O elevado custo dos medicamentos biológicos obriga os médicos a “convencer” as administrações hospitalares dos seus benefícios, mas se o fármaco for receitado num consultório privado, o doente pode levantá-lo no hospital e este nem questiona a sua entrega.

A denúncia partiu de José Delgado Alves, coordenador do Núcleo de Estudos das Doenças Autoimunes da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (NEDAI), que na sexta-feira realiza a sua 18ª Reunião Anual.

De acordo com este profissional, que dirige um serviço de medicina interna no Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), os medicamentos biológicos são caros e, por isso, muitas vezes os médicos têm de “convencer” os administradores hospitalares para que estes autorizem esta prescrição.

Isto porque quando o doente é seguido nos serviços hospitalares é a instituição que os paga e, nesse sentido, existe um controlo, tendo em conta os constrangimentos financeiros no setor.

Mas segundo José Delgado Alves, esses constrangimentos não se fazem sentir se o fármaco for receitado por um médico num consultório privado.

Nesses casos, disse, “o doente só tem de se dirigir ao hospital da sua zona de residência e levantar o fármaco, cabendo da mesma forma a esta unidade de saúde a despesa com o medicamento”.

Isto acontece mesmo após a imposição do registo de doentes e dos medicamentos biológicos que recebem, bastando para tal que o médico esteja inscrito na Direção-Geral de Saúde (DGS), adiantou o especialista em doenças autoimunes.

Em Portugal desconhece-se o número exato de doentes que recebem tratamentos biológicos contra as doenças autoimunes, de que é a mais conhecida a artrite reumatoide.

Segundo José Delgado Alves, que sexta-feira vai revelar os mais recentes dados relativos às doenças autoimunes e as terapêuticas mais eficazes, dos cerca de 3.000 doentes com artrite reumatoide que são seguidos no âmbito da medicina interna, mil recebem medicamentos biológicos.

O especialista revelou que um doente custa ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) cerca de 50 euros por ano em tratamento tradicional (imunossupressores, corticoides e anti-inflamatórios). Esse valor atinge os 10 mil euros quando usados os medicamentos biológicos.

José Delgado Alves alertou para outros dados que devem constar nas contas de quem decide: “Um doente com artrite reumatoide provavelmente vai reforma-se aos 40 anos. Se receber tratamento biológico, através do qual a doença pode entrar em remissão, pode reformar-se aos 65 anos”.

12 de abril de 2012

@Lusa