23 de setembro de 2014 - 08h33
Nigel Crisp, antigo responsável pelo serviço de saúde inglês, aposta em medidas como a redução das infeções hospitalares e da diabetes para melhorar a vida das pessoas e também a saúde financeira do setor em Portugal.
A ideia é defendida no relatório “Um futuro para a saúde - todos temos um papel a desempenhar”, elaborado a pedido da Fundação Calouste Gulbenkian por um grupo de peritos, presidido por Nigel Crisp, que se encontra em Portugal para apresentar o documento, na terça-feira.
Numa conversa informal com os jornalistas, Nigel Crisp disse não acreditar na possibilidade do orçamento para a saúde ser reforçado, mas defende a ideia de ir buscar mais financiamento na prevenção de doenças e respetiva despesa.
A este propósito, deu o exemplo das infeções hospitalares que, segundo dados oficiais, representam uma despesa de 280 milhões de euros por ano.
Se esse valor for reduzido, além da saúde dos portugueses, serão as finanças da saúde a melhorar, pois esse valor poderá ser encaminhado para outras áreas, disse.
O antigo responsável pelo serviço nacional de saúde inglês, que enalteceu o SNS português, considerando que esta foi a maior das conquistas de Abril, reconheceu que ao estudar o sistema português ficou surpreendido com alguns dados, nomeadamente o número de anos de vida saudável depois dos 65 anos.
De acordo com o relatório, “os homens e as mulheres portugueses têm em média seis e 6,6 anos de vida saudável depois dos 65 anos, respetivamente, enquanto os noruegueses têm, respetivamente, 15,9 e 15,4 anos”.
“A taxa elevada de morbilidade na população idosa é o maior desafio financeiro com que o país se defronta na saúde. A sustentabilidade futura do sistema de saúde dependerá da sua redução”, prossegue o documento.
O especialista abordou ainda a despesa que cada português tem com a saúde, afirmando que, em 2013, esta totalizou cerca de 27 por cento da despesa total em saúde, enquanto o valor equivalente em França foi de sete por cento, e em Espanha 20 por cento.
Por outro lado, “Portugal gasta em cuidados de longa duração aproximadamente 0,1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), valor muito inferior ao de outros países da Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento (OCDE), em que esses cuidados representam cinco, dez ou vinte vezes mais da despesa pública”.
Para mostrar como é possível passar da teoria à prática, a Fundação Calouste Gulbenkian anunciou um desafio a que a organização se propõe; reduzir a incidência das infeções hospitalares, baixando as taxas atuais para metade, em três anos, em dez hospitais, que ainda não foram escolhidos.
Suster o crescimento da incidência da diabetes, em cinco anos, evitando que 50 mil pessoas desenvolvam a doença e ajudar o país a tornar-se um exemplo na saúde e no desenvolvimento dos primeiros anos de infância, com melhorias quantificáveis nos indicadores de saúde e bem-estar das crianças, são os outros desafios.
Com estas medidas, que serão financiadas, embora ainda não seja conhecido o montante do investimento da Fundação, o SNS deverá poupar entre um a três por cento da despesa anual, segundo consta do relatório.
Por Lusa