Substituído hoje em dia por “Tendinopatia”, esta nova classificação surge dos resultados de inúmeros estudos que demonstraram não haver qualquer inflamação quando existe uma eventual lesão do tecido tendinoso, seja por trauma direto (i.e. uma pancada) seja por sobre-solicitação (e.g. após esforçar demasiado o tendão com exercício), sendo necessário então remover o sufixo “-ite”.

Mas ainda que a terminologia seja um ponto importante, importa perceber como esta situação surge e o que fazer nesse caso.

Uma questão de sobrecarga

As tendinopatias surgem quando o esforço colocado no(s) tendã(ões) é superior ao que consegue(m) suster, seja através de exercício ou de um traumatismo. Mas convém não perder de vista que há um efeito cumulativo da carga, ou seja, se 1 repetição com 100kg pode ser danoso, 50 repetições com 10kg também o poderão ser.

Portanto, antes de mais é preciso conhecer qual a frequência, volume e duração da carga/treino que está a ser imposta ao(s ) tendão(ões) sintomático(s). Outros fatores são também indispensáveis, e compreendem a idade, o género, a composição corporal e um quarto fator, que se reveste de particular importância: a biomecânica e o controlo do movimento, ou seja, a forma como as articulações relacionadas com aquele tendão se movem e a forma como a pessoa executa o movimento.

Por exemplo, as tendinopatias que ocorrem na parte de fora do cotovelo, vulgo epicondilite ou tennis elbow, quando originadas na prática desportiva (mas não exclusivamente), são um bom exemplo de um controlo motor problemático. A “pubalgia” (outro termo errado e impreciso, utilizado apenas para mais fácil reconhecimento da situação por parte do leitor) tem também muitas vezes origem em movimentos que stressam excessivamente a zona abdominal e pélvica por gestos técnicos executados incorretamente ou com limitações na cadeia do movimento. Já uma Tendinopatia do tendão rotuliano provocada por um pé muito pronador que eventualmente força a rótula a mover-se desalinhadamente é um exemplo de uma biomecânica danosa.

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créditos: Holmes Place

Não há tendinopatias iguais

As tendinopatias por vezes não dão dor. E quando dão, não se correlaciona diretamente com a extensão e gravidade da lesão, e a variabilidade é enorme, com pequeníssimas e incipientes lesões a provocarem imensa dor, e estados degenerativos avançados.

Existem 3 graus de evolução de uma Tendinopatia, que poderão ocorrer simultaneamente ou num misto, no mesmo tendão. Do menos para o mais grave, o primeiro grau, denomina-se reativo; o segundo, degradativo; e o último, degenerativo.

Estes graus funcionam num continuum, progredindo do primeiro até ao terceiro, se nenhuns cuidados forem tidos em conta. É imperativo intervir cedo, pois se é possível reverter os danos nos dois primeiros graus, o terceiro representa uma dificuldade bem maior.

A falta de relação entre sintomas e lesão real mencionada acima, significa ainda que o trabalho de recuperação deve ser realizado por um Fisioterapeuta, que saberá quais os exercícios e restante terapêutica mais adequada a aplicar nos timings certos. Porque uma incorreta progressão no trabalho de recuperação pode conduzir a maior lesão, inclusivamente rotura parcial ou total.

O que fazer?

Do ponto de vista terapêutico há imenso a realizar, mas que inevitavelmente variará, em função da avaliação feita pelo Fisioterapeuta. De qualquer forma, o mais importante no imediato, passa por parar de treinar enquanto não for realizada a avaliação. É inevitável, o stress no tendão tem de ser aliviado.

Mediante o caso e o seu grau de lesão, introduzir exercício específico, no timing certo, que ajude a reparar o tendão e a corrigir a causa que levou à lesão, seja ela postural, de controlo motor ou biomecânica. A utilização de terapêuticas eletrofísicas e de luz, é também necessária.

A prevenção é o melhor caminho, não deixe progredir uma situação que pode facilmente ser recuperada inicialmente.

Referências Bibliográficas:
Cook JL, Purdam CR. Is tendon pathology a continuum? A pathology model to explain the clinical presentation of load-induced tendinopathy. Br J Sports Med 2009; 43:409-416.
Rio E, Moseley L, Purdam C, Samiric T, Kidgell D, Pearce AJ, et al. The pain of tendinopathy: physiological or pathophysiological? Sports Med 2014; 44:9-23.
De Vos RJ, Heijboer MP, Weinans H, Verhaar JAN, van Schie JTM. Tendon structure’s lack of relation to clinical outcome after eccentric exercises in chronic midportion Achilles tendinopathy. J Sport Rehabil 2012; 21:34-43.

Ricardo Cotrim
Fisioterapeuta Holmes Place