Gonçalo Bernardes, do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, e cientistas da Universidade de Flinders, na Austrália, obtiveram este material poroso, misturando óleo para fritar alimentos com enxofre, um subproduto da indústria petrolífera, numa solução a 180ºC.
Ao fim de 20 minutos, e após a adição de sal a equipa conseguiu ter um material esponjoso, feito com poluentes, capaz de capturar mercúrio, um outro poluente, existente na água, no solo e na atmosfera.
Gonçalo Bernardes, investigador do laboratório de Biologia Química e Biotecnologia Farmacêutica do Instituto de Medicina Molecular, disse à Lusa que se trata de um material fácil e barato de produzir e "supereficiente para remover mercúrio", bastando "o contacto com superfícies que estejam altamente poluídas".
O cientista assinalou que, apesar de estar em contacto com o mercúrio, o novo material "não é tóxico". Em novembro, o material poroso de polissulfureto vai começar a ser testado na Indonésia, onde os agricultores fazem a queima de mercúrio durante a recolha de amálgamas de ouro.
Mercúrio causa demência
Gonçalo Bernardes lembrou, a este propósito, que cerca de 15 por cento do ouro mundial é recolhido, de forma artesanal, por agricultores do Sudeste Asiático e da América do Sul, que levam as amálgamas para casa e as colocam numa panela com água a ferver para que o mercúrio se liberte no vapor.
"E a família, em casa, está a inalar mercúrio, que é altamente tóxico", relatou, acrescentando que "há muita demência" nestas regiões por ação deste poluente, também presente em pesticidas usados nas plantações de cana-do-açúcar do Brasil, da Índia e da Austrália e em oleodutos instalados no fundo do mar.
Os resultados do trabalho desenvolvido pelos investigadores portugueses e australianos foram publicados na revista da especialidade Chemistry.
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