10 de outubro de 2013 - 12h50
Pelo menos duas pessoas suicidaram-se por dia em Portugal em 2011, segundo dados de um relatório, que alerta para o risco de a crise inverter a tendência tradicional e levar ao aumento de suicídios entre os mais jovens.
O Relatório “Portugal Saúde Mental em Números” revela que em 2011 suicidaram-se 951 pessoas, sendo entre os idosos com mais de 70 anos que se verifica maior incidência, com uma taxa de mortalidade (nesse ano) de 21,4 por 100 mil habitantes.
O documento recorda que a Organização Mundial da Saúde (OMS)/Europa “vem alertando para a possibilidade de, ao contrário do tradicional e por efeito da crise, se verificar aumento da taxa na meia-idade e em adultos jovens”.
O relatório aponta ainda para um maior registo de casos de suicídio nas regiões do Alentejo e do Algarve, o que requer a intervenção de brigadas móveis em zonas de dispersão habitacional e menor densidade demográfica.
Outra recomendação é no sentido de prevenir o suicídio através da melhoria da capacitação diagnostica e terapêutica das perturbações depressivas, nomeadamente nos cuidados de saúde primários (CSP).
Aliás, os CSP têm um papel fundamental na área das doenças mentais, de acordo com o documento, que revela que a OMS e a União Europeia consideram que o modelo de intervenção baseado na articulação entre as equipas comunitárias multidisciplinares e os CSP é o mais económico e eficaz.
Consumo de antidepressivos em Portugal superior à média europeia
Ainda de acordo com o relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS), o consumo de antidepressivos em Portugal é superior à média da União Europeia e geralmente este grupo de fármacos é utilizado para as perturbações depressivas e não para as perturbações ansiosas, como recomendam as boas práticas clínicas.
“O consumo de mais antidepressivos por perturbações depressivas [do que por perturbações ansiosas] é superior à média da UE (55% em Portugal e 51% na UE). Por outro lado, o consumo de antidepressivos por perturbações ansiosas é na ordem dos 47% (41% na UE)”, indica o relatório, que destaca que “as boas práticas recomendam que, a ser necessária prescrição medicamentosa, aqueles fármacos sejam utilizados em ambas as patologias.

Dados de 2010 apontavam para um consumo de antidepressivos em Portugal, o dobro do da média da UE.
Aliás, os dados do primeiro estudo de prevalência de perturbações mentais (relativo a 2010 mas recentemente conhecido) colocam Portugal no lugar cimeiro entre os países europeus analisados, quanto à prevalência das doenças mentais (22,9%).
Entre as perturbações mentais responsáveis pela maior incapacidade para a atividade produtiva e psicossocial, as cinco principais são a depressão major (em lugar cimeiro), os problemas ligados ao álcool, as perturbações esquizofrénicas, as doenças bipolares e as demências.
O relatório destaca ainda o consumo de substâncias psicoativas como a canábis, afirmando que “gera preocupação, sobretudo em relação aos valores elevados verificados nos alunos do secundário, face à evidência científica atual do risco psicótico também associado à menoridade”.

Psicoses entre principais motivos de internamento
Segundo o estudo, as psicoses constituíram um dos principais motivos de internamento associado às perturbações mentais.
No entanto, com a criação de mais estruturas de reabilitação psicossocial, nomeadamente com o esperado desenvolvimento dos cuidados continuados de saúde mental, prevê-se a redução do número de episódios de internamento por perturbações psicóticas, considera.
O relatório deixa algumas recomendações, como a necessidade de detetar precocemente e acompanhar a depressão e demências, designadamente nas pessoas idosas, prevenir e reduzir a prevalência do consumo de substâncias psicoativas (quer lícitas como ilícitas), em particular nos jovens, e prevenir, detetar e acompanhar os comportamentos de risco nos vários grupos etários.

Lusa