Depois de mais de 10 anos de investigação, esta empresa portuguesa da área da biotecnologia avançada, com sede em Sagres, em Vila do Bispo, não esconde a ambição de vender a descoberta a um dos ‘tubarões’ da indústria farmacêutica mundial.

A dor crónica é uma doença que aflige uma em cinco pessoas em todo o mundo, proporção que, no entanto, é superior na população portuguesa, disse à agência Lusa Pedro Lima, investigador e diretor científico da Sea4Us.

A empresa está a desenvolver o primeiro analgésico marinho não opioide que, se tudo correr como previsto, será eficaz no tratamento da dor crónica sem provocar dependência ou efeitos secundários, porque não afeta centralmente o cérebro, referiu.

“O que nós temos a ser desenvolvido é uma alternativa aos opioides, morfina e afins, que de facto aliviam a dor em muitos casos e outros não, mas têm efeitos secundários algumas vezes terríveis”, esclareceu o neurofisiologista e biólogo marinho.

O muito provável futuro novo medicamento é possível graças às características particulares de organismos marinhos que evoluíram e estão incrustados nas rochas de grutas e cavidades da costa algarvia, perto de Sagres, no distrito de Faro.

A Lusa acompanhou uma das saídas, num semirrígido, a partir de Sagres, em que uma equipa da Sea4Us, liderada por Pedro Lima, mergulhou junto a uma falésia na costa sul do Algarve, entre o porto de pesca desta vila e a Ponta da Atalaia, para recolher esponjas e outros organismos marinhos das rochas.

“É nesses organismos, como estes que nós tirámos, que encontramos uma química que está para além do engenho humano. O engenho humano não consegue sintetizar estas formas que nós encontramos nestes animais. É este o nosso conceito”, afirmou o responsável, depois de um mergulho que durou cerca de meia hora.

Sagres é o principal local de recolha de amostras marinhas, onde a Sea4Us tem nas suas instalações aparelhos para tratar as amostras, mas o desenvolvimento pré-clínico é realizado no Laboratório de Fisiologia da Universidade Nova de Lisboa.

A empresa também trabalha em rede com outras entidades, como a Universidade do Algarve e outras instituições de ensino na Europa, Estados Unidos e Japão, assim como empresas que desenvolvem as mais diversas substâncias.

“O nosso conceito é de facto, levá-lo [o produto] a um ponto – esperamos alcançá-lo daqui a um ano e meio -, em que poderemos fazer o licenciamento para um desses ‘tubarões’ [multinacionais do setor farmacêutico]”, afirmou.

A empresa está agora a fazer os testes que precedem os primeiros testes clínicos em humanos, e caso corra tudo como esperado, pode avançar-se para o licenciamento e as farmacêuticas colocarem o produto no mercado, o que pode demorar cerca de cinco anos.

A Sea4Us assume não ter o dinheiro necessário para realizar a totalidade dos testes em cobaias humanas e que gostaria de vender o seu projeto, daqui a cerca de um ano e meio, no início das experiências com pessoas.

Até agora, a empresa já investiu neste projeto, com a ajuda de fundos públicos, 1,5 a 02 milhões de euros, esperando continuar a investir noutros, alguns dos quais já iniciados, que permitirão permitir lutar contra doenças como a bexiga hiperativa, a neuropatia induzida por quimioterapia ou a epilepsia.