A quantidade desse metal pesado altamente tóxico para a saúde, e cujos valores presentes nas populações nacionais de golfinhos foram investigados pela equipa de biólogos da Universidade de Aveiro (UA), só é mesmo ultrapassada pelas espécies que habitam nas costas dos mares Mediterrâneo e Adriático. “Podemos estar perante um “potencial problema, associado ao mercúrio no ecossistema marinho em Portugal”, alertam os investigadores da Universidade de Aveiro.

Mercúrio altamente tóxico. Níveis elevados na costa afetam golfinhos
Investigadora Sílvia Monteiro, da Universidade de Aveiro créditos: UA

Os investigadores do Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da UA lembram que a principal via de entrada do mercúrio e de outros poluentes químicos nos golfinhos ocorre por ingestão.

Espécies ingeridas pelos humanos

“Algumas das presas principais destes golfinhos são espécies comerciais importantes, pelo que representam alimento frequentemente ingerido pelos humanos”, salienta a bióloga Sílvia Monteiro, investigadora do Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da UA.

Dois fatores podem estar a influenciar a presença deste metal pesado nos golfinhos analisados: fenómenos naturais ligados a processos oceanográficos ou geotérmicos e a ação humana, nomeadamente a agricultura, a indústria, o tráfego marítimo ou a exploração mineira.

“Os golfinhos possuem um conjunto de características: são predadores de topo, têm uma limitada capacidade de excreção de poluentes, têm uma elevada longevidade e elevada mobilidade. Essas características tornam-nos potencialmente ameaçados por poluentes químicos e potenciais sentinelas do estado de contaminação do ecossistema marinho”, explica Sílvia Monteiro.

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A equipa de investigação realizou análises ao mercúrio em dezenas de animais que deram à costa nos últimos anos, já mortos ou que acabaram por morrer nas praias.

O estudo centrou-se nos organismos de duas das espécies mais comuns das águas nacionais: a roaz e o boto.

No caso da espécie roaz (Tursiops truncatus) verificaram-se dos níveis mais elevados de mercúrio em águas europeias, com valores só excedidos por animais analisados em águas do Mediterrâneo e Adriático. Resultados similares, embora relativamente menores, foram encontrados para a espécie boto (Phocoena phocoena).

Apesar da comunidade científica mundial pouco ainda saber sobre os efeitos dos poluentes químicos na saúde dos golfinhos, “existem já vários estudos que mostram que a exposição a metais pesados interfere no seu desenvolvimento e crescimento, pelo que Sílvia Monteiro diz ser “fundamental conhecer o impacto das ameaças antropogénicas sofridas por estas espécies, de modo a permitir uma implementação eficaz de estratégias de conservação”.