O que mostram as estatísticas
Os resultados do último estudo “PORTUGAL - Saúde Mental em números – 2014”, realizado pela Direção Geral de Saúde, revelam uma incidência das doenças emocionais e psicológicas muito superior nas mulheres. Este estudo está em linha com outros estudos realizados internacionalmente em países industrializados, como é o caso do estudo realizado no Reino Unido pelo “British Mental Health Foundation”. E ainda nos Estados Unidos, o professor Daniel Freeman, investigador no departamento de psiquiatria da Universidade de Oxford, publicou o livro “The Stressed Sex: Uncovering the Truth about Men, Women, and Mental Health”, em que mostra que as mulheres revelam maiores níveis de depressão, pânico, fobias, insónias, stress pós-traumático e problemas alimentares.
Mas, qual a razão de uma percentagem superior de doenças psicológicas nas mulheres?
Apesar de se reconhecer que as mulheres recorrem mais à ajuda externa quando são afetadas por problemas emocionais e psicológicos – e por isso aparecem mais nas estatísticas – este fato não explica completamente a grande diferença entre os dois géneros.
Daniel Freeman referiu que tradicionalmente tem sido mencionado que a incidência dos problemas mentais é semelhante nos homens e mulheres, mas as evidências mostram que simplesmente não é esse o caso. "Em geral, no ambiente atual, as mulheres carregam com o ónus dos problemas de saúde mental”, disse o professor Freeman.
Hoje em dia, devido aos múltiplos papéis que a mulher tem que assumir, ela está mais exposta a sofrer de doenças psicológicas. A mulher, ao inserir-se no mercado de trabalho, mantém o seu papel de esposa, mãe e dona de casa, e ao mesmo tempo, é também profissional. Por isso, ela tem de administrar o seu tempo desdobrando-se entre as tarefas domésticas e o seu trabalho.
Ao exercer a sua profissão, a mulher trabalhadora sente-se “dividida” por não poder cuidar integralmente da sua família. Muitas mulheres que priorizam o trabalho remunerado, angustiam-se por considerarem que estão a deixar de ser boas mães.
Além disso, este duplo papel da mulher tem como consequência uma sobrecarga de funções resultando em longas jornadas de trabalho dentro e fora de casa. Ao adicionar o serviço de casa com o trabalho remunerado, a mulher não consegue recuperar da fadiga e do desgaste, e fica mais sujeita a doenças mentais, tais como ansiedade, depressão, fobias, pânico, insónias e diminuição do desejo sexual.
Um terceiro aspeto que não pode ser ignorado relaciona-se com o fato das mulheres tenderem a ser mais pobres e/ou vitimas de abusos, o que é um cocktail propicio a desenvolver problemas de depressão, ansiedade e fobias.
Mas, vamos ser claros. Embora alguns problemas psicológicos – tais como ansiedade e depressão – sejam mais comuns nas mulheres, as mesmas dificuldades também afetam os homens. Como diz o professor Freeman, “portanto, seria errado categorizar os problemas de saúde mental como sendo essencialmente um problema feminino. As taxas de problemas de saúde mental são muito altas em ambos os sexos.”
Elisabete Condesso, Psicóloga e Psicoterapeuta
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