As conclusões são das "VIII Jornadas de Atualização em Psoríase – O seu impacto na personalidade do indivíduo", organizadas pelo Hospital CUF Descobertas e pela PSO Portugal (Associção Portuguesa da Psoríase), com o apoio da Leo Pharma.

A iniciativa, que fez uma abordagem ao impacto da doença nos jovens, contou com a participação de médicos especialistas, do presidente da PSO Portugal, Jaime Melancia, e de Catarina Figueiredo, uma jovem doente que deu o seu testemunho. Diogo Piçarra, jovem cantor, marcou presença, bem como a jornalista Laurinda Alves, que abordou os vários problemas psicológicos que podem ser associados a quem vive com a doença. A jornalista Alberta Marques Fernandes moderou uma mesa redonda onde os vários temas foram debatidos e relacionados.

Para o responsável da PSO Portugal, Jaime Melancia, "o doente vive com muitas oportunidades perdidas na sua vida. Além disso, um terço dos doentes gasta mais de 50 euros por consulta que, associados aos tratamentos diários, fazem com que as despesas sejam altíssimas e, numa conjuntura económica desfavorável como a nossa, muitos doentes abandonam tratamentos".

Para o doente jovem, que se depara com constrangimentos diários na gestão da sua imagem, é crucial conseguir ultrapassar o mal-estar gerado a cada momento. Catarina Figueiredo, 30 anos e com psoríase desde os 12, diz que "a doença tem a importância que se lhe quer dar. Gosto de levar as coisas com calma e na brincadeira, pois há coisas muito mais importantes. Percebi que quando estou ansiosa, a psoríase piora e, por isso, é fundamental reduzir a sua importância no dia-a-dia: resiliência, auto-conceito e suporte levam a que eu lide muito bem com a doença, apesar de todos os problemas".

Do ponto de vista médico, a psoríase é uma doença crónica com forte tendência hereditária associada a um conjunto de outras doenças como diabetes, hipertensão, hepatite e depressão, que afetam negativamente a qualidade de vida doentes.

Maioria dos doentes sente-se frustrada

"Cerca de 75% dos doentes assumem que o impacto na vida quotidiana está ao nível de um tumor. 78% sentem-se frustrados, o que leva a que cerca de 40% acabem por não cumprir a terapêutica com rigor", afirma Paulo Ferreira, médico dermatologista. "As terapêuticas estão a evoluir muitíssimo, sendo a área dos biológicos altamente tecnológicos o campo onde mais evolução se tem conseguido. Esta terapêutica não atua diretamente na pele, mas na base da doença, nas células da imunidade", explica o médico.

"Cada vez mais estudos apontam para a existência do eixo pele-cérebro desde o estado embrionário. Por isso, a psoríase obviamente influencia o desenvolvimento da personalidade. O facto de a psoríase ocorrer mais comumente na puberdade faz com que muitos jovens com psoríase lidem com o efeito da doença na sua identidade, nas suas relações e na sua intimidade. O stress causado pelos fatores psicossociais e biológicos agrava, em círculo vicioso, a própria doença, o que, para jovens que ainda estão em fase de formação de personalidade, causa enormes dificuldades, nomeadamente no espaço escolar, que permanecerão ao longo da vida", explica Gustavo de Jesus, psiquiatra.

"A adolescência é uma fase de risco porque aí se forma o padrão de relacionamento com os outros e a ideia de autoimagem. A ansiedade, suscetibilidade e irritabilidade são fatores associados à psoríase que podem levar à depressão", acrescenta este médico.

Laurinda Alves salientou a importância de uma “indiferença informada. As doenças dermatológicas são difíceis de lidar, mas precisam que a sociedade esteja informada para não estigmatizar. A multiplicação da informação e do conhecimento é muito importante para quem não tem a doença e para o próprio doente. É crucial que o doente consiga viver o mais possível apaziguado com a doença e, assim, fazer progredir a forma como os outros o encaram.”

Na mesa redonda “só importa até não sabermos o que é”, Alberta Marques Fernandes referiu “a importância de nos distinguirmos num tempo em que a imagem conta muito. Por vezes, essa distinção surge naturalmente e a normalização dessa diferença no quotidiano tornará a sociedade mais adulta e responsável”.

O que é a psoríase?

É uma doença inflamatória, autoimune, que afeta 1% a 3% da população mundial, ou seja, 125 milhões de pessoas. Apesar de crónica, não é mortal, nem contagiosa. Apresenta-se, geralmente, sob a forma de lesões avermelhadas na pele, espessas e descamativas.

A psoríase afeta tanto homens como mulheres, estando mais associada a pessoas de pele clara. Manifesta-se, pela primeira vez, entre os 15 e os 35 anos, mas pode surgir em idades mais avançadas. É uma patologia com uma forte propensão hereditária: um terço dos casos diagnosticados tem história clínica familiar de psoríase.

No entanto, qualquer pessoa pode ter um surto sem existir qualquer antecedente. Existem fatores ambientais, como as infeções bacterianas, certos medicamentos, a obesidade ou o stress, entre outros, que, em doentes geneticamente predispostos, promovem o desenvolvimento de psoríase. Não existe cura para a doença. As terapêuticas disponíveis contribuem para controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.