Numa altura em que são conhecidos os dados publicados pelo Eurostat dos 28 países da União Europeia, relativos à mortalidade por cancro, é urgente a criação e implementação efetiva de políticas de saúde, que permitam aos cuidados de saúde primários fazer os rastreios adequados, de base populacional, e identificar os grupos de risco em que se deve reforçar a vigilância para determinado tipo de patologias oncológicas, que de outra forma só serão diagnosticadas tardiamente.

Estes novos dados vêm realçar que o cancro do pâncreas, tal como já tem sido reportado pelo Globocan, é uma das neoplasias que tem vindo a aumentar desde 2002 e que se prevê que mantenha esta tendência nos próximos anos. Para isto contribuem um estilo de vida menos saudável, com consumo excessivo de gorduras e álcool, os hábitos tabágicos, a diabetes e o aumento da esperança média de vida (cancro mais frequente nas pessoas a partir dos 65 anos).

Quarto cancro mais mortal

O Eurostat destaca a mortalidade do cancro do pâncreas, comparada com outros tipos de cancro, sendo indicado como o quarto tipo de cancro mais mortal – representa 78 mil de todas as mortes associadas ao cancro. O Gabinete de Estatísticas realça ainda que Portugal mantém uma tendência crescente no que diz respeito à mortalidade por cancro do cólon, o que contrariamente ao cancro da mama, reflete uma política de rastreio de base populacional ainda insuficiente.

Tendo por base as últimas recomendações da Direção-Geral da Saúde sobre as Doenças Oncológicas deverá trabalhar-se para um maior investimento na realização de rastreios de base populacional e que esta deverá constituir-se uma prioridade.

Uma das formas de minimizar o aumento crescente do cancro do pâncreas, dado não existir uma forma de rastreio comprovada cientificamente, pode passar pela identificação dos grupos de risco e promoção de um plano de acompanhamento pelos cuidados de saúde primários, no sentido de podermos atuar no diagnóstico precoce e diminuir o número de doentes com doença metastizado ao diagnóstico, onde é mais difícil podermos intervir com sucesso.

Apesar de se desconhecerem as causas exatas do cancro do pâncreas, as investigações têm revelado que indivíduos com determinados fatores de risco estão mais predispostos a desenvolver este cancro. Tendo em conta estas investigações, os factores que podem ajudar a identificar e acompanhar mais de perto os grupos de risco são por exemplo: tabagismo, alimentação rica em gorduras, pancreatite (hereditária ou não), diabetes, consumo excessivo de álcool.

A Direção-Geral da Saúde refere que deve ser desenvolvido um conjunto de medidas globais em diferentes áreas como a cessação tabágica e os comportamentos alimentares, que se encontram ainda subvalorizadas mas que no futuro podem contribuir para a estabilização no tecido estrutural do sistema de saúde.

Tabaco e cancro

Neste relatório é mesmo feita a referência do impacto do tabagismo no desenvolvimento do cancro do pâncreas, na medida em que se refere que 30,8% dos casos de cancro do pâncreas em homens se deve ao consumo de tabaco.

Perante a dificuldade do diagnóstico precoce e da ausência de formas de rastreio, a sua prevenção é fundamental, podendo ser reforçada pela educação para a saúde e pelo acompanhamento de pessoas de risco nos cuidados primários, com um plano devidamente estabelecido.

No caso do cancro do pâncreas o seu diagnóstico precoce é essencial e faz toda a diferença no plano e objetivo terapêutico de cada doente.

Por Ana Castro, Médica Especialista em Oncologia