Durante vários anos, os neurocientistas acreditaram que o cérebro trabalhava mais quando tinha uma tarefa para desempenhar do que quando não havia estímulos.

Para chegar a essas conclusões, a maioria dos testes com voluntários eram monitorizados por tomografias ou ressonâncias magnéticas, com o objetivo de revelar que partes da mente estavam mais ativas.

Em 1997, uma análise feita pela Universidade Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, confirmou uma surpresa: uma rede de conexões cerebrais é ativada quando não estamos concentrados em absolutamente nada. Outros estudos já tinham avançado essa possibilidade.

Gordon Shulman, principal autor da investigação, notou que algumas áreas do cérebro se tornavam menos ativas quando o voluntário terminava o seu período de descanso para realizar uma atividade.

Mas porque é que o cérebro em repouso é tão ou mais ativo?

Até hoje, quase 3 .000 estudos científicos foram publicados a respeito do "estado de repouso" do cérebro. Mas porque é que o cérebro em repouso é tão ou mais ativo?

Existem várias teorias, mas por enquanto os cientistas ainda não chegaram a um acordo. Alguns investigadores defendem que esses momentos - em que estamos sem fazer ou pensar em algo em concreto - têm um papel fundamental na consolidação das memórias.

Sabe-se que os sonhos ajudam o cérebro a organizar a memória e a sedimentar as experiências do dia-a-dia. Agora há evidências de que isso também acontece quando estamos acordados sem pensar em nada, conforme apontou um estudo do Centro de Neurociência Integrativa da Universidade da Califórnia em San Francisco, publicado em 2009.

Segundo os investigadores, quando deixamos a mente viajar, ela tende a concentrar-se no futuro. Segundo o neurocientista Moshe Bar, da Faculdade de Medicina de Harvard, sonhar acordado cria memórias de eventos que não aconteceram. "Isso dá-nos um estranho conjunto de experiências prévias que podemos usar para decidir como agir caso essas imaginações se tornem realidade", afirma, cita a BBC.

Um estudo realizado nos Estados Unidos e na Alemanha, publicado em outubro, indica que nós experimentamos o estado de repouso de maneiras diferentes. Os investigadores conduziram um estudo por tomografia de cinco pessoas que foram treinadas para recontar as suas fantasias cada vez que ouvissem um bip do computador. Os neurocientistas encontraram diferenças consideráveis entre as experiências e pensamentos de cada pessoa.

Em setembro, pesquisadores da Universidade de Oxford usaram tomógrafos em 460 pessoas em estado de repouso para explorar que partes do cérebro se comunicavam entre si. Novamente, os resultados apontam para diferenças pessoais, ligadas a habilidades e experiências de vida. O estudo mostrou ainda que a força entre as conexões das diferentes partes do cérebro variaram de acordo com a memória da pessoa, o seu nível de escolaridade e a sua resistência física.