Na "cimeira do clima" realizada na capital francesa em 2015 a comunidade internacional comprometeu-se a tomar medidas para limitar o aumento das temperaturas médias a menos de dois graus, de preferência a menos 1,5 graus, em relação à era industrial, mas essa barreira dos 1,5 graus pode ser quebrada já em 2026, segundo a investigação da Universidade de Melbourne publicada na revista científica “Geophysical Research Letters”.

O pessimismo dos investigadores prende-se com a chamada Oscilação Interdecadal do Pacífico (OIP), uma oscilação da temperatura da superfície do oceano semelhante ao fenómeno “El Niño” mas de muito mais longa duração.

Diz-se no estudo que esse controlador natural do clima que funciona de forma lenta terá mudado para uma fase positiva e que por isso vai levar a uma aceleração do aquecimento global na próxima década.

Desde 1999 que a OIP está em fase negativa mas os recordes de temperaturas consecutivos dos anos 2014, 2015 e 2016 levaram os especialistas em clima a admitir que houve uma mudança. No passado as fases positivas coincidiram com uma aceleração do aquecimento global.

“Mesmo que a OIP se mantenha na fase negativa, a nossa investigação mostra que provavelmente veremos as temperaturas globais a quebrarem a barreira dos 1,5 graus até 2031”, disse o autor principal do trabalho, Ben Henley, acrescentando que a única solução seria os governos reduzirem as emissões de gases com efeito de estufa mas também retirarem carbono da atmosfera.

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Diz-se no trabalho agora publicado que a OIP tem um impacto muito grande o clima e que é uma alavanca natural poderosa que muda de forma lenta em períodos de 10 a 30 anos. Na fase positiva as temperaturas do oceano Pacífico são excecionalmente quentes e a norte e a sul dessa região são excecionalmente frias. Na fase negativa acontece o contrário.

No passado, assistiu-se a OIP positivas entre 1925 e 1946 e depois entre 1977 e 1988, períodos com aumentos rápidos das temperaturas médias globais. O mundo experimentou o contrário numa fase negativa prolongada entre 1947 e 1976.

Uma característica marcante da fase negativa da OIP deste século é que as temperaturas médias continuaram a aumentar, embora de forma mais lenta. Segundo os especialistas na fase positiva esse abrandamento será corrigido e pode ser de esperar uma aceleração do aquecimento nas próximas décadas.

Delegações de 196 países começaram esta segunda-feira, em Bona, a discutir a forma de na prática limitar o aquecimento global, seis meses depois da eleição de Donald Trump para Presidente dos Estados Unidos, que ameaçou retirar o país do acordo assinado em Paris em dezembro de 2015.

Nessa altura, a comunidade internacional comprometeu-se a limitar o aumento das temperaturas, que pode chegar aos três graus se nada for feito.