas de forma objetiva, destacando-se assim o potencial educacional destes programas. 
Recentemente foi publicado um estudo no Respiratory Medicine sobre um programa de telemonitorização em doentes com DPOC grave, onde os autores sugerem que no final de um programa de sete meses, foi possível observar uma redução no número de visitas à urgência e de internamentos, na duração média do internamento e na necessidade de ventilação mecânica, quando comparado com um grupo de controlo. Foi ainda demonstrado que o primeiro evento de agudização foi mais cedo no grupo de controlo do que no grupo com telemonitorização. 
Assim, esperam-se mais dados objetivos que nos permitam orientar a atuação nestes doentes. Não obstante, deverá ser tida em conta a satisfação do doente com a tecnologia e com o serviço, para que se promova a adesão do doente e dos seus cuidadores a estes programas. 
Por outro lado, as doenças crónicas não devem ser segmentadas e, num futuro próximo, a telemonitorização não será apenas da DPOC ou da Diabetes, mas sim da doença crónica, porque muitas vezes os doentes são multi-crónicos e deverão ter uma monitorização holística e não apenas de uma das suas doenças. 
Por João Tiago Pereira, Cardiopneumologista