26 de março de 2014 - 10h01
Portugal é o país da Europa Ocidental mais atrasado nos cuidados paliativos para crianças, não dispondo sequer de serviços especializados, segundo um relatório que vai ser apresentado no VII Congresso Nacional de Cuidados Paliativos, dias 27 a 29 de março, no Algarve.
Faltam equipas especializadas em cuidados paliativos pediátricos, não existe organização dos serviços, nem profissionais formados no apoio às crianças e às famílias, aponta Ana Lacerda, pediatra no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa e membro da comissão de cuidados continuados e paliativos da Sociedade Portuguesa de Pediatria. 
“Estas crianças podiam sofrer menos. Às vezes falamos de anos de suporte à vivência com uma doença crónica complexa que limita a qualidade de vida da criança”, alertou, em declarações à TSF, criticando ainda o facto de estas crianças serem tratadas como se "as doenças de que elas sofrem fossem curáveis quando não o são". 
"Como se não bastasse, os cuidados existentes estão centralizados em hospitais terciários que ficam muitas vezes "a centenas de quilómetros do domicílio dos doentes", acrescenta.
Porém, as crianças não são, porém, as únicas afetadas pela inexistência de cuidados paliativos. No Serviço Nacional de Saúde, apenas 10% dos doentes referenciados usufruem deste tipo de cuidados, segundo a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP). 
Baseando-se no relatório da Entidade Reguladora da Saúde, a APCP recorda que, entre janeiro de 2011 e setembro de 2012, apenas 3.450 doentes foram referenciados para a rede nacional de cuidados integrados.
Além do desconhecimento da população quanto a estes cuidados que podem fazer toda a diferença para quem sofre de uma doença incurável, a APCP lembra que a lentidão dos tempos de referenciação para os serviços não se compadece com as necessidades dos doentes: 50% das pessoas morrem antes de serem chamadas.
Dados do INE referem que 62.107 das 103.512 pessoas que morreram em 2007 tiveram necessidade de cuidados paliativos, mas apenas uma pequena franja chegou a recebê-los.
SAPO Saúde