O chicote cervical é, muitas vezes, associado a colisões de menor importância e aos chamados “feridos ligeiros”, podendo chegar a atingir quase 30% dos sinistrados.
“O nome é dado ao processo mecânico de hiperflexão e hiperextensão bifásicas. O que acontece é uma compressão dos músculos do pescoço de um lado, enquanto se distendem do oposto, voltando de imediato à sua posição inicial, tal como quando agitamos um chicote”, explica o cirurgião ortopédico Luís Teixeira.
Frases como “senti um embate na parte de trás do carro”, “travei de repente” ou “foi só o susto” estão geralmente associadas a este mesmo quadro. “Quando o pescoço volta ao normal, a pessoa tem a sensação de que nada aconteceu. Sentiu o impacto, pode até ficar dorida, mas a consequência julga-se sempre passageira. É exatamente aqui que ocorre o erro”, continua o especialista.
O “chicote cervical” é frequente não só em quem conduz, mas também nas restantes pessoas dentro do veículo, causado por qualquer embate. Mais uma vez, os mais novos estão sujeitos a maiores consequências. “Nas crianças, a desproporção entre cabeça e tronco é mais forte, pelo que os danos nas estruturas que compõem o pescoço, tanto na musculatura como em alguma vértebra que pode fraturar por esmagamento, podem passar com maior facilidade da simples entorse a quadros clínicos mais graves”, refere Luís Teixeira.
No entanto, e mesmo quando falamos de entorse, a recuperação é lenta pela imobilização que exige. “Nos quadros clínicos mais simples, falamos de dor muscular e de alguma rigidez na zona afetada, explicada pelo nosso próprio organismo que tenta mantê-la o mais imóvel possível, de forma a controlar os danos. Mas não devemos, nem podemos minimizar este tipo de consequências, até porque a sua deteção nem sempre é fácil – a própria pessoa afetada desvaloriza e deixa o tempo passar”, explica o também presidente da associação Spine Matters – Proteja a sua coluna.
Dores de cabeça, tonturas, desequilíbrio, náuseas, formigueiro nos braços e mesmo mudanças de humor face à frustração da permanência dos sintomas, aparentemente sem explicação, são outros dos resultados a esperar, chegando a permanecer meses e com impacto direto nas esferas laboral e social.
Como minimizar os danos?
Embora fatores como a embriaguez, a velocidade, as condições do piso e atmosféricas, a carga do carro, o tipo de pneus e vários outros possam ser determinantes no momento do acidente, há comportamentos que todos podemos adotar de forma a tentar minimizar, ao máximo, os riscos. Tome nota:
- Sentar de forma correta: conduzir só com um braço leva a que haja uma maior tendência para inclinar o corpo. Por outro lado, os outros passageiros, que tentam encontrar uma posição mais confortável, por exemplo para dormir, acabam por fazer o mesmo. Estar com a cabeça deitada e o corpo contorcido no momento do embate é grave.
- Postura correta: a coluna deve estar totalmente apoiada no banco, com as pernas e braços levemente flexionados. Deve segurar o volante com as duas mãos.
- A parte superior do corpo deve estar inclinada para trás até formar, aproximadamente, 110° em relação à parte inferior do corpo uma vez que se o banco do condutor estiver muito deitado ficará mais vulnerável caso exista uma colisão. O condutor deve estar na posição correta para que o encosto de cabeça absorva o impacto causado pelo efeito chicote.
- Fazer pausas a cada duas horas e alongar o corpo: válido para todas as viagens longas mas também para quem trabalha sentado o dia todo – a possibilidade de hérnia discal é maior, pela sobrecarga lombar.
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