"A maior parte das pessoas, mesmo que faça uso da tecnologia durante horas excessivas ainda não o entende como uma adição até porque é um vício muito aceite e integrado na nossa sociedade", explica Alexandra Rosa, psicóloga no Hospital Lusíadas Lisboa.

"Ao contrário do que se poderia pensar, os iPhones ou as agendas eletrónicas são prejudiciais à nossa memória. Os alertas são apenas uma lembrança do momento. Digo sempre aos meus pacientes para não deitarem fora a velha agenda de papel e para comprarem uma todos os anos. A visualização e o treino de outros aspetos da memória são muito importantes, até porque a tecnologia também falha", revela a especialista.

Com base em pesquisas recentes, a Associação Americana de Psiquiatria, que edita o Manual de Perturbações Mentais, está a ponderar introduzir na próxima revisão do manual a Perturbação de Uso da Internet.

Já há "clínicas de desintoxicação"

Um dos argumentos utilizados diz respeito ao facto de as alterações verificadas nas ligações neuronais que ocorrem nos centros de atenção, controlo e processamento de emoções são semelhantes às presentes em dependentes de droga. Na China já há clínicas de tratamento para pessoas que se vejam nesta situação de dependência e, na Coreia do Sul, o fenómeno está classificado como uma crise de saúde pública.

"O facto de ainda não termos chegado aos níveis da China ou da Coreia do Sul tem a ver com aspetos culturais e com o nosso clima, entre outros fatores. Cultivamos o gosto pelo convívio pessoal. Em países em que se vive de forma mais isolada, pode atingir-se essa proporção na ordem da patologia", conclui a psicóloga.