Diversas carências, o stress diário e os mais variados tipos de frustração são os principais responsáveis pela compulsão alimentar, uma condição que contribui para o ganho de peso.

Para muitas pessoas, a fome está diretamente ligada às emoções, como a tristeza, desilusão e depressão. Provavelmente, esta situação pode ter origem num comportamento social muito comum, pelo qual passamos na infância: quando sofremos algum desconforto ou nos magoamos, e choramos, recebemos em troca um doce como compensação.

Este prémio que recebemos enquanto somos crianças faz-nos momentaneamente esquecer a dor, e é este mecanismo que, por vezes, nos pode acompanhar como um padrão na fase adulta. Por outras palavras, usamos os alimentos para compensar emoções tristes, deceções, perdas, inquietações e ansiedades.

Se a comida ocupar diariamente grande parte dos nossos pensamentos, ou se o stress nos fizer perder o controlo dos alimentos que ingerimos, é porque, possivelmente, chegou o momento de fazermos uma análise e percebermos a energia que gastamos com estes pensamentos e que poderia ser utilizada para atingir metas e objetivos noutros âmbitos da vida ou no controlo do peso.

O papel das emoções na obesidade

Há vários fatores a considerar numa pessoa obesa. O excesso de peso é influenciado por fatores biológicos e psicológicos. Ao nível biológico, deve ter-se em conta o metabolismo orgânico e a hereditariedade. Já no plano psicológico, devem ser observados os hábitos alimentares e a parte emocional dos indivíduos.

No geral, a obesidade está relacionada com o conceito de fome emocional. Fome física é a que, de facto, é necessária para a nossa sobrevivência, enquanto a emocional ultrapassa essa necessidade. Uma das características dos indivíduos obesos, ou potencialmente obesos, é a compulsão para comer, levando-os a comer pelas mais variadas razões, mesmo que já estejam saciados.

Esta situação é como uma bola de neve: a carência ou a frustração desperta a necessidade de comer mais, o excesso de calorias leva ao aumento de peso, que gera mais frustração, criando um círculo vicioso. Nestes casos, é necessário que a ligação entre o alimento e a fome física seja restabelecida, uma vez que estes comportamentos compulsivos se estabeleceram pela via das emoções que estão para além das necessidades físicas.

De certa forma, essa ligação é o que sustenta a ideia de que o obeso tem de se restringir a certos alimentos; no entanto, a restrição indispensável é a que está relacionada com o hábito compulsivo. Um indivíduo deve comer de tudo um pouco, de forma equilibrada, desde que se encontre restabelecida a ligação entre o alimento e a fome física para uma vida saudável. É claro que o teor calórico dos alimentos deve ser considerado.

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Comportamento compulsivo

Na prática, a fome emocional é uma tentativa de compensarmos a solidão, o stress, a ansiedade, o sentimento de culpa ou a sensação de vazio que por vezes sentimos.

Nesses momentos em que nos encontramos em baixo, é comum optarmos por doces, hidratos de carbono e alimentos com sabores muito fortes que promovem o prazer, como bolachas e bolos, chocolates, queijos, entre outros, pois eles levam o cérebro a produzir serotonina, uma substância que funciona como uma espécie de antidepressivo natural, que resulta numa sensação de bem-estar.

O problema é que, como qualquer outro tipo de estímulo sensorial quando utilizado em excesso, o organismo tende a reajustar o nível de perceção e a necessitar de doses cada vez maiores para proporcionar o efeito desejado. É esse o mecanismo responsável por um grande número de compulsões.

Dependendo das pessoas e das situações, estes episódios podem caracterizar-se por uma ingestão muito grande de alimentos de uma só vez, ou podem ocorrer de forma intercalada ao longo do dia.

Alguns estudos referem que uma crise pode durar entre três a oito minutos, durante a qual é ingerida uma grande quantidade de alimentos. Normalmente, estas pessoas têm grande dificuldade em perder peso e têm uma deficiente gestão do seu peso.

As estatísticas indicam que as mulheres perfecionistas, inseguras, depressivas, ansiosas e muito preocupadas com o corpo são as vítimas preferenciais deste comportamento alimentar, apesar de algumas evidências demonstrarem que os homens também têm crises, sobretudo os que vivem sobre grande pressão.

É comum as pessoas que desenvolvem este tipo de compulsão comerem muitas vezes à noite, sem que ninguém veja, uma vez que têm total consciência de que as idas ao frigorífico são prejudiciais, mas acreditam que só comendo vão preencher o vazio que sentem. Nestas situações, é vital resgatar a autoconfiança. É importante relembrar como era a vida antes das crises para, desta forma, recuperar os valores antigos.

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E você… é workaholic?

A principal consequência de quem leva uma vida muito stressante é a falta de tempo, até para se olhar no espelho. Os workaholics (pessoas viciadas em trabalho) são vistos com frequência a comer no carro ou até na secretária, enquanto estão a trabalhar.

Devido ao ritmo acelerado em que vivem, não prestam atenção àquilo que comem e, muitas vezes, exageram na refeição passando depois um longo período de tempo sem comer nada. Se se identificar nestas características, saiba que deve aprender o quanto antes a delegar tarefas e responsabilidades. Este é um bom começo para evitar comer de modo desenfreado devido ao stress. É importante que se reserve pelo menos 40 minutos para cada refeição.

Recomendações da especialista

De acordo com Teresa Branco, fisiologista na gestão do peso, “quanto mais precocemente for detetado este tipo de comportamento compulsivo, mais probabilidade existe de ser controlado através da adoção de estratégias de prevenção e recuperação.

A experiência profissional fez-me acreditar que os níveis de ansiedade aumentados continuadamente contribuem para uma má qualidade de vida e para uma má gestão do peso”.

A especialista adianta ainda que “com base em variadíssimos estudos, quando temos carência de serotonina – substância conhecida por promover o bem-estar, o controlo do apetite, a regulação do sono, o aumento do apetite sexual e a melhoria das funções cognitivas – temos tendência a aumentar a ingestão de alimentos ricos em triptofano, de forma a colmatar essa carência (o triptofano é um aminoácido precursor da serotonina e está presente em muitos alimentos).

O problema é que muitos alimentos que contêm triptofano são excessivamente calóricos, como é o exemplo do chocolate”. Teresa Branco revela assim algumas rotinas que, quando são praticadas por prazer, nos levam a aumentar os níveis de serotonina sem que tenhamos que ingerir grandes quantidades de alimentos ricos em triptofano.

Deixamos-lhe alguns exemplos:
• Prática regular de atividade física;
• Legumes crus e/ou cozinhados diariamente;
• Carnes brancas e/ou peixe diariamente;
• Frutos secos (3 nozes por dia);
• Um quadradinho de chocolate, preferencialmente negro, todos os dias.

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Nutrição emocional

Quando aqueles que sofrem este tipo de distúrbio alimentar se tornam conscientes da sua condição têm mais probabilidades de se tratar, por exemplo através de um curso de instrução alimentar com apoio psicológico paralelo, para perder peso com saúde.

Nesta altura, o acompanhamento por parte de um profissional é imprescindível, até porque não é raro acontecer uma transferência de um hábito compulsivo para outro. Por exemplo, a pessoa pode deixar de comer em excesso mas começar a fumar.

Nesses casos, a terapia é fundamental para que seja feita uma gestão correta da ansiedade. Apesar da resistência inicial, o tratamento psicológico costuma dar bons resultados em casos assim.

A luta contra a compulsão pode ser longa e é preciso ter persistência, além das ferramentas certas para vencê-la. Neste aspeto, a medicina complementar oferece uma série de alternativas eficazes para se atingir a nutrição emocional, das quais destacaremos algumas:

Yoga e meditação
A prática de alguns exercícios e movimentos vitais do yoga ajuda a relaxar a mente e, por sua vez, a combater a compulsão. A meditação, assim como algumas massagens relaxantes, também promove sensações de tranquilidade, essenciais para quem pretende vencer a fome emocional.

Self healing e autoconhecimento
Um cuidado holístico que ajuda a reconhecer as posturas de cada um e a relacioná-las com as tensões e processos patológicos através de exercícios de consciencialização corporal e mental.

Reflexologia
Uma técnica específica de pressão que atua em pontos reflexos precisos de modo a aliviar tensões. Esta técnica holística olha para o indivíduo como uma entidade constituída por corpo, mente e espírito.

Edição: Patrícia Velez Filipe
Agradecimentos: Teresa Branco, fisiologista na gestão do peso; Clínica Metabólica, Oeiras