A palavra "cancro" é já bem conhecida dos portugueses há várias décadas, muitas vezes pelos piores motivos. Tornou-se mais evidente no primeiro quartel do século XX e assume-se hoje como o flagelo dos tempos modernos, especialmente se considerarmos os hábitos comportamentais da sociedade.

Segundo o relatório da Globocan 2012, o cancro colorretal é a terceira causa de morte por cancro em todo o mundo, com cerca de 1,4 milhões de novos casos todos os anos. O mesmo relatório revela que, em Portugal, é o tumor maligno com maior incidência (14,5%), com mais de 7 mil novos casos e aproximadamente 4 mil mortes todos os anos, sendo atualmente esta a principal causa de morte por cancro.

Contudo, o avanço da ciência tem sido enorme e atualmente o diagnóstico de um tumor maligno não significa uma sentença de morte. Poderá, todavia, significar uma adaptação a uma nova realidade ou algum tipo de limitação. Quer seja pela necessidade de monitorização periódica do estado de saúde, quer seja por algum tipo de condicionante que o tumor e/ou tratamento tenham gerado.

No caso do cancro digestivo e, mais concretamente do cancro colorretal, é incontornável falar sobre a questão da ostomia, isto é, da intervenção a que os doentes, devido à sua condição, tiveram de se submeter para criar uma abertura no trato digestivo para alimentação ou para eliminação dos alimentos do organismo. De facto, estima-se que haja atualmente cerca de 15 mil portugueses ostomizados, dos quais 80 a 90% são pessoas que sofreram ou sofrem de doença oncológica.

A ostomia, ainda que funcione como parte integrante do tratamento/cura do doente oncológico, acarreta, em si, um elevado impacto na sua qualidade de vida. Para além das complicações físicas associadas à ostomia (infeções, hemorragia, dermatites, etc.), há ainda que considerar aspetos psicológicos, ou seja, questões relacionadas com a sexualidade, alteração da imagem corporal, saúde psicológica, entre outras condicionantes.

É, por isso, necessário um acompanhamento por parte de profissionais de saúde que consigam, por um lado, explicar as alterações físicas e estéticas, assim como ajudar a lidar com o impacto psicológico decorrentes da ostomia, contribuindo para a aceitação desta nova realidade que acarreta a adaptação psicológica e fisiológica a uma alteração corporal com tamanho impacto. Os profissionais de saúde, particularmente, os enfermeiros têm um papel preponderante nesta fase do processo.

Contudo, por vezes, os profissionais de saúde, particularmente os que não se encontram ligados diretamente à área oncológica, ou seja, que não lidam com ostomia numa base diária, têm eles próprios dificuldades em conseguir apoiar os doentes de forma efetiva e eficaz.

Nesse sentido, é essencial desenvolver iniciativas que fomentem o conhecimento dos profissionais de saúde, de forma a que estes consigam apoiar os doentes e ajudá-los num período delicado e de mudança profunda como é a nova realidade depois da doença. Cabe às entidades publicas e privadas compreender as necessidades dos doentes, as lacunas existentes e as ações necessárias à sua resolução.

Por isso, a Europacolon Portugal, enquanto promotora do apoio aos doentes com cancro digestivo, em parceria com a Associação Portuguesa de Enfermeiros de Cuidados de Estomaterapia (APECE), está a desenvolver formações dedicadas aos profissionais de saúde para aumentar a qualidade e adaptabilidade dos serviços prestados e para que os doentes ostomizados recuperem e se adaptem de forma mais simples e sem complicações.

Por Vítor Neves, Presidente da Europacolon Portugal