Alguns pacientes conseguiram mesmo reiniciar a sua vida sexual graças a este tratamento inovador de reeducação cerebral e física desenvolvido no Brasil.

Pelo menos seis homens e duas mulheres que tinham perdido completamente o controlo dos membros inferiores registaram progressos significativos. Em quatro casos, os médicos conseguiram que os seus doentes passassem de um status de tetraplegia para "paralisia parcial" através de técnicas não-invasivas.

Um dos pacientes - uma mulher de 32 anos paraplégica há mais de uma década - vivenciou a transformação mais dramática. No início dos testes, realizados em São Paulo, a mulher não era capaz de permanecer de pé nem com a ajuda de suportes. Treze meses depois, voltou a andar com a ajuda de suportes e de um terapeuta.

"Nós não prevíamos este resultado clínico surpreendente quando o projeto arrancou", explica Miguel Nicolelis, neurocientista da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, e o principal responsável por esta reabilitação, escreve a agência de notícias France Presse.

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"Até agora, nunca ninguém tinha visto a recuperação destas funções em um paciente há tantos anos com paralisia completa", relata.  Uma das mulheres recuperou ao ponto de decidir engravidar, relata Nicolelis. "Ela conseguiu até sentir as contrações", afirmou.

A terapia inovadora combinou diversas técnicas para estimular partes do cérebro que antes da paralisia controlavam os membros dos pacientes, inativas há muito tempo. A reabilitação começou por fazer com que eles aprendessem como operar um Doppelganger digital, ou avatar, dentro de um ambiente de realidade virtual.

Ao mesmo tempo, os pacientes usaram gorros revestidos com 11 eletrodos para registar a atividade cerebral através de eletroencefalografia.

Inicialmente, quando foram convidados a imaginar-se a caminhar, as partes do cérebro associadas ao controlo motor das pernas não responderam. "Se se falasse use as mãos havia atividade cerebral", explicou Nicolelis. "Mas o cérebro apagava quase completamente quando nos referíamos aos membros inferiores".

Depois de meses de treino, estas partes do cérebro começaram a despertar. Os pacientes aprenderam a utilizar equipamentos mais desafiadores que exigiam algum controlo da postura, equilíbrio e capacidade de utilização dos membros superiores, incluindo arnês suspensos - comuns em centros de fisioterapia - que carregam o peso do corpo.

Também utilizaram exoesqueletos robóticos que transmitiam sensações virtuais para ajudar o cérebro a treinar essas sensações. Quando o avatar andava na areia, por exemplo, o paciente sentia uma pressão diferente em relação à constatada na relva ou asfalto.

"O cérebro do paciente cria a sensação de que está a andar sozinho, sem a ajuda de aparelhos", uma espécie de ilusão, explicou Nicolelis. De acordo com este cientista, este processo estimula alterações não apenas no cérebro, mas também na medula espinal.

Os resultados parecem confirmar que a técnica produz efeitos práticos: pelo menos oito pessoas começaram a sentir as pernas e a pele e uma voltou a caminhar coma ajuda de suportes. "Também houve uma melhoria no desempenho sexual dos homens", acrescentou, ressaltando que alguns deles recuperaram "a possibilidade de ter relações sexuais e ereções".

Com AFP