HealthNews (HN) – O Prémio BIAL de Medicina Clínica está prestes a completar 40 anos de existência e é considerado um dos mais importantes na área da Saúde em Portugal. O que o distingue de outros Prémios?

Prof. José Melo Cristino (Prof. JMC) – Este é, de facto, um Prémio com grande história e prestígio, que conta com o Alto Patrocínio de Sua Excelência o Presidente da República e os patrocínios do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e da Ordem dos Médicos. É também um Prémio singular porque procura dar notoriedade aos profissionais de saúde de língua oficial portuguesa que realizam trabalho de investigação de excelência, e fá-lo quer pela expressão pecuniária do prémio, quer pela publicação da primeira edição da obra premiada. Além disso, não se foca apenas num tema ou área, pois tem vindo a distinguir obras de temas diversificados, sempre com aplicação clínica. Repare que, nas 20 edições realizadas, o Prémio foi acompanhando a evolução e as tendências da Medicina, tendo premiado diversos trabalhos no âmbito das doenças civilizacionais, genética, medicina molecular, imagiologia, terapêuticas substitutivas e regenerativas, entre muitos outros. Na última edição, por exemplo, foram distinguidas obras sobre o autismo, tumores cerebrais e hipertensão.

HN – Já integrava o Júri nas últimas edições, mas na próxima edição será pela primeira vez Presidente do Júri. Que desafios espera encontrar nesta nova função?

Prof. JMC – O Júri deste Prémio é constituído por prestigiados representantes dos Conselhos Científicos das escolas de medicina portuguesas e devo dizer que é para mim uma grande honra presidir, pela primeira vez, a este Júri que integrei como vogal nas últimas edições. Há quatro membros, além de mim, que se mantêm da edição anterior, e entram quatro novos membros. Vamos ter, assim, uma dinâmica interessante. Por um lado, alguns de nós já passaram pelo processo de seleção da obra mais relevante entre as candidatas, outros, embora tenham tido experiências similares integrando júris, vão desempenhar este papel pela primeira vez, o que pode ser renovador e estimulante. O maior desafio é sempre escolher a obra premiada entre várias dezenas de excelentes obras.

HN – Ao longo destas últimas décadas, o que considera que se alterou na investigação na área da Medicina Clínica em Portugal que possa ter tido repercussões neste Prémio?

Prof. JMC – Apesar de considerarmos que há lugar a melhorias significativas, nas últimas décadas houve um progresso notável na investigação em saúde, quer nas ciências biomédicas mais fundamentais, quer na Medicina Clínica. Tem havido também uma oferta diversificada de formação especializada. Temos várias instituições nacionais de excelência na investigação biomédica, com profissionais altamente qualificados que albergam frequentemente clínicos ou estabelecem ligações íntimas com a Medicina Clínica, bem como colaborações com instituições prestadoras de cuidados de saúde. Tudo isto se tem refletido na melhoria da qualidade dos trabalhos candidatos ao Prémio.

HN – Considerando a sua experiência anterior como membro do Júri, quais costumam ser as maiores dificuldades que encontram no processo de seleção das candidaturas recebidas?

Prof. JMC – Como referi, o maior desafio, não lhe chamaria dificuldade, é selecionar apenas uma obra para receber o Prémio BIAL de Medicina Clínica e usualmente duas obras para Menções Honrosas. Ao longo dos últimos quase 40 anos tivemos muitos dos mais notáveis médicos e investigadores portugueses a concorrer e a serem distinguidos. É gratificante constatar que, entre as mais de 700 candidaturas recebidas, temos encontrado obras verdadeiramente relevantes de clínicos e investigadores consagrados.

HN – O facto de este Prémio se focar numa área tão abrangente como é a da investigação clínica é encarado pelo Júri sobretudo como uma vantagem ou como uma dificuldade na escolha dos melhores trabalhos?

Prof. JMC – Considero ser uma vantagem com uma dificuldade inerente. A vantagem é não deixar nenhuma área da investigação clínica de fora. A dificuldade é para o júri – distinguir os trabalhos de maior qualidade (habitualmente são muitos), seriá-los e escolher o premiado.

HN- Que conselhos daria a quem está a planear submeter uma obra à edição do Prémio BIAL de Medicina Clínica que abrirá no início do próximo ano?

Prof. JMC – Queremos distinguir a melhor investigação em medicina clínica com elevada aplicabilidade na comunidade. Esperamos, por isso, receber candidaturas que coloquem o mais avançado conhecimento clínico e científico ao serviço dos doentes e da sociedade em geral, com impacto significativo na melhoria da saúde humana. Como referi anteriormente, este é um prémio prestigiante que distingue uma obra de excelência com um valor de 100 mil euros e, ainda, a publicação em primeira edição exclusiva impressa e/ou digital. Além da obra premiada, poderão ainda ser atribuídas Menções Honrosas (no máximo duas) no valor de 10 mil euros cada. As candidaturas abrem em janeiro e os investigadores terão 8 meses, até 31 de agosto de 2024, para submeter uma obra intelectual, original, de índole médica, com tema livre e dirigida à prática clínica, que represente um trabalho com resultados de grande qualidade e relevância. Recordo que não são elegíveis trabalhos publicados sob a forma de artigos, livros ou teses, e que pelo menos um dos autores deve ser médico nacional de um país de expressão oficial portuguesa.