No jovem, o AVC está mais associado a alterações vasculares hereditárias ou adquiridas (como a disseção arterial cervicocefálica) a defeitos cardíacos (alterações cardíacas estruturais) e a cardioembolismo, a estados de hipercoagulabilidade, tabagismo, álcool e uso de drogas ilícitas, doenças metabólicas, aterosclerose prematura e, possivelmente, enxaqueca.

A hipertensão, a diabetes e a hipercolesterolemia também podem estar presentes no jovem e constituem fatores de risco para o AVC. O risco de AVC isquémico num adulto jovem com doença cardíaca congénita pode ser 10 vezes superior ao da população em geral.

Uso de drogas

O uso de cocaína e metanfetaminas pode ser causa de AVC por hipertensão, vasoespasmo ou vasculite. Outras substâncias – como a heroína, outros opiáceos, marijuana, canabinoides sintéticos – podem estar associadas a AVC. E o uso de anticoncetivos orais está também associado a AVC.

Portanto, perante um AVC no adulto jovem é importante procurar outras causas que, normalmente, não estão presentes no AVC do idoso. No entanto, apesar de toda a avaliação diagnóstica, a causa de AVC isquémico no jovem fica por determinar em 1/3 dos casos. Em 2014, só o AVC isquémico representou cerca de 20 mil episódios e 250 mil dias de internamento em Portugal.

Vários estudos a nível internacional têm revelado um aumento da incidência de AVC isquémico em indivíduos menores de 50 anos, associado a um aumento do número de hospitalizações. As razões são multifatoriais: a identificação do AVC ao longo dos anos tem melhorado, quer da parte do doente, ao procurar cuidados médicos; quer da parte do clínico; o uso de técnicas de imagem cada vez melhores, especialmente em doentes com sintomas minor ou transitórios, permite identificar mais casos; o aumento da prevalência da obesidade da diabetes e hipercolesterolemia são fatores de risco para o AVC; outros fatores contributivos são as mudanças no estilo de vida e hábitos, por evolução das sociedades.

Baixa incidência mas com impacto económico

Embora a incidência de AVC isquémico no adulto jovem tenha um pequeno impacto na incidência global de AVC (face ao peso do AVC no idoso), tem, todavia, um grande impacto socioeconómico. É necessário melhorar a prevenção do AVC no adulto jovem através de informação melhorada e precoce e educação da população na correção dos fatores de risco corrigíveis.

O seguimento a longo prazo é importante para reduzir o peso do AVC no adulto jovem, ultrapassada a fase aguda de tratamento e a prevenção secundária precoce.

As explicações são de Maria Teresa Cardoso, médica especialista em Medicina Interna no Centro Hospitalar de S. João do Porto e Coordenadora do Núcleo de Estudos de Doença Vascular Cerebral da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna