O aumento do número de crianças não vacinadas abriu o caminho para os surtos de sarampo que estão a afetar vários países do mundo.

“Os surtos de sarampo que estamos a assistir hoje em dia foram estabelecidos anos atrás”, disse Henrietta Fore, diretora executiva do UNICEF. E acrescenta. "O vírus do sarampo vai sempre encontrar crianças não vacinadas. Se quisermos evitar a disseminação desta doença perigosa, mas evitável, precisamos de vacinar todas as crianças, tanto em países ricos quanto em países pobres”.

Nos primeiros três meses de 2019, mais de 110.000 casos de sarampo foram registados no mundo inteiro - quase 300% em relação ao mesmo período do ano passado. Estima-se que 110.000 pessoas, a maioria crianças, morreram de sarampo em 2017, um aumento de 22% em relação ao ano anterior.

Duas doses da vacina contra o sarampo são essenciais para proteger as crianças da doença. No entanto, devido à falta de acesso, sistemas de saúde precários, complacência e, em alguns casos, medo ou ceticismo em relação às vacinas, a cobertura global da primeira dose da vacina contra o sarampo foi de 85% em 2017, número que se manteve relativamente constante na última década, apesar do crescimento populacional. A cobertura global para a segunda dose é muito menor, com 67%. A Organização Mundial da Saúde recomenda um limite de 95% de cobertura de imunização.

Em países mais ricos, a cobertura com a primeira dose é de 94%, a segunda dose cai para 91%, de acordo com os dados mais recentes. Os Estados Unidos encabeçam a lista de países mais ricos com o maior número de crianças a não receberem a primeira dose da vacina entre 2010 e 2017, com mais de 2,5 milhões. A seguir vem França e Reino Unido, com mais de 600.000 e 500.000 crianças não vacinadas, respetivamente, durante o mesmo período.

Nos países com um rendimento económico mais baixo e médio, a situação revela-se crítica. Em 2017, por exemplo, a Nigéria teve o maior número de crianças com menos de um ano de idade que não tomaram a primeira dose, com quase 4 milhões. Seguiram-se a Índia (2,9 milhões), o Paquistão e a Indonésia (1,2 milhões cada) e a Etiópia (1,1 milhões).

Os níveis mundiais de cobertura da segunda dose das vacinas contra o sarampo são ainda mais alarmantes. Dos 20 principais países com o maior número de crianças não vacinadas em 2017, 9 não introduziram a segunda dose. Vinte países da África subsaariana não introduziram a segunda dose necessária no calendário nacional de vacinação, colocando mais de 17 milhões de crianças por ano em maior risco de sarampo durante a infância.