A obesidade, que pode ser combatida através do exercício físico desde a infância, é um problema de saúde pública em todos os grupos etários e uma epidemia em todo o mundo. Para a sua prevenção sabemos que as estratégias nutricionais e de atividade física são fundamentais. Contudo, a evidência científica atual confirma a hipótese de que alterações no padrão do sono afetam negativamente a regulação do peso e constituem um fator de risco independente para o aumento da obesidade.

A recomendação das horas de sono ideais varia com a idade. As horas recomendadas que um menor de cinco anos deveria dormir são de pelo menos 11 horas, a partir dos seis anos pelo menos 10, adolescentes pelo menos nove e adultos pelo menos oito. Também é esta a sua média? O nosso metabolismo é um processo modulado através do sono. Tipicamente, o sono divide-se em duas fases, o sono REM e o sono não-REM (NREM), as quais representam um modo de funcionamento cerebral.

O consumo de glicose cerebral é maior enquanto estamos acordados e no sono REM, alcançando o seu menor nível nas etapas profundas do sono NREM. Consequentemente, mudanças na organização temporal do sono poderão resultar em alterações metabólicas que conduzem a um maior aumento de peso e ao risco de obesidade. Quais são os potenciais mecanismos? Maria Raquel Luís, nutricionista, dois aspetos fundamentais:

1. Regulação neuroendócrina do apetite e da saciedade

Pressupõe-se que a relação entre o sono e a obesidade relaciona-se com um desequilíbrio nos padrões neuroendócrinos reguladores do apetite. Quando o sono é reduzido, a concentração de leptina (hormona da saciedade) diminui e a concentração de grelina (hormona da fome) aumenta. Para além disso, a privação do sono aumenta a atividade do sistema orexígeno, com o consequente aumento da atividade de grupos neuronais estimuladores do apetite mediados pelo neuropeptídeo Y.

2. Metabolismo glucídico

Especialistas internacionais concluíram que a privação seletiva da fase 3 do sono NREM durante três noites seguidas, reduziu notavelmente a sensibilidade insulínica e a tolerância à glicose, induzindo um estado similar à pré-diabetes. Estas alterações, a longo prazo, podem contribuir para um maior risco de diabetes tipo II. Neste contexto, é importante dar relevância à importância do sono como um fator importante a considerar ao nível da saúde pública e na prevenção da obesidade.

Texto: Maria Raquel Luís (nutricionista)