Em 16 meses, a plataforma portuguesa Patient Innovation (Doentes Inovadores) analisou e avaliou 300 inovações, vindas de 30 países, sendo os principais contribuidores oriundos dos Estados Unidos, de Portugal, do Reino Unido, da Austrália e do Brasil.
Um dos seis distinguidos, entre os que conceberam essas três centenas de soluções, é a portuguesa Joaquina Teixeira, mãe de uma criança com Síndrome de Angelman, que afeta o desenvolvimento motor, que conseguiu fazer com que o seu filho começasse a andar, ao espalhar balões coloridos pela casa.
O exemplo é citado por um dos responsáveis da plataforma, Pedro Oliveira, do Programa Avançado de Empreendedorismo e Gestão da Inovação da Católica–Lisboa, que desenvolveu a Patient Innovation com a participação da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, do Massachusetts Institute of Technology - MIT Sloan School of Management e da Carnegie Melon University, dos Estados Unidos.
Pedro Oliveira explicou à agência Lusa que, "quando é suposto estas crianças [com Síndrome de Angelman] começarem a andar, não têm massa muscular para o fazer". Joaquina Teixeira não conseguia, por isso, que o filho se levantasse, começasse a andar ou sequer a gatinhar e, numa festa, surpreendeu-se com o entusiasmo da criança com os balões coloridos cheios de hélio, que flutuavam no ar: saltava para apanhar as bolas de cores.
Joaquina Teixeira adquiriu então muitos balões de diferentes cores, espalhou-os pela casa e, pouco tempo depois, o filho começou a andar, relata Pedro Oliveira, apontando este como um exemplo da simplicidade de algumas soluções encontradas na plataforma "online", lançada em fevereiro de 2014.
Entre os outros premiados na categoria de cuidadores está "uma senhora de Israel, que já fez 14 inovações - tem um filho com paralisia cerebral e fez umas sapatas grandes", que ficam presas a um adulto, permitindo à criança fazer o movimento de andar.
Um artista norte-americano de teatro, também distinguido, produziu uma mão mecânica. A ideia chegou através da internet até um sul-africano que tinha perdido alguns dedos, num acidente na sua oficina. E a solução, mais barata do que uma prótese, já foi adotada por 1.500 pessoas de todo o mundo.
Entre os doentes inovadores está também um cidadão britânico, engenheiro mecânico, com um problema na aorta, que desenhou um suporte para colocar à volta da artéria e conferir-lhe uma maior resistência, trabalhando em conjunto com os médicos, na solução que propunha. "Salvou a vida dele e de 52 outras pessoas que até hoje receberam o mesmo suporte aórtico", salientou Pedro Oliveira.
"Uma jornalista norte-americana, que teve cancro da mama e fez mastectomia, desenvolveu uma 'tshirt' 'super sofisticada', para poder tomar banho depois da operação", prosseguiu o responsável da plataforma e professor da Universidade Católica, recordando ainda um canadiano com fibrose quística que concebeu uma máquina para limpar os pulmões.
O sítio da plataforma na internet convida as pessoas a registar-se e a partilhar a solução que encontrou. A proposta é depois avaliada por uma equipa médica, liderada pela professora Helena Canhão, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, antes de ser aprovada e ficar disponível "online".
A ideia surgiu quando "descobrimos que há uma quantidade enorme de doentes que fizeram soluções fantásticas para os ajudar" a lidar com as suas condições de vida, e "um enorme potencial nas coisas que faziam, mas não havia espaço para partilharem estas soluções", explicou Pedro Oliveira à Lusa.
Depois, "começámos a ter apoios completamente inesperados e temos um conselho consultivo com dois prémios Nobel" - o Nobel da Medicina Richard Roberts e o da Quimica Aaron Ciechanover - e outros especialistas, nacionais e internacionais, como aquele cientista que "tem mais patentes" registadas em todo o mundo, realçou Pedro Oliveira.
O projeto já foi destacado no âmbito do Harvard Health Acceleration Challenge, organização conjunta das faculdades de Medicina e de Economia e Negócios de Harvard, entre mais de 400 projetos a nível mundial.
A entrega dos prémios aos seis distinguidos pela Patient Innovation, realiza-se hoje, em Lisboa, em associação com "a melhor conferência de inovação aberta e de utilizador do mundo", como destaca Pedro Oliveira, referindo-se à Open and User Innovation Society Meeting (OUI), a decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian.
A 13.ª edição da conferência, que habitualmente se realiza nas grandes universidades dos Estados Unidos, tem lugar em Portugal, pela primeira vez, e reúne cerca de 200 especialistas, académicos, representantes de empresas e investigadores de várias áreas do conhecimento, que vão do diretor de inovação da NASA, ao comissário europeu para a Investigação, a Ciência e a Inovação, Carlos Moedas.
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