Apesar de ser cada vez mais conhecida, esta doença ainda está envolta num profundo estigma. De acordo com a Margarida Alves, fisiatra no Hospital de Santa Maria, há muitos doentes que continuam a sentir vergonha e receio em falar sobre este problema. A incontinência urinária provoca perdas urinárias involuntárias que podem ser ligeiras e ocasionais ou graves e regulares. “Há doentes que, devido à fraqueza muscular do pavimento pélvico, basta tossirem, espirrarem, rirem ou pegarem num saco de compras para assistirem à perda de urina”, revela a especialista.

HealthNews (HN) – Em Portugal, perto de 600 mil pessoas são afetadas pela Incontinência Urinária. Trata-se de um problema de saúde pública?

Margarida Alves (MA) – Penso que sim. É uma doença que afeta a qualidade de vida de muitos doentes, uma vez que as perdas de urina sem sempre são pequenas.

HN – Quais as causas que estão associadas ao desenvolvimento da doença?

MA – Temos dois tipos de incontinência urinária: de esforço e de urgência. De qualquer forma, estes dois tipos podem estar associados. No caso da incontinência urinária de esforço, esta é causada pela fraqueza muscular do pavimento pélvico. É uma situação que se verifica com a idade ou até mesmo depois do parto. É claro que, se não se fizer uma reabilitação do pavimento pélvico para fortalecer estes músculos, ao longo do tempo esta situação pode piorar.

No caso da incontinência urinária de esforço, esta é causada pela contração da bexiga que se torna hiperativa. Existe medicação e tratamentos de reabilitação para minimizar este problema.

HN – Mencionou a idade e o parto como alguns dos principais fatores de risco. Que outros podem ser considerados revelantes?

MA – A alimentação e doenças como a obesidade podem ser apontados como outros fatores de risco para a incontinência urinária. De facto, certos alimentos podem contribuir para o aparecimento desta patologia por serem irritantes vesicais.

É importante referir que, no casos dos homens, há muitos doentes que após cirurgia da próstata passam a sofrer de incontinência urinária.

HN – Os sintomas reduzem-se apenas à perda de urina involuntária?

MA – Por vezes o involuntário é associado ao esforço. Há doentes que, devido à fraqueza muscular do pavimento pélvico, basta tossirem, espirrarem, rirem ou pegarem num saco de compras para assistirem à perda de urina.

No fundo, o sintoma mais prevalente é essa tal perda de urina, mas quando estamos perante um quadro de incontinência urinária de urgência, o doente sente uma necessidade súbita de urinar que não consegue controlar. Por outro lado, há muitas pessoas que acordam durante a noite com vontade de ir à casa de banho.

HN – Portanto, é uma doença associada à noctúria?

MA – Sim.

HN – Esta doença tem cura em 85% dos casos. Como é feito o tratamento?

MA – Em primeiro lugar, os médicos tentam perceber qual é o tipo de incontinência que afeta do doente. Quando esta avaliação é feita, a pessoa é orientada para determinada terapêutica de reabilitação. Isto porque cada caso é um caso. Há quem tenha menos ou mais força muscular. Portanto, é na reabilitação que ensinamos os exercícios que melhor se adequam ao doente.

No caso dos doentes com bexiga hiperativa, pode ser necessário avançar com a prescrição de medicamentos ou, inclusive, associar a estimulação do nervo tibial – é muito usada na incontinência urinária de urgência.

HN – A prática de exercício físico pode prevenir esta doença?

MA – O exercício físico permite a perda de peso, que é muito importante para que não haja tanta sobrecarga a nível da musculatura pélvica. Portanto, a atividade física é recomendada como prevenção e como tratamento.

HN – Apesar de ser conhecida por muitos, a incontinência urinária ainda está envolta num estigma profundo. Porquê?

MA – Há muitos doentes que têm dificuldade em falar sobre este problema. O uso de pensos, fraldas e os problemas a nível da sexualidade podem criar algum receio nos doentes.

HN – De que forma podemos diminuir o estigma e potenciar a acessibilidade aos cuidados de saúde indicados?

MA – É muito importante que os profissionais de saúde abordem este tema e questionem os seus doentes. Os médicos devem conseguir informar que há tratamento para a incontinência urinária.

Entrevista de Vaishaly Camões